Começa com um: “não aguento mais essa situação, preciso mudar!”, mas esse discurso interno é repetido durante anos, sem qualquer indício de transformação. Ou aquela sensação: “sempre passo por algo parecido em meus relacionamentos!”.
Também pode ser o sentimento: “nossa! Há anos tenho esse sonho, mas sempre acontecem coisas que me impedem de realizá-lo!”.
Estamos falando da autossabotagem, uma espécie de padrão comportamental em que a maior prejudicada é a própria pessoa. Meio louco isso, né? Queremos felicidade, mas, ao mesmo tempo, impedimo-nos de senti-la. Você já chegou a se perguntar por que as pessoas se comportam desse modo, ou como evitar agir desse jeito?
Bem, assim como tudo relacionado à nossa psique, tais respostas não são tão simples e diretas. Mas ajudaremos você a refletir um pouco sobre elas neste conteúdo. Vamos nessa?
O que é autossabotagem?
A autossabotagem pode ser definida como um conjunto de hábitos que nos levam a um caminho autodestrutivo. Esses comportamentos nos fazem criar empecilhos, de modo que tenhamos dificuldades na conquista de objetivos.
É uma espécie de compulsão à repetição, pois não conseguimos mudar esse padrão, ainda que uma parte de nós tenha tal vontade.
Por que nos autossabotamos?
Há várias razões que nos levam a agir assim. Entre as mais comuns, podemos listar:
- foi o modo como aprendemos a sobreviver;
- evitamos entrar em contato com um sofrimento a curto prazo, mas não nos damos conta de que estamos, também, nos afastando de uma satisfação mais genuína, a longo prazo;
- temos crenças limitantes;
- repetimos padrões existentes em nossa família.
Como identificar a autossabotagem?
Existem centenas de exemplos de situações nas quais podemos identificar esse tipo de comportamento. Observe alguns!
Você procrastina muito
A procrastinação é o comportamento de viver adiando tarefas importantes, em prol de substituí-las por outras que proporcionam uma satisfação imediata, mas não nos trazem muitos ganhos. Muitas vezes, na hora nem nos damos conta de estarmos agindo assim. Só percebemos quando precisamos lidar com consequências ruins, como um prazo apertado.
Um caso típico é o estudante universitário que deixa para começar o TCC só no último momento e não consegue concluí-lo a tempo, ou faz mal feito. No fim, ele diz para si mesmo: “não sou inteligente o suficiente para isso!”.
Você se compara o tempo todo
Outra maneira de praticar a autossabotagem é comparar-se muito a outras pessoas, causando a si mesmo um sentimento de inferioridade.
Isso leva o indivíduo a entrar em um ciclo de pensamentos autodepreciativos, achando-se insuficiente. Ele não foca em seu próprio caminho ou objetivo, e passa a se medir pela régua dos outros.
Você tem a síndrome do impostor
A síndrome do impostor se resume no sentimento de não acreditar ser merecedor das conquistas. Ainda que haja vitórias, elogios e reconhecimentos, a pessoa os nega e tem sempre uma desculpa, de modo a subestimar seus sucessos. É comum que ela espere pelo próprio fracasso, antes mesmo de tentar qualquer coisa.
Você não se empenha em ir atrás dos sonhos
Viver criando desculpas para não começar a mudar algo na vida e não buscar aquilo que sempre se quis é outro indicativo de uma pessoa autossabotadora. No fundo, ela acredita não merecer tanta felicidade, ou pode sentir medo de tomar decisões importantes.
Sabe como é, né? “Está ruim assim, mas é algo com o qual já me acostumei”.
Você desiste de algo (ainda que esteja dando certo)
Mudar de ideia ou de planos para a vida não é errado. Pode até ser uma atitude madura aceitar que determinado caminho não é o ideal e, que, agora, você investirá energia em outros objetivos.
Porém, algumas pessoas têm o costume de desistir constantemente de algo, mesmo que tenha tudo para dar certo. São cursos inacabados, relacionamentos que terminam de uma hora para outra, contínuas demissões no trabalho etc.
Como deixar a autossabotagem de lado?
Mudar demanda energia. É difícil, pois é preciso enfrentar o status quo e encarar um mundo totalmente desconhecido e cheio de riscos. Contudo, existem estratégias que podem te ajudar nisso!
Trabalhe a autoestima
A autossabotagem está diretamente relacionada a uma baixa autoestima. Isso não quer dizer, necessariamente, se achar feio ou bonito. Tem mais a ver com sentimento de autovalor diante da vida.
Para mudar isso, identifique suas potencialidades a partir de uma lista de suas qualidades. Se necessário, peça ajuda a amigos e familiares com os quais você se sente à vontade.
Além disso, em qualquer realização da sua vida, evite a comparação. Entenda que cada pessoa tem seu próprio caminho e suas próprias dificuldades. Contrapor as conquistas de um colega com as suas não é nada justo. Em vez disso, olhe para seu ponto de partida e veja o quanto você já caminhou.
Faça terapia
Um profissional pode ajudar em vários sentidos. Primeiro, porque nem sempre tentar mudar é simples. Mudanças exigem entrar em contato com a dor, e passar por um sofrimento requer persistência para continuar a jornada.
Outra razão é que, às vezes, é necessário descobrir a origem do comportamento e entender o porquê de ele ainda persistir, para, então, ter em novas atitudes.
Por fim, outro motivo é que, quando finalmente nos transformamos, aquelas pessoas já acostumadas com o nosso antigo “eu” tendem a reagir e nos fazem acreditar estarmos errados. Não ter um apoio em qualquer dessas situações faz tudo ficar ainda mais difícil.
Adquira mais autoconhecimento
Autoconhecer-se é libertador. Entender quem somos, o que queremos e do que precisamos torna mais fácil seguir em frente.
Ao perceber qualquer indício de autossabotagem, tente se perguntar do que você está querendo fugir. Será que tem a ver com autorregras limitadoras? Ou você tem repetido comportamentos dos seus pais? Ou criou um medo irracional?
Identifique se existem pensamentos negativos recorrentes. Sabia que acreditar em algo como “sempre me dou mal em tudo o que tento fazer” pode levar isso a ser sempre uma verdade? O nome disso é “profecia autorrealizadora”, uma crença que provoca sua própria realização.
Tenha metas menores
Não seja tão imediatista em relação às mudanças. Querer dar um passo maior que a perna é inútil, na maioria das vezes. Se você estipular objetivos inalcançáveis, terá mais motivos para entrar naquele ciclo de pensamentos autodestrutivos, afirmando a si mesmo que determinada coisa não é para você.
Assim, elabore pequenas metas, facilitando sua realização. Ao ver que algo tem dado certo, isso aumentará sua sensação de satisfação e te motivará a continuar no caminho.
Deixe de lado o medo de errar
Não queira perfeição: ela não existe. Lembre-se de que erros e falhas fazem parte até da jornada do herói. Se não fosse por eles, se não houvesse os testes e as dificuldades, se não fosse pela provação suprema, não haveria aprendizado, muito menos a sensação gostosa de vitória do fim da história.
Modificar padrões negativos de comportamento leva tempo e, assim como no monomito, mudar é uma aventura. Mas, para se livrar da autossabotagem, é preciso aceitar o risco de ver o que acontece no fim da caminhada! Você está disposto?