Cara a cara com a liberdade criativa: conheça a nova rede que é refúgio dos artistas

Atualizado em: 19/07/2024

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As notícias recentes de que a Meta está usando nossas postagens públicas para treinar seus modelos de Inteligência Artificial (IA) deixaram muitos de nós preocupados, especialmente os artistas.

Sério, imagine ser um artista neste mundo cada vez mais movido pela IA.

Se você é um, talvez se sinta um pouco desconfortável com alguns avanços da IA. Não porque você acha que a Inteligência Artificial vai te substituir, mas porque pode temer duas coisas principalmente:

  • A IA roubar sua propriedade intelectual para gerar novas artes.
  • As pessoas não reconhecerem o valor e a originalidade do seu trabalho por acreditarem que podem gerar qualquer peça criativa com IA.

Essas são preocupações genuínas, e por elas e outras, muitos artistas decidiram abandonar as plataformas de mídia social da Meta, como Instagram e Facebook. 

Mas se ainda precisam compartilhar sua arte e se conectar, existe um caminho alternativo?

Aparentemente, existe, e se chama “Cara“. Neste post, responderei à maioria das perguntas que você possa ter sobre a plataforma. Bora?!

    O que é Cara?

    “Cara é uma rede social e portfólio para artistas.” (tradução livre) Direto ao ponto, né? É assim que eles se definem na página de descrição da Cara.

    Em resposta à disseminação da IA generativa, a Cara visa filtrar imagens geradas por IA, proporcionando um espaço onde a criatividade humana genuína pode ser facilmente encontrada e apreciada.

    A plataforma (em Beta) se posiciona sobre as preocupações éticas das ferramentas de IA atuais, defendendo uma regulamentação para proteger os direitos dos artistas. 

    A fundadora e todo o time é contra o uso não consensual de obras de arte encontradas nos portfólios para treinar modelos de IA.

    Eles também garantem que o conteúdo gerado por IA, se permitido em algum momento, será claramente rotulado.

    Quem é a fundadora e a equipe da Cara?

    A fundadora é uma mulher incrível chamada Jingna Zhang, que se formou na Escola de Negócios da Universidade de Stanford e está na indústria da arte há 20 anos.

    Ela acredita que a Cara é o novo lar para artistas já que grandes empresas os deixaram à deriva.

    A equipe é composta por voluntários como Katie Borisov, uma engenheira de produção sênior, e Jake RT, um estudante de PhD e engenheiro full stack.

    Os voluntários afirmam se dedicarem a fomentar uma comunidade que respeita e prioriza o fator humano na arte.

    Como é essa nova rede social?

    “É como se o X (antigo Twitter) e o Instagram tivessem um bebê”, li isso em um dos fóruns do Reddit e é provavelmente a melhor descrição da interface da Cara até agora.

    Quando você abre o aplicativo, vê imediatamente uma caixa que diz “O que está acontecendo?” com um limite de 5000 caracteres. 

    Abaixo, há o feed onde aparecem fotos e vídeos de outros artistas depois que você os segue.

    Cara Home

    Página inicial do app Cara

    No lado direito, há algumas seções (tradução livre):

    • Últimas discussões;
    • Papo aberto — onde as pessoas compartilham pensamentos e outros podem interagir;
    • Mais recentes — hashtags em tendência, e
    • Categorias de obras de arte. 

    O menu superior inclui opções como acesso ao blog da Cara. O blog ainda não é popular, com baixo tráfego e postagens curtas, mas é atualizado regularmente. Os tópicos discutidos incluem eventos, novos recursos da plataforma, informações sobre solução de problemas e até uma seleção de trabalhos da comunidade Cara.

    Há também uma listagem de empregos, para ajudar artistas a encontrarem oportunidades de trabalho, e um botão “Compre um café para Cara” para doações, a partir de $5.

    O que a Cara representa para os artistas?

    Imagine uma ilha mágica onde a IA não pode tocar sua arte — sem risco de ser roubado, apenas deixando fluir sua criatividade pura e protegida. É isso que Cara pretende ser!

    É uma plataforma de mídia social pensada para artistas que estão cansados das artimanhas de IA da Meta. A Cara cresceu num piscar de olhos, saltando de 40.000 para 650.000 usuários em uma semana porque os artistas já não aguentavam mais.

    Na Cara, você pode compartilhar suas obras-primas sem medo delas serem roubadas para alimentar uma máquina. É como se o Instagram e o X tivessem um bebê, mas o bebê respeita seus direitos autorais.

    Então, o que Cara significa para os artistas? Para muitos, significa liberdade, respeito e uma comunidade que os entende.

    Opinião de um especialista

    Perguntei ao Tiago Belotte, fundador do CoolHow Lab e especialista em IA, sua opinião sobre a Cara, e ele compartilhou:

    Tiago Belotte

    “O app Cara é, sem dúvida, uma ótima opção para artistas e criativos em geral que não querem que seu trabalho seja usado para treinar IA. Especialmente em um momento como este, quando a maior parte do mundo não tem uma legislação específica protegendo direitos autorais. Além disso, não há transparência das plataformas sobre qual conteúdo foi, está sendo e será usado para treinar sistemas de IA. A adoção em massa de Cara e outros novos aplicativos como Noplace, que é a sensação nos EUA ultimamente, reflete a importância de considerar as opiniões das pessoas sobre um tópico que impacta tão significativamente nossas vidas e trabalho.”

    Como a Cara protege as obras de arte?

    Cara adiciona tags “NoAI” automaticamente a todas as obras de arte carregadas na plataforma. Eles comparam isso a um cadeado para impedir os caras maus (mineradores de dados) de entrarem.

    Mas o time da Cara também alerta que alguns visitantes indesejados mais experientes podem conseguir entrar, independentemente do cadeado. Eles veem isso como um primeiro passo na proteção da privacidade dos artistas, mas não a solução definitiva.

    Com a parceria de Cara com o projeto Glaze da Universidade de Chicago, sua arte ganha um escudo extra contra a extração de IA.

    Como o Glaze funciona no Cara app?

    Imagine sua obra de arte vestindo uma capa de invisibilidade contra os mineradores de dados — isso é o Glaze em ação

    Glaze é uma ferramenta projetada para impedir que modelos de IA generativa imitem o estilo único de um artista.

    Ao alterar sutilmente sua obra de arte, o Glaze torna super difícil para a IA replicar seu estilo. 

    Glaze em ação no Cara app
    Glaze em ação

    Quais são os prós e contras da Cara?

    Admito, baixei o app apenas para dar uma olhada por enquanto e compartilhar minhas impressões com vocês. Além disso, li alguns fóruns no Reddit sobre a plataforma. Aqui está um compilado sobre os prós e contras de Cara:

    Prós

    • Artistas pequenos podem se sentir mais acolhidos, já que o app não favorece apenas os artistas populares e já estabelecidos.
    • A arte gerada por IA não ofuscará a arte feita por humanos.
    • A plataforma inclui ferramentas especificamente projetadas para artistas, como hospedagem de portfólio, feeds personalizados e detecção/filtragem automática de imagens geradas por IA.
    • O layout da plataforma é simples e direto. É fácil encontrar informações.
    • Ao fazer parceria com o projeto Glaze, Cara oferece proteção adicional contra imitações feitas por IA, ajudando os artistas a preservarem seus estilos únicos.
    • O compromisso de Cara com práticas éticas no uso de IA e privacidade de dados ressoa com os artistas preocupados com o uso indevido de seu trabalho.
    • Está apenas no começo, mas já tem um número considerável de usuários e recursos interessantes, mostrando potencial para o futuro próximo.

    Contras

    • Pode segregar os artistas e mantê-los afastados dos clientes, que provavelmente não estarão nesta rede social; ao contrário do Instagram, onde os artistas têm mais oportunidades de alcançar e interagir com o público em geral.
    • Em um dos fóruns do Reddit, um usuário afirmou: “Acabei de conferir e realmente acho legal que a página de exploração deles mostra um monte de postagens com apenas alguns likes, feitas por criadores com um pequeno número de seguidores. […] Mas estou realmente curioso sobre as perspectivas de negócios através do Cara. […] Se a comunidade é toda de artistas, quem está pagando pelo trabalho?” (Tradução livre)
    • Você pode ver algumas bolas de poeira rolando, já que ainda está um pouco vazio por lá se comparado a outras redes sociais.
    • Alguns usuários afirmam que pode não parecer uma rede social, mas sim como o ArtStation.
    • A plataforma apresenta erro com frequência. Tive que recarregar a página algumas vezes em 30 minutos de uso.
    • Como uma das principais preocupações dos artistas é a extração de conteúdo por IA, alguns estão céticos se as medidas de Cara realmente protegem seus trabalhos ou se a plataforma pode ser facilmente invadida.
    Uma postagem no Cara
    Uma postagem na rede social Cara “Artistas de OC e entusiastas, unam-se! Estou a procura de outros artistas em OC para seguir então pensei em fazer um tipo de postagem de apoio a artistas […]”

    Há algo suspeito na política de privacidade?

    Eu li a política de privacidade da Cara de ponta a ponta e não encontrei nada muito suspeito, mas aqui estão alguns destaques importantes para ajudar você a decidir se quer criar uma conta:

    • Não coletam automaticamente informações pessoais: Nenhuma informação pessoal identificável é coletada automaticamente. Preste atenção à palavra “automaticamente” porque, mais adiante no texto, eles mencionam que podem coletar algumas informações pessoais (como seu nome e e-mail) com seu consentimento por meio de formulários e pesquisas para melhorar o produto.
    • Responsabilidade do usuário: Você é responsável pelas informações pessoais que decide compartilhar.
    • Não vendem informações pessoais: Eles prometem nunca vender suas informações pessoais identificáveis a terceiros.
    • Privacidade de crianças: O Cara solicita explicitamente que pessoas com 16 anos ou menos não enviem nenhuma informação pessoal, e qualquer informação desse tipo será deletada.
    • Informações não pessoais: Informações não pessoais, como o navegador usado, endereço IP, contas que você conecta e tipos de interações que você tem, podem ser coletadas para “melhorar sua experiência online” (eles repetem isso várias vezes).
    • Cookies: Eles usam cookies para salvar preferências e senhas, e para coletar informações processadas pelo Google Analytics, para poderem ver o número de sessões, localizações dos usuários e outras informações que podem ajudá-los a melhorar o site. Você pode rejeitar os cookies a qualquer momento.
    • Atualizações: A política de privacidade foi atualizada pela última vez em 2 de janeiro de 2023 e pode ser atualizada a qualquer momento. “Você deve, portanto, visitar periodicamente esta página para revisar a Política de Privacidade Online vigente à qual você está vinculado.”
    • Opt-Out: Os usuários podem optar por não receber comunicações da Cara e podem solicitar a exclusão de suas contas e dados pessoais.

    Uma teoria da conspiração?

    Alguns usuários temem que a Cara ainda não permita trabalhos gerados por IA porque, na verdade, estão tentando coletar obras de arte humanas de alta qualidade para treinar sua própria IA.

    Esse tipo de teoria da conspiração não faz sentido, já que Jingna, a própria fundadora, se juntou em 2023 ao processo contra a Stability AI, DeviantArt, Midjourney e Runway por explorar o trabalho dos artistas.

    Agora, a fundadora da Cara está processando o Google pelo mesmo motivo, junto com outros artistas.

    Reflexões finais: o futuro da arte em um mundo movido pela IA

    Enquanto navegamos neste mundo movido por IA, é importante pensar nas implicações de usar o trabalho dos artistas sem permissão. O app Cara é um exemplo brilhante de como podemos preservar a criatividade genuína nesse momento.

    Imagine um mundo onde cada peça única de arte está em risco de ser copiada por máquinas. Para os artistas, isso não é apenas uma preocupação — é uma ameaça real à sua expressão criativa. Mas mesmo que você não seja um artista, não deveríamos todos nos preocupar um pouco com isso?

    A IA trouxe avanços incríveis, mas também levanta sérias questões éticas. Se permitirmos que ela aprenda e imite a criatividade humana sem consentimento, corremos o risco de perder o que torna a arte tão especial.

    Não se trata apenas de proteger os empregos dos artistas; trata-se de preservar a alma da criatividade.

    Cara oferece um vislumbre de um futuro onde a tecnologia e a arte humana podem coexistir pacificamente. 

    É um convite para todos pensarmos sobre o papel da IA em nossas vidas e os valores que queremos abraçar.

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