Problemas da urbanização ficam mais aparentes com a pandemia

A pandemia revelou diversas falhas e a urbanização não passou ilesa disso

Atualizado em: 15/04/2021
É necessário refletir sobre a urbanização durante o coronavírus

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A crise do novo coronavírus escancara diversas fragilidades estruturais da sociedade atual, no Brasil e no mundo. Entre elas, a crescente concentração urbana e a dependência dos transportes de massa para movimentação global. 

A relação entre doenças e cidades é antiga — desde a Gripe Espanhola em 1918 ao SARS em 2003. A disseminação rápida do contágio da covid-19 deixa isso evidente também no presente, pois é exemplo das relações estreitas entre desenvolvimento urbano e doenças infecciosas.

É preciso entender como o impacto de uma epidemia se relaciona com as mudanças físicas, espaciais e sociais provocadas pela urbanização. Depois, será necessário aprender como as cidades — e empresas — podem desempenhar um papel importante na prevenção e solução desses surtos epidêmicos, principalmente com a ajuda da tecnologia.

As cidades não aguentam uma pandemia

A ONU estimou que, em 2009, metade da população do mundo vivia em áreas urbanas pela primeira vez na história da humanidade. Hoje, mais de 4 bilhões de pessoas vivem nas cidades, seis vezes mais do que em 1950.

Segundo o IBGE, o estado de São Paulo se destaca por apresentar o maior número de concentrações urbanas no Brasil. Proporcionalmente, também é o estado com mais casos do novo coronavírus.

A própria disseminação inicial da doença se deu por consequência da movimentação global entre países: logo em janeiro de 2020, sete trabalhadores foram infectados durante uma sessão de treinamento em uma empresa de autopeças com sede na região da Baviera, na Alemanha, por meio do contato com um funcionário da empresa em Wuhan, na China.

A região da Baviera é rural-urbana. Agindo rapidamente para conter a disseminação, a Alemanha fechou as fronteiras deste primeiro estado infectado com o restante do país, suspendendo a vida pública, o fluxo e a locomoção de pessoas e adotando o trabalho remoto.

No entanto, essa decisão não é praticada rapidamente em todos os lugares do mundo. Os surtos de doenças como o novo coronavírus reforçam as desigualdades existentes e os problemas das infraestruturas de mobilidade.

A urbanização desejável, responsável por inúmeros avanços na tecnologia, transporte e comunicação, está sendo colocada em xeque do ponto de vista de contenção de doenças infecciosas. 

Muitos países, como a Itália, consideram realizar os testes de porta em porta. Mas como isso será possível estruturalmente em cidades que, sozinhas, possuem o contingente populacional de mais de 1 milhão de pessoas? Só no Brasil, são quinze.

O que tem acontecido com as cidades

As cidades não aguentam uma pandemia, pois o rápido crescimento urbano não foi acompanhado pelo desenvolvimento apropriado de infraestruturas sociais e técnicas disponíveis para toda população. A prova disso são as fotos de moradores de rua “alojados” em estacionamentos ao ar livre nos Estados Unidos, em uma cidade conhecida pelos seus hotéis (Las Vegas).

Não à toa, uma das maiores preocupações da disseminação da doença no Brasil são as favelas à margem de grandes metrópoles, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, que contam com pouca infraestrutura e alta densidade populacional, inclusive dentro das mesmas casas. 

Muitos desses lugares se formaram pelas migrações rurais em massa, pela industrialização e pelo crescimento da população, aliado à falta de planejamento urbano. 

Hoje, diante de uma pandemia, fica evidente que são formas de viver que colocam a população em risco. Como cita o New York Times, as pandemias são anti-urbanas

Além das capitais e regiões metropolitanas, o ritmo da contaminação do coronavírus também acelera em cidades médias e pequenas pelo país. No entanto, cidades pequenas infectadas não diminuem as demandas nas grandes metrópoles, pois ainda é necessário ir aos hospitais dos grandes centros, o que aumenta ainda mais as demandas de estrutura das capitais.

O novo coronavírus também mina ideias básicas sobre viver em sociedade, em particular na vida urbana. Pela necessidade do distanciamento social, os desejos de interagir em comunidade são impactados — e foi por meio deles que cidades foram construídas com praças, metrôs, espaços públicos e de lazer. 

Na fase de transmissão comunitária da doença, como a atual, ver cenários de cidades quase vazias significa justamente a forma de combate à pandemia. Mas os problemas de urbanização seguirão evidentes.

Como empresas podem ajudar a resolver esses problemas

A pandemia está tornando nosso mundo interconectado ainda mais visível, desde trabalho a lazer realizados remotamente, junto com a percepção de que a prevenção e a contenção devem se tornar uma tarefa global.

O planejamento moderno e a engenharia civil nasceram do desenvolvimento em resposta à propagação da malária e da cólera nas cidades, no século XIX. A infraestrutura digital pode ser o saneamento do nosso tempo.

Parte disso significa pensar em descentralização de serviços essenciais, seja para reduzir a pressão da enorme contingência nos grandes centros urbanos, seja para diminuir a necessidade de movimentação das pessoas.

A tecnologia, que colaborou com a urbanização desenfreada, é também uma aliada eficaz no combate às epidemias, como a utilização da telemedicina — consultas médicas realizadas à distância, com o mesmo rigor e atenção.

Empresas como AliBaba, a gigante do e-commerce chinês, está fazendo uso da tecnologia para atuar na proteção da população, como um sistema de Inteligência Artificial capaz de diagnosticar, em questão de segundos, pessoas infectadas com o novo coronavírus. A Nokia criou o Epidemic Prevention System, iniciativa em Big Data que possibilita aos governos identificarem áreas e pessoas vulneráveis e controlar as quarentenas..

A tecnologia permitirá a continuação de diversos tipos de negócios que podem agir globalmente, de maneiras inimagináveis a algumas gerações (e epidemias) atrás. 

Mas isso exigirá uma abordagem interdisciplinar que inclua geógrafos, cientistas em saúde pública, sociólogos, engenheiros e outros profissionais para desenvolver possíveis soluções para prevenir futuros surtos de doenças. 

Para isso será necessário repensar as estruturas das cidades e da movimentação urbana a longo prazo. Um papel que é, inclusive, das empresas vigentes da atualidade.

O momento exige que as companhias com propósito social extrapolem o mundo teórico e passem a atuar, de fato, em favor das novas demandas da sociedade.

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