Prefácio
O Universo do Marketing é um ambiente absolutamente extenso, muitos exploradores acreditam que a sua vastidão seja infinita.
Dentro desse Universo, existem diversos mundos e métodos diferentes e, um deles, o Outbound, sofreu um drástico impacto em meados de 2015, um passado muito distante onde acompanharemos essa história.
Desde o surgimento da publicidade Universal, o Outbound foi o grande pilar das propagandas e do Marketing. Foram poucos planetas que não se submeteram a ele, como: Marte e o seu poderoso boca a boca, Betelgeuse e o Marketing de Realidade Virtual — que só ganhou força na Terra em 2025 —, entre outros planetas, especialmente os localizados na Galáxia Redemoinho, próximo a Estrutura X.
Essa história não é sobre nenhum desses tipos de Marketing, mas diz respeito ao Inbound e como ele ganhou força em países emergentes, como o Brasil, naquela peculiar terça-feira, onde o Outbound sofreu um drástico impacto. Ao contrário do que muitos pensam, o Inbound não foi criado pelos humanos, mas sim pelos gatos.
Em meados do século V depois de Cristo, Australopitecos, um gato muito esperto, observou que o seu companheiro de quarto, o cachorro Sebastian, utilizava um método odioso para pedir comida para Ludwin Van Freudrich, o dono dos animais.
Australopitecos observou que o cão tinha um método muito invasivo, ficava latindo na orelha do dono e arranhando a sua perna. Uma técnica muito semelhante ao Outbound. Piteco — apelido carinhoso do gato — observou que o método era pouco eficiente e criou a sua fórmula. Observava o dono à distância com um olhar profundo e vazio, passados 3 minutos (no máximo) o gato já estava se deliciando com tiras de bacon.
Essa história é também sobre um livro, O Guia do Marketeiro das Galáxias. Apesar de só ter sido publicado no ano 2138, uma cópia surgiu com um homem escolhido, que foi ao futuro e voltou com o livro para adaptar algumas informações equivocadas a respeito de outdoors.
O livro foi um fenômeno intergaláctico e é o 4º livro mais vendido da história do Universo, perdendo apenas para “Laika nos Confins do Universo”, escrito pelo Marciano J’onn J’onzz; “Sou Planeta se eu quiser” de Plutão; e — pasme — “Cinquenta tons de Cinza” livro que se popularizou no Universo em planetas que queriam estudar o atrasado comportamento humano. E acabou por nos salvar de diversas invasões, afinal os extraterrestres julgavam “não valer à pena”.
Na sua capa, escrito com letras garrafais está a frase: APLAUDA PARA ABRIR — esses aplausos alimentariam para a eternidade o ego dos publicitários e marqueteiros que se dedicaram à sua escrita.
E a história daquela peculiar terça-feira começou com um Outdoor.
Capítulo 1
O outdoor ficava ao lado da principal e mais movimentada praça de uma grande cidade localizada no Brasil — por motivos de segurança não podemos revelar o nome dessa cidade, apenas as suas inicias: BH.
Aquele outdoor estava lá há mais de 47 anos e 2 meses, mas, naquela semana específica, ele era mais especial do que nunca. Pelo menos para Arthur Douglas. Um sujeito confiante, alto, moreno e com cerca de 25 anos de idade — extremamente velho para não ter nenhum Leão de Cannes (o Oscar da publicidade) em sua estante. Mas naquele outdoor jazia o seu grande trunfo, talvez a melhor campanha idealizada por ele desde o seu ingresso no mercado.
Ele caminhava compenetrado apreciando o seu outdoor sem se importar com nada que estava à sua volta. Não fosse a invenção de Wilford Buzina em 1911, essa história terminaria aqui. Ao ouvir o som, Arthur se assustou e, ao perceber que estava no meio da rua, apressou o passo para não ser atropelado. Arthur ficou 15 anos sem reclamar de uma buzina depois desse episódio.
Ao chegar em segurança à calçada, voltou a apreciar a sua obra. Em cima do outdoor estava um homem com um colete laranja. Arthur estranhou, mas seguiu a sua rotina. Entrou na sua cafeteria preferida.
Cumprimento. Café. Quente. Splash. Outro café, com dois copos.
“Laranja” pensou Arthur enquanto soprava os seus dedos. Apesar de o seu raciocínio lógico levá-lo a crer que o homem estava limpando o seu outdoor, ele estava preocupado. Alguma coisa incomodava o marketeiro.
Talvez fosse a cor laranja. Arthur nunca simpatizou muito com a união do amarelo com o vermelho, embora achasse que separados funcionassem muito bem. “É isso! O laranja está destoando do meu belo outdoor”.
Tomou alguns goles de seu café e observou novamente a sua peça. Foi aí que ele entendeu o que estava acontecendo. Percebeu que o 1/25 (um vinte e cinco avos) do seu outdoor havia sido removido — com uma margem de erro de 2/37 (dois trinta e sete avos) para mais ou para menos.
10 segundos depois, antes que o café que largou no ar alcançasse o chão, Arthur estava abraçado com o poste do outdoor.
Capítulo 2
— Desista Sr. Douglas. O outdoor será removido. — disse Robertson.
Robertson era um homem normal e não precisa ser muito descrito, pois não terá absolutamente nenhuma relevância para a história. Após esse episódio ele não aparecerá mais. Caso você esteja curioso em relação ao seu futuro, ele se casou com uma cozinheira, tiveram 2 filhos e Robertson faleceu aos 53 anos após cair de um outdoor.
— Não importa o que você diga. Eu vou ficar abraçado com esse poste até que o sol se ponha no Oeste.
Mal sabia Arthur que estava abraçado justamente no ponto U do poste, onde Ariovander, um morador de rua das redondezas gostava de brincar de tiro ao alvo com a sua urina. Arthur estava tão irritado com a situação que nem percebeu o odor que adentrava suas narinas.
— Infelizmente você vai ter que aceitar! — disse Robertson.
— De jeito nenhum. Nada me tira daqui.
— Você sabe que eu posso continuar retirando a imagem enquanto você está aí abraçado, né!?
Nesse momento, Arthur percebeu o nível de imbecilidade da sua atitude. Era o desespero para evitar que a sua genial peça fosse removida. E a peça era realmente genial. Um novo conceito.
Nunca antes uma propaganda de smartphone havia apresentado tamanha criatividade e ousadia. Eram tantos elementos incríveis e distintos, e ao mesmo tempo com uma harmonia de deixar qualquer orquestra com inveja. A princesa então… era uma sacada genial.
— Você poderia pelo menos descer aqui e me explicar por que você está fazendo essa atrocidade com esse patrimônio social?
— Aff. — suspirou Robertson enquanto descia. — Sr. Douglas, você não recebeu a carta de remoção da peça? Ela rendeu um grande problema.
— Carta? — Gritou. — Quem lê cartas? Nós estamos em pleno 2015. Por que você não ligou no meu telefone fixo ou enviou um telegrama? — Ironizou Arthur.
— O senhor teve o devido tempo para efetuar as mudanças necessárias, como estava escrito na carta.
Arthur não se conformava. Só ficara sabendo desse infortúnio quando 1/25 (um vinte e cinco avos) do seu outdoor já havia sido removido — com a margem de erro, claro. “Quem usa cartas?” ele se perguntava, “é como alugar filme em locadoras ou usar telefone fixo. São coisas tão obsoletas”.
— Enfim, Sr. Douglas, a empresa contratante recebeu diversas reclamações, e o Procon está cheio de denúncias por conta da sua peça.
— Mas por quê?
— Como por quê? A nave espacial.
— Que que tem a nave? É a grande sacada da peça!
Era difícil afirmar se a nave era realmente a grande sacada da peça. O tentáculo de polvo também era um elemento de genialidade ímpar. Isso sem esquecer da princesa.
— Pois é, mas ela não está inclusa no produto. E não existe nada na peça que afirme isso.
— (Palavrão). Você está de brincadeira comigo né!? Quem achou que a nave estava inclusa?
— Até ontem foram registradas 1.355 queixas. — Arthur arregalou os olhos — e também, pelo preço do produto… dava pra acreditar né!?
Por alguns instantes, Arthur ficou imóvel e sem palavras, com os olhos esbugalhados. Aquilo não fazia qualquer sentido. Era como se o seu Leão de Cannes (o Nobel da publicidade) fosse abduzido por aquela nave. Aquela genial e pontual nave. Mas Arthur pensou em um bom argumento.
— E como eu saberia que tinha que falar que a nave não estava inclusa no produto?
— Uai, tá no Conar.
— Conar? Quem lê o Conar? — perguntou indignado — Em qual capítulo tá isso?
— Na verdade, é um asterisco de um subtópico que fica localizado no rodapé de uma página. Mas tá lá! Como publicitário, você devia ler o Conar.
— Eu tenho coisas mais importantes para ler.
— Bom, essa coisas não vão salvar sua peça agora. — disse Robertson com tranquilidade.
A calma que ele falava conseguia gerar ainda mais raiva em Arthur. Como ele poderia estar tão tranquilo naquela situação de vida ou morte?
— Uai! Mas não precisam ser coisas que existem? Ninguém reclamou do produto vir sem uma princesa! — “Rá!” Pensou. “Segura esse argumento”.
— Sr., ninguém acredita em princesas.
— O quê? E acreditam em naves espaciais?
— Você acha que toda a área 51 foi criada à toa? Todo mundo acredita em discos voadores.
***
Por uma coincidência daquelas difíceis de se explicar, Arthur tinha um amigo que acreditava em disco voadores. Esse amigo era um exemplar de homo sapiens um tanto quanto… peculiar.
Era alto, mas não tão alto a ponto de chamar atenção, moreno e com um jeito desengonçado de andar. Parecia um homem normal, mas o seu jeito e as suas ideias não deixavam enganar. Era um sujeito à frente do seu tempo.
Ele era do futuro. Não nascido no futuro, mas tinha ido para o futuro e retornado para os dias atuais com uma missão. Pecanha não sabia explicar muito bem como havia parado lá, entrou em um avião para passar um tempo no San Francisco Valley e, quando chegou lá, percebeu que estava no futuro.
As empresas trabalhavam em comunidade, uma auxiliando as outras a crescer; as pessoas se divertiam enquanto trabalhavam; haviam puffs e redes para o cochilo pós-almoço; a internet nunca caía e não tinha lixo no chão.
Eram muitos avanços. Isso sem falar em objetos incríveis como o apontador elétrico, standing desk — que permite que apessoa trabalhe e faça esteira ao mesmo tempo — e o que mais impactou a vida de Pecanha: o queijo cheddar em spray.
Pecanha começou a adotar alguns comportamentos estranhos depois de retornar do futuro. Primeiro, mudou o seu nome, alegando que no futuro não existia cê-cedilha. Depois pediu demissão da agência em que trabalhava há 4 anos com o seu amigo Arthur, alegando que “o melhor tipo de marketing é o que não parece marketing”.
Depois disso, começou a frequentar grandes festas publicitárias apenas para tirar sarro com os grandes nomes da área. “Quantos clientes esse seu Leão (o Grammy da publicidade) gerou?” ou “que bonito seu comercial! Converteu muitas leads?”. Depois disso ele disparava a rir e se retirava para curtir o open bar das festas.
Arthur não acreditava em toda essa história de futuro. Pecanha sempre fora um cara excêntrico e, para ele, a viagem só havia mexido com a cabeça do amigo.
Ele não sabia, mas, na verdade, Pecanha havia recebido uma missão no futuro. Ele precisava editar o fabuloso livro chamado O Guia do Marketeiro das Galáxias com informações do passado.
***
— Olha, eu vou subir lá e colar tudo o que você já tirou do meu outdoor de volta. Absurdo, arrancou quase metade da minha obra — era difícil calcular que fora apenas 1/25 (um vinte e cinco avos) a olho nu.
Quando Arthur começou a subir as escadas para o topo do outdoor, sentiu uma mão agarrando-lhe o tornozelo direito. Gênio que era, logo pensou “vou cair e fingir que me machuquei, aí, pra não precisarem pagar a indenização, eles deixam a peça em paz”. A mão quase não havia feito força, mas Arthur largou a escada e se espatifou no chão. Por sorte a queda doeu de verdade. Sorte, porque Arthur era um péssimo ator.
— Você tá maluco, Robertson? — gritou deitado no chão. Uma sombra pairou sobre o seu rosto.
— Oi Arthur! — disse a sombra.
Arthur olhou para cima e ficou bastante surpreso ao se deparar com o simpático rosto de Pecanha.
— Você tá doido cara? Eu mal te encostei. — disse Pecanha. Arthur arregalou e se lamentou. A queda foi a segunda pior ideia que Arthur teve durante a sua vida. A primeira vocês logo saberão, porque ainda está por vir nessa história.
— Oi Pecanha. Tudo bom? — disse enquanto lamentava com uma absurda dor na região lombar.
— Eu tô bem. — Respondeu Pecanha — Escuta, você tá ocupado?
— Se eu estou ocupado? — perguntou com veemência — Olha ali! Esse sujeito impertinente já tirou metade do meu outdoor e está querendo tirar mais.
— Hmm… — suspirou Pecanha — Do meu ponto de vista parece apenas 1/25 (um vinte e cinco avos). — Ninguém nunca soube responder se Pecanha tinha um olhar biônico ou se havia sido apenas um palpite de sorte.
Arthur se limitou a lançar um olhar de indignação para Pecanha.
— Enfim, onde podemos conversar? — perguntou tranquilo.
— O quê? — exclamou Arthur Douglas.
— É, uai. Precisamos conversar.
— Você tem noção que esse homem está retirando o meu outdoor? A minha chance de ganhar um Leão (a Bola de Ouro da publicidade)!
— Uai, e ele precisa de você para fazer isso? — A voz de Pecanha era sutil.
— Eu não quero que ele faça isso!
Enquanto eles discutiam, Robertson já estava no topo retirando o outdoor. Pecanha estava bastante apreensivo, apesar de não demonstrar. Ele sabia que naquela fatídica terça-feira o mundo do Outbound mudaria para sempre. Aquele outdoor seria algo tão obsoleto. Mas Pecanha também sabia, apesar de não entender, que os seres humanos eram apegados a coisas obsoletas.
Em pleno 2015 ainda utilizavam telefone fixo, e o pior, utilizavam relógios de pulso, sendo que 98% das pessoas olham as horas em seus celulares. Os outros 2% foram assaltados e o ladrão não viu utilidade para o relógio.
— Olha, esse outdoor será o menor dos seus problemas. Eu preciso te apresentar o Inbound! — disse Pecanha — Não há mais nada que você possa fazer. Precisamos conversar! E beber… precisamos beber!
Capítulo 3
Eis aqui o que o Guia do Marketeiro das Galáxias diz sobre o álcool: é um líquido volátil e incolor formado pela fermentação dos açúcares. É um dos melhores amigos do marketeiro, o álcool é o cachorro engarrafado.
O álcool tem o poder de levar um marketeiro a criar as melhores ou piores campanhas. Diz também que ele tem o poder de inebriar as pessoas. Depois o Guia oferece a receita do melhor drink que existe, a “Tempestade Cerebral de Ideias Improváveis”. Uma bebida comumente utilizada por publicitários que fariam campanhas para os seus melhores clientes e precisavam de ideias improváveis. Uma bebida que já levou muitos publicitários ao Leão de Cannes e muitos outros à falência.
Pegue uma garrafa da bebida Everclear.
Misture com um dose de água filtrada do mar morto e adicione a pimenta Trinidad Scorpion Butch T a bel prazer.
Deixe dormir uma noite sob a lua cheia — luas minguantes transformam a bebida em um poderoso veneno de golfinhos — e no dia seguinte adicione um pouco de cheddar em spray — devido à falta desse ingrediente, nunca tivemos uma “Tempestade Cerebral de Ideias Improváveis” produzida no Brasil.
Acrescente uma azeitona e voilá!
O Guia recomenda apenas uma dose dessa bebida a cada 6 meses.
***
Estavam assentados frente a frente em uma mesa do Bar B.Z. Pecanha estava com a fisionomia tranquila, mas pensava focado na melhor e mais sutil forma de explicar o que estava acontecendo a Arthur. O outro, por sua vez, estava frustrado, pensando no seu outdoor que agora estava 37/43 (trinta e sete sobre quarenta e três avos) removido. Em pouco mais de 4 minutos que estavam no bar, Arthur já tinha bebido 3 canecas de cerveja.
— O Outbound vai explodir! — exclamou Pecanha pensando ter encontrado as palavras certas.
— Out o quê? — perguntou o chateado Arthur.
— Outbound cara. O tipo de publicidade que você faz e eu fazia, antes de ir para o futuro.
— Pecanha, você está louco? Desde a sua viagem que você vem com esses papos estranhos de Inbound e Outbound. Mensurar, ROI, leads. Será que você poderia voltar pro mundo real?
Arthur não conseguia compreender o comportamento do seu amigo. Pecanha era um talentoso designer na agência onde ele trabalhava até largar tudo depois de retornar do “futuro”. Para ele o seu amigo estava louco. Mas Pecanha não estava louco. Talvez excessivamente excêntrico e um pouco exagerado, mas não louco. O ex-designer sabia que Arthur estava mais perdido que um site na terceira página do Google e queria ajudá-lo. E sabia que o Outbound estava para explodir.
Não foi bem uma explosão colossal e diferente do que Pecanha pensava, o Outbound não acabou, embora naquela peculiar terça-feira ele tenha sofrido um baita abalo. O mundo ainda não estava pronto para viver sem comerciais de televisão e nem com outdoors poluindo o nosso visual.
Pecanha viria a descobrir que, apesar de não ser a melhor forma de marketing, o Outbound não era de todo inútil, mas, naquele dia, ele não pensava assim.
— Arthur, você precisa entender que o Universo do Marketing está mudando. Por mais que a sua campanha “a Princesa, o polvo, a espaçonave e o Smartphone” fizesse grande sucesso, você nunca saberia quantos clientes isso levou para o seu contratante. E é isso que ele quer: vender! — disse Pecanha. As palavras saíram naturais e Arthur começou a entender um pouco a lógica do amigo, ainda assim, não se importava.
— Todo mundo vai falar da campanha! Todo mundo vai rir e chorar no comercial. E eu ganharei o meu Leão. O que você quer me oferecer que poderia superar isso?
— A oportunidade de inovar com um marketing que está bombando no futuro! — disse um sorridente Pecanha.
— E o que seria isso?
— Você iria realmente ajudar as pessoas. Vamos usar o marketing não para vender um produto, mas para solucionar uma dor do seu público.
Ao ouvir essas palavras, Arthur teve uma sensação estranha, um sentimento que nenhum publicitário jamais teve. “Ajudar as pessoas”, “solucionar uma dor do seu público”? Essas palavras nunca foram ditas unidas em uma frase dentro de uma agência publicitária.
— Não… não. Você está doido. Nada pode fazer o Outbound, seja lá o que isso for, estremecer. O mundo é assim! O marketing é assim!
O telefone de Arthur tocou naquele preciso momento. Era da Pensamento Profundo Publicidade e Propaganda ou PPPP, a agência em que Arthur era diretor de criação!
— A casa caiu! — disse desesperado Eduardo McMillian, membro da equipe de Arthur.
— O quê? Como assim? Respira!
— Tudo está desmoronando! Ninguém sabe o que fazer!!
— Cadê o chefe? Deixa eu falar com ele.
— Ele tá tentando apagar o incêndio!
Nesse momento veio à mente de Arthur a sua agência caindo tomada pelo fogo. Pessoas correndo desesperadas de um lado para o outro enquanto seu chefe era atingido por uma viga em chamas. Esse ultimo pensamento fez Arthur dar um leve sorriso, depois se espantar com essa reação.
— O que que tá acontecendo? — perguntou irritado.
— Nossas três maiores contas cancelaram! No mesmo dia! Em um intervalo de 15 minutos.
— Meu Deus! — O espanto era evidente em sua voz.
Arthur olhou com os olhos arregalados para Pecanha, que tomava um gole de chope tranquilamente. “Será que você estava certo? Não é possível”, perguntou Arthur mentalmente com o seu olhar. “Eu avisei!” respondeu Pecanha com sua fisionomia e um bigode de chope enquanto voltava a caneca para a mesa.
— Mas, por quê?
— Eles falaram algumas coisas sobre querer saber o retorno do investimento deles, quantos clientes nossas campanhas tinham gerado, essas coisas! Disseram que queriam mensurar resultados!
Pecanha pegou o telefone de Arthur e desligou. Encarou seu amigo, que não conseguia entender o que estava acontecendo. Pecanha disse para irem embora para enfim apresentá-lo ao Inbound. Arthur apenas concordou com a cabeça, sustentando um olhar vazio.
Pecanha abriu a mochila que sempre estava nas suas costas para pegar dinheiro para pagar os chopes. Na sua mochila havia uma toalha de banho e um livro, um livro bem diferente, com botões eletrônicos e saída de áudio. Parecia um Kindle mais elaborado e, na sua capa, com letras amistosas, estava a frase: APLAUDA PARA ABRIR — e para alimentar o ego dos marketeiros que escreveram. Esse incrível livro do futuro se tornaria a maior referência do universo do Marketing e Pecanha tinha a missão de adicionar algumas informações e corrigir dados incompletos a respeito de outdoors.
Ainda na sua mochila haviam algumas esferográficas e um bloquinho de post-its. Nenhum bom marketeiro andava sem um bloquinho de post-its.
O Guia do Marketeiro das Galáxias faz algumas afirmações a respeitos dos post-its.
Segundo ele o post-it é um dos objetos mais úteis para um marketeiro interestelar. Muito disso se deve ao seu valor psicológico. Se uma pessoa descobre que um marketeiro tem um bloco de post-its, logo deduz que ele é um sujeito extremamente organizado. Além disso, de cara infere que ele também possui uma caneta esferográfica, um mapa de ideias, um dicionário, um calendário, outra caneta — caso perca a primeira —, aspirinas, uma cópia do Conar, um moleskine, etc. etc.. Além disso, o publicitário que possua isso é visto como um cara que não esquece as suas ideias, ou seja, merece respeito.
Mas o grande valor dos post-its está na sua parte prática. Eles podem ser utilizados para guardar ideias e organizar a rotina dos marketeiros. Podem ser colados em toda a extensão do seu corpo para se cobrir em um noite fria e vazia de ideias e até camuflá-los em caso de perseguição pela polícia do Google. Eles são uma poderosa arma em combates também, afinal, basta colá-los na testa dos inimigos e eles estão cegos para o confronto. Como os publicitário costumam estar com a cabeça cheia de ideias, muitas vezes esquecem o caminho de casa, e os post-its podem servir para marcar o caminho de volta.
Sem dúvidas, um objeto indispensável.
***
— O que você faz quando não sabe o que fazer em alguma situação? — perguntou Pecanha ao saírem do bar.
— Uai, como assim?
— Você não sabe consertar uma cadeira. O que você faz?
— Ligo pro Zé! Meu amigo. Ele é carpinteiro.
— Ok. Vamos supor que ele não te atenda. O que você faz? — disse Pecanha levemente impaciente
— Nesse caso, eu olho no Google!
— Exatamente! — celebrou!
— Tá! Mas e daí?
— Daí você acha um blog chamado Super Madeiras e você lê um post que te ensina um passo a passo para arrumar sua cadeira. E pronto! Dá tudo certo.
Arthur ficou apenas balançando a cabeça sem saber onde Pecanha queria chegar com isso. Mas, como de costume, ele tinha um ponto.
— Um dia você vai comprar uma cadeira nova e encontra duas marcas como opção: Super Madeiras e Cadeiras do Marvin. Qual você escolheria? — já estava quase no ponto onde Pecanha queria chegar.
— Bom, acho que a Super Madeiras.
— Por que?
— Ah, porque eu não conheço a outra.
— E…?
— E a Super Madeiras já me ajudou uma vez.
— Bem-vindo ao Inbound! — concluiu Pecanha.
Arthur percebeu como era, realmente, uma estratégia fantástica. Ele ainda aprenderia muito sobre o Inbound, afinal, a explicação de Pecanha mal arranhara a superfície. E mesmo assim ele já estava, de certa forma, encantado. O amigo do futuro pediu que ele o acompanhasse até o seu escritório e, em meio à sua situação, Arthur não pôde negar.
Entrou no carro sem entender muito bem como Pecanha havia chamado o seu motorista, e nem desde quando o seu amigo tinha um motorista. Não fez muitas perguntas, apenas cumprimentou o Sr. Uber e foram.
Entrar naquele carro foi a segunda decisão mais sábia da vida de Arthur. Ainda veremos a primeira. Naquele dia ele conheceria um novo mundo, do qual ele nunca mais sairia. Ele estava pronto para a maior experiência da sua vida.
Quando chegou no escritório de Pecanha, não acreditou no que viu.
— Espero que você tenha trazido os seus post-its.
— O quê? — perguntou pausadamente, com olhos esbugalhados, por tudo o que via ao seu redor.
***
Final da parte 1
Para não perder nenhuma parte dessa história, assine a nossa Newsletter e acompanhe todas as aventuras dos dois Marketeiros das Galáxias.
Personagens novos, a polícia do Google, a Máfia das Redes Sociais, a pior decisão da vida de Arthur, entre outras novidades..
Não perca!
Não se esqueça de deixar nos comentários o que achou da parte 1.
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