O teatro da inovação

Empresas encenam práticas disruptivas e não fazem uma atuação real sobre inovação

Atualizado em: 15/04/2021
O teatro da inovação

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Mesmo que de forma inconsciente, muitas empresas estão fazendo o que é conhecido como teatro da inovação. A necessidade de desenvolver algo novo é latente entre as organizações, já que esse é um dos principais aspectos para se manter competitivo no mercado. Porém, devido à falta de entendimento e planejamento sobre o assunto, elas acabam andando em círculos, sem, de fato, inovar.

Uma das características recorrentes do teatro da inovação é a criação de inúmeras ideias que não são convertidas em ações ou que até são colocadas em prática, mas que não contemplam a realidade, nem solucionam os problemas da companhia. Qual é o resultado disso? Processos defasados e ineficientes, que não atendem às necessidades das equipes e dos clientes do negócio.

Entender o que é inovar é o primeiro passo para transpor esse obstáculo. Para tanto, há que se voltar os olhos para o ambiente interno da empresa e identificar onde estão as falhas de inovação.

Os atores do teatro da inovação

A expressão teatro da inovação tornou-se popular ao ser usada por Steve Blank, que é professor e empreendedor do Vale do Silício, considerado referência no universo do empreendedorismo. Basicamente, esse conceito se refere às medidas que são tomadas nas corporações para mostrar para as pessoas que a inovação está acontecendo, mas que não trazem resultados tangíveis.

De acordo com um levantamento feito pela Doblin Inc. — empresa de inovação estratégica — 96% dessas iniciativas falham, justamente, por essa razão. O grande problema está no fato de que muitas companhias nem sequer percebem essa questão.

Contudo, também há os casos em que as organizações estão conscientes dessa situação e, mesmo assim, seguem em frente por acreditar que essa é uma boa estratégia de marketing e branding, ainda que não gere nenhum resultado efetivo.

Principais características do teatro da inovação

A encenação é composta por várias práticas que, para quem vê de fora, podem até sugerir que a organização está inovando. Mas basta uma análise mais aprofundada para notar que elas não estão surtindo efeitos.

Visitar startups constantemente

Não há dúvidas de que as startups têm muito a ensinar ao mercado. Todavia, apenas visitar esses empreendimentos e retornar para o trabalho falando sobre produtos incríveis e seus respectivos fundadores não fará sua empresa ser mais inovadora.

O ideal é conhecer e visitar as grandes corporações do nicho em que se trabalha e questionar como elas conduzem os seus programas de inovação.

Criar por conta própria uma aceleradora interna

Essa é uma decisão bem recorrente nas empresas, mas uma das que mais falha. São raros os projetos efetivamente acionáveis que surgem por meio de aceleradoras corporativas.

Nesse sentido, é mais interessante se aproximar do ecossistema, estabelecendo parcerias com agentes especializados em aceleração. Isso diminui o risco de obrigar projetos a se adequarem às necessidades da companhia.

Flexibilizar o dress code

Essa atitude, por mais que seja bem-vinda pelos colaboradores, é uma consequência e não um fim. Afinal, qual outro resultado ela proporciona, além de deixar o seu time mais confortável para trabalhar?

Erroneamente, muitas empresas acreditam que isso já inovação por si só. Mas, desenvolver algo novo vai muito além disso.

Contratar alguém do ecossistema para conduzir os programas de inovação

De nada adianta contratar um profissional exclusivo para assumir os programas de inovação, se a empresa não der a ele mandato e budget para aplicar as suas ideias. No caso de optar por essa alternativa, é preciso dar carta branca para o profissional, ou a companhia vai criar mais uma pessoa frustrada.

 Apenas informar-se sobre inovação

Conhecimento é vital para inovar. Entretanto, é preciso ir além de assistir a seminários, webinars e acompanhar todas as publicações desse ecossistema. É importante permitir-se executar e errar rápido. Isso proporciona aprendizado e experiência para fazer cada vez melhor.

A plateia não é facilmente enganada

Apesar de entenderem a grande importância estratégica da inovação e de estarem dispostos a investir, muitos executivos estão insatisfeitos com a performance das medidas tomadas. Um estudo da McKinsey revelou que somente 6% dos CEOs estão felizes com o desempenho das suas companhias quando o assunto é inovação.

Entre as maiores barreiras para desenvolver algo novo nas empresas, podemos citar:

  • falta de conhecimento sobre as novas tecnologias;
  • falta de recursos para inovar;
  • cultura resistente;
  • falta de habilidades para liderança e gerenciamento;
  • demanda incerta sobre novos produtos e serviços.

Ignorar essas questões é enganar-se e impedir que a empresa alcance todo o seu potencial inovador. Afinal, a encenação de que está inovando não se sustenta para sempre e pode facilmente ser impactada pela realidade das companhias concorrentes, que realmente inovam.

As organizações precisam entender que investir em startups ou organizar hackthons, por exemplo, são meros disfarces de inovação. No fundo, trazem baixíssimos impactos reais para os resultados do negócio.

Relendo o roteiro da inovação real

Se a intenção é arrancar aplausos da plateia, é imprescindível reler o roteiro da inovação de verdade. Existem pontos cruciais a serem considerados para uma inovação de verdade e benéfica.

Ato I — Definição do que é inovação para a empresa

Em primeiro lugar, as companhias precisam definir o que é inovação para elas. Assim, terão um ponto de partida. Isso inclui decidir por que inovar é importante e como isso pode contribuir com a estratégia de negócio. Alguns exemplos de inovação são:

  • encontrar novas oportunidades de crescimento para outros consumidores e oferecer mais propostas de valor, modelos de negócio e empreendedorismo;
  • ampliar as receitas por meio de ofertas já existentes, de modo a fortalecer o núcleo e aperfeiçoar os produtos, serviços e experiências dos clientes;
  • melhorar a eficiência operacional e a produtividade, reduzindo custos para a manutenção de produtos, serviços e processos a partir da transformação do seu núcleo.

Ato II — O olhar para dentro da empresa

Quando se fala em inovar, muitos executivos pensam que a solução é buscar profissionais e recursos externos. Mas uma inovação consistente começa de dentro para fora, o que está diretamente relacionado ao intraempreendedorismo — ato de empreender dentro dos limites da própria organização.

Com o estímulo a essa prática, é possível identificar e aproveitar oportunidades de melhoria e inovação. Ou seja, transformar ideias em projetos reais e viáveis comercialmente.

A medida possibilita o lançamento de novos serviços ou produtos, a abertura de novas unidades de negócio, novas fontes de rendimento, a otimização da comunicação com o cliente, entre outros benefícios.

Ato III — Os líderes progressivos

Os líderes conservadores estão entre os principais obstáculos para a inovação. Geralmente, eles são resistentes a novas formas de pensar, contrapondo-se a ideias e soluções que tirem a empresa da zona de conforto.

Diante disso, contar com líderes progressivos é indispensável para abrir as portas para novidades que alcem a companhia a novos patamares. Esses profissionais deixam a sua equipe à vontade para propor soluções, seguir caminhos diferentes do tradicional, dão todo o suporte necessário e aceitam assumir riscos.

Inovar é uma condição substancial para que as empresas continuem atrativas para o seu público, desde que isso se dê da forma correta. É necessário tomar cuidado para não cair na armadilha do teatro da inovação. As ideias inovadoras devem ser pensadas de acordo com a realidade e os objetivos da organização. Assim, enfrentam menos obstáculos ao serem colocadas em prática.

Com agentes transformadores, pode-se tornar as companhias mais inovadoras. Isso deve ser feito não só para sobreviver à nova dinâmica do mercado, mas também para aumentar a eficiência dos seus processos e gerar mais valor para todos os envolvidos.

O comportamento dos gestores pode ser decisivo para o processo de inovação das empresas. Por isso, a inteligência emocional dos líderes está na berlinda e precisa ser repensada.

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