O equilíbrio, popularmente conhecido como caminho do meio, é um conceito da saúde, economia e — por que não? — da tecnologia. Conforme avançam o uso e a integração da tecnologia na vida diária, por meio de smartphones e dispositivos, aparece um novo efeito colateral: um mal-estar tecnológico. E esse mal-estar pode afastar usuários e clientes de sua marca ou empresa.
E aí surge o conceito de bem-estar digital. Uma relação entre a atividade online e a percepção de seus efeitos em cada pessoa. Balanço entre vida e tecnologia: conceitos que já não se separam, avaliados subjetivamente, de acordo com os contextos e condições de uso.
Como alcançar o equilíbrio entre vida e tecnologia?
O último estudo do Google a respeito do assunto, também chamado bem-estar digital, pesquisou nove mil pessoas em seis países da Europa entre 16 e 74 anos, em 2019. Para se ter uma ideia, segundo o sumário “De forma geral, as pessoas pensam que a tecnologia é neutra ou positiva no seu bem-estar”. Mas existe uma relação interessante entre a frequência de uma atividade e o seu impacto na sensação.
O resultado revela que o público gastou mais tempo com atividades que percebe como negativas para o bem-estar digital. Segundo o estudo, as mais danosas são: checar notificações, navegar passivamente pela mídia social, buscar conteúdo antes de dormir, usar mecanismos de buscas, enviar mensagens, comunicar-se por email ou calls, navegar, usar mídia social, usar seus dispositivos enquanto conversa e assistir a vídeos.
As principais medidas tomadas pelos usuários para alcançar o equilíbrio foram:
- deletar apps;
- alterar as notificações;
- reduzir o tempo de uso do smartphone.
As marcas, por sua vez, para evitar que seus aplicativos acabem desinstalados, precisam garantir três pontos básicos, segundo o Google:
- utilidade: fazer com que cada parte da experiência digital seja útil. Encorajar o uso moderado também é uma boa política;
- controle: oferecer aos consumidores opções para melhorar suas experiências por meio das configurações padrão e ferramentas de avaliação de uso que dão apoio ao seu bem-estar;
- equilíbrio: ajudar seus usuários a entenderem como usar o produto de forma equilibrada.
Sair do smartphone é possível?
Para garantir a sanidade mental dos usuários, o movimento pelo bem-estar digital advoga o controle do tempo gasto com todo tipo de tecnologia, seja na web ou nos smartphones: tudo para aumentar o foco e a atenção, bem como a produtividade.
As estratégias tentam estabelecer limites para o uso e, assim, garantir espaço para que o descanso e o lazer existam. Afinal, precisamos do sono e de espaços neutros para processar tudo o que acontece na vida — seja ela tecnológica ou biológica. Isso exige tempo, educação e alguma disciplina.
Estratégias para garantir isso:
- toque de recolher: a tela azul dos celulares impede a produção de cortisol e destrói melanina, a proteína que garante o sono. Para evitar a insônia, uma medida eficiente é deixar o smartphone de lado uns 30 minutos antes de se deitar;
- filtro de luz azul: não é tão eficiente, mas os filtros estão disponíveis em todos os sistemas e ajudam a evitar o problema com os sistemas hormonais;
- usar a tela cinza: segundo Tristan Harris, designer, isso reduz o ciclo de feedback e o efeito de retroalimentação, tornando o telefone menos atrativo. Essa estratégia é, inclusive, adotada pelo Android quando o período de descanso é ativado;
- mudar de aparelho: alguns propõem como solução usar telefones antigos, que não têm WhatsApp, por exemplo. Mas uma boa coisa é ler no Kindle (ou no livro físico), sem as interrupções que os smartphones causam;
- bem-estar digital, o sistema: no Android (a partir da versão 9) já existe o bem-estar digital nativo. O sistema mostra o tempo nos principais aplicativos, notificações no período e permite estabelecer metas, modo de foco e descanso, tudo em um só menu. No modo foco, inclusive, há a definição de períodos de trabalho, pessoais e a possibilidade de configurar outros.
O gestor em cena para mais produtividade com menos celular
Com tantas ferramentas à disposição, é possível, sim, melhorar a qualidade do trabalho e seu resultado — com enormes vantagens para as empresas. O estresse e o esgotamento, também chamado de burnout, reduzem muito a potência das pessoas. Não é à toa que o mindfulness, termo em inglês para atenção plena, ocupou o espaço dos negócios com força, sendo incentivado em todas as grandes corporações.
Para os gestores, é importante ter em mente que seres humanos precisam sempre cuidar do estilo de vida. Manter uma rotina organizada, com horários, pausas, alimentação balanceada, tempo suficiente de sono e descanso são a grande base. E o avanço da tecnologia e das fontes de distração — notícias, notificações, o ritmo acelerado dos negócios — cria enormes pressões sobre todos.
Estudo da Gallup, publicado em 2018, alerta para o esgotamento e seus efeitos corporativos. Entre os 7500 funcionários em período integral, 23% se sentem esgotados com muita frequência ou sempre, enquanto 44% sofrem com esgotamento ocasional. Resumo: um terço dos trabalhadores sofrem desgastes fortes no trabalho. No Japão, inclusive, já foram registradas mortes súbitas por excesso de trabalho, a “karoshi”.
Segundo a Harvard Business Review, é um erro tratar o Burnout como uma questão pessoal ou de gerenciamento de talentos. O problema custa entre US$ 125 bilhões e US$ 190 bilhões por ano nos Estados Unidos em tratamentos de saúde, mas o custo para os negócios é maior, porque ele reduz a produtividade, aumenta o turnover e desperdiça talentos.
No estudo, publicado no livro Time, talent and energy, os responsáveis são exigências excessivas, pouco gerenciamento de tempo, sobrecarga dos colaboradores mais capazes. Isso não só impede a concentração em tarefas complexas ou criação como também reduz o tempo de descanso necessário.
Para se ter uma ideia da importância da satisfação e realização dos funcionários, a chamada “experiência de funcionário”, uma pesquisa do MIT mostrou que quanto melhor o desenho, maior a inovação, a satisfação do cliente e os lucros.
Leia também Falta de senso de urgência nas empresas é um obstáculo para desenvolver uma mentalidade digital |
Bem-estar digital leva a bons negócios
Construir esse ambiente é uma tarefa complexa inclusive para micro e pequenas empresas. Nas grandes multinacionais, envolve, além de sistemas, processos e plataformas, coleta e tratamento de grandes volumes de dados. A tecnologia está aí, disponível. Cabe aos gestores, colaboradores e usuários definir limites, usos e qual a melhor combinação para garantir o bem-estar — e o lucro.
Para além das grandes questões organizacionais, há uma lição a ser aprendida por todos os trabalhadores e usuários no contexto do uso de tecnologias: quem define limites e fronteiras são os humanos.
Saber priorizar é, hoje, o ponto mais importante. O que é normal — e tende a se resolver sozinho, sem nenhuma ação —, o que é importante — e precisa da sua atenção em algum momento — e o que é urgente — e requer parar tudo? Como lidar com mais de 200 emails por dia na sua caixa de entrada?
Cabe aos gestores, em conjunto com sua equipe e usando os melhores estudos, estabelecer processos que garantam o sucesso de todos. Lembrando o estudo do MIT sobre o assunto: empresas que estabelecem um bom processo e garantem a experiência dos funcionários — que desejam carreiras, propósito e um trabalho com significado — conseguem 25% a mais de lucro que as organizações do quartil anterior. Um quarto a mais em lucro. Vale a pena investir no assunto.
Humanidade tecnológica, uma descoberta em transformação
O uso de tecnologias — que permitem conexão, trabalho a distância, eficiência e mais informação em todos os campos de conhecimento — tem que ser profundamente integrado com a realidade humana. Sabemos que seres humanos precisam de descanso, pausas e distração para funcionar.
Organismos complexos que somos, pedimos cuidados. Partir dessa complexidade para criar usos e processos pode ser uma chave de sucesso para garantir o bem-estar digital dentro de sua empresa e o sucesso nos negócios.
Para continuar na discussão, leia nosso conteúdo sobre singletasking, escrito pela nossa colunista Angelica Mari.
CONTEÚDO CRIADO POR HUMANOS
Encontre os melhores freelancers de conteúdo no WriterAccess.
CONTEÚDO CRIADO POR HUMANOS
Encontre os melhores freelancers de conteúdo em WriterAccess.