Mumbuca, o dinheiro maricaense

População de Maricá, no Rio de Janeiro, se beneficia do dinheiro digital municipal

Atualizado em: 15/04/2021
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Embora as moedas virtuais já sejam uma realidade consolidada na economia moderna, essa alternativa ainda é uma prática pouco comum para a maioria dos negócios. Todavia, esse cenário vem ganhando novos contornos devido à crise provocada pela covid-19. Muitas transformações revolucionaram alguns comportamentos sociais, e as formas de consumo são um grande exemplo disso.

Diante de tantos empreendimentos sofrendo com a retração do mercado, esse talvez seja o momento oportuno para abraçar a inovação de uma moeda local para incentivar e fortalecer as comunidades. E o Brasil tem um bom exemplo para dar ao mundo: a mumbuca.

Sai o bitcoin, entra a mumbuca

A mumbuca é um tipo de moeda local que foi desenvolvida na cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, como parte do programa de renda básica. O Renda Básica da Cidadania (RBC) tem como objetivo financiar uma bolsa mensal e outros benefícios para os moradores.

Embora seja uma cidade do interior, Maricá concentra uma das reservas de petróleo mais produtivas do Brasil. E foi justamente essa receita que permitiu que o projeto fosse colocado em prática e a mumbuca se tornasse realidade.

O programa, que foi implementado desde o ano de 2013, atualmente, envolve mais de um quarto da população da cidade e representa um dos maiores experimentos de renda básica do mundo. De acordo com o Folha Vitória, somente no mês de maio de 2020, mais de 30 milhões de mumbucas circularam na cidade de Maricá, local onde a moeda é aceita.

Hoje, aproximadamente 6,6 mil comerciantes e prestadores de serviços estão cadastrados para receber a moeda social, o que fez dela a maior moeda local do país. A viabilidade desse plano teve como peça-chave a plataforma de pagamentos digitais e-DINHEIRO, que ajuda comunidades a circular suas próprias moedas.

Graças ao aplicativo, as pessoas conseguem transferir os seus créditos digitais e fazer compras de varejistas cadastrados a partir de smartphones. Além do mais, as contas de serviços públicos também podem ser quitadas com a mumbuca. Para quem não possui um smartphone, é possível acessar o serviço digitalizando seus cartões.

Outra característica interessante é que o e-DINHEIRO não roda em blockchain ou demais tecnologias de criptomoeda — as mumbucas são como reais, que valem apenas em Maricá, e só funcionam dentro do sistema de pagamentos digitais da plataforma.

Para os beneficiários do programa de renda básica, não existe a possibilidade trocá-los por reais. Já os empresários podem sacá-los após um prazo de 48 horas e com a incidência de uma taxa de 1% sobre o valor total do saque.

Benefícios da mumbuca

As moedas sociais cumprem um papel importante no desenvolvimento de comunidades. Com a mumbuca não é diferente — ela permite a criação de um mercado complementar, formando uma economia justa e equilibrada. Isso porque programas com esse modelo oferecem a possibilidade de se produzir e consumir dentro de um circuito fechado, isto é, com a vantagem do incentivo ao comércio local.

No caso de Maricá, o programa de renda básica, que já funcionava muito bem na promoção do bem-estar social na cidade, foi crucial para o enfrentamento da crise do coronavírus. Nesse cenário, a prefeitura aproveitou da moeda local já estruturada para agir preventivamente.

Antes que tivesse qualquer caso registrado, concedeu aos microempreendedores que poderiam ser impactados pela crise o valor de 1.045 mumbucas por mês. O objetivo era que eles pudessem cobrir eventuais perdas financeiras, porém, os efeitos positivos foram ainda maiores.

O auxílio permitiu aos trabalhadores locais manter o isolamento social quando o surto atingiu Maringá. Inclusive, as autoridades aumentaram esses pagamentos com o agravamento da pandemia. Os benefícios não param por aí, o Banco Mumbuca já financiava ações como concessão de empréstimos a uma taxa de 2% aos empreendedores locais.

Além disso, existem programas que cobrem as despesas de deslocamento e o aluguel de alguns estudantes universitários. O sucesso da mumbuca vem repercutindo no cenário nacional, e muitos economistas já discutem a possibilidade desses pagamentos de estímulo representarem um avanço em relação a um novo modelo de renda básica no país.

Dinheiro maricaense faz a cidade se destacar fora do Brasil

Muito se fala sobre bitcoins e outras moedas virtuais no mercado mundial. No entanto, o modelo de banco comunitário, como o do programa RBC, não existe em outra região do mundo. Isso trouxe destaque para o dinheiro maricaense fora do Brasil. O grande diferencial, nesse caso, talvez seja o conjunto de iniciativas, como:

  • organização local da economia;
  • moeda local;
  • crédito para consumo na moeda local, sem juros;
  • crédito para produção;
  • processo de participação da comunidade no trabalho do banco.

Certamente, muitas das visões que temos são complementares ou semelhantes às que existem em outras regiões. Mas o diferencial do caso brasileiro em relação a outros tipos de experiências é o conjunto de iniciativas do modelo de bancos comunitários.

Segundo o site Plantão em Foco, Maricá foi um dos temas abordados durante o Fórum Internacional de Gestão Acreditada de Cuidados em Saúde, e o ponto de destaque é a política de apoio social oferecida pela cidade há alguns anos.

A criação de uma renda mínima mostrou ótimos resultados não somente para o desenvolvimento econômico da comunidade, mas também, na área da saúde. A população conseguiu cumprir com as medidas de distanciamento social por um período mais longo.

Em um país de grandes desigualdades, a criação da mumbuca veio para fazer a diferença na vida de milhares de cidadãos, a partir de uma distribuição mais equitativa de renda. A moeda digital de Maricá é a primeira experiência do Brasil nesse segmento, e o seu método inovador para apoiar as principais políticas sociais da cidade tem se mostrado capaz de gerar dignidade e segurança para quem vive ali.

A prova de que a mumbuca deu certo é que, hoje, o modelo inspira gestores de todas partes do mundo. O novo coronavírus trouxe mudanças significativas para a atividade do comércio, desde as formas de interação com os clientes até a efetivação da compra. Por isso, mais do que nunca, vale a pena conferir outras tendências interessantes, como a do pagamento sem contato.

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