Você não sabe bem dizer quando foi que começou a sentir-se mal. Falo de conviver com aquela sensação de que não conseguiu dar conta da vida. E a resposta é simples: Você tem cobrado muito de si mesmo.
É louco como conseguimos fazer um imenso esforço para sermos generosos, agradáveis e menos combativos com as pessoas ao nosso redor, mas quando isso precisa voltar para nós mesmo, aí não vemos condições. Este é meu caso, pelo menos.
Quando alguém nos confessa que está em uma situação complicada, vamos logo nos adiantando e dizendo: “Tudo vai ficar bem”. Mesmo se não soubermos se vai mesmo. Quando somos nós a pessoa com problemas, nossa mente funciona exatamente oposto. Somos especialistas em auto sabotagem.
Ficamos nos culpando, por exemplo, quando alguém simplesmente vai embora sem se despedir, pelo trabalho que não está dando certo, pelo projeto que teve caminhos não esperados.
Vivemos com um sobrepeso das bagagens que carregamos na vida, andando com um fardo extra nas costas. Como se todas as contingências da vida, sejam elas positivas ou danosas, fossem exclusivamente nossa incumbência e responsabilidade.
Ser duro não é bater-se
Ser duro consigo e cobrar muito de si mesmo em tempos confusos pode até ser um exercício de disciplina necessário, mas quando deixamos a vida tornar-se dura demais ao ponto de experimentarmos apenas o lado negro, tudo fica completamente mais complexo de absorver e remediar.
Tenho aprendido, mesmo que a passos lentos, que não precisamos entender tudo que acontece na vida. Eita lição complicada! Por vezes, tentamos encontrar uma razão palpável que explique porque as pessoas são tão vazias ou porque algumas coisas simplesmente saem da nossa alçada.
Depois, quando a maré abaixa, percebemos que não importa quanto nos dedicamos a alguém, a algum projeto, a alguma nova empreitada, não interessa o quanto podemos ser agradáveis, organizados e planejadores, nem o quanto tentamos nos entregar para fazer tudo acontecer, as palavras que dizemos e ouvimos, uma hora qualquer, na aleatoriedade, determinadas coisas não estão no nosso controle.
Algumas coisas não dependem da gente
Mesmo que carregue no peito o maior amor do mundo, a maior disposição possível, o máximo desejo de que tudo saia bem, é preciso que haja uma contrapartida mínima para que esse investimento de tempo, dinheiro, mental, sentimental, físico, realmente valha a pena.
Aprender esta lição é muito difícil porque não cabe qualquer lógica possível. Viver é um tiro no escuro. Este é o cenário comum. Ninguém pode ser obrigado a permanecer. Isso é tudo, menos amor real.
A partir daí, podemos apenas optar por reconhecer nossa parcela de culpa sem medo de se descobrir, sem cobrar, mas sabendo que não podemos carregar toda a culpa sozinho. Basta entender que ver o final de algo sempre vai ser a pior coisa do mundo, mas ainda é possível reinventar a vida, sabendo que pessoas e projetos vêm e vão.
Não seja exigente consigo, nem com os outros
O coração é como a nossa casa. Muitas pessoas podem entrar, dividir um pedaço da nossa história, sentar no nosso sofá só de meia e colocar o pé na mesa de centro, comer, rir e ir embora sem lavar a louça.
E outras vão simplesmente chegar de ultima hora com o desejo de ficar, vão aprender a zelar pela boa convivência, derrubar pipoca no tapete, mas vão sempre nos ajudar a deixar as coisas organizadas por toda vida.
O que não dizem sobre pessoas que se cobram demais é que elas geralmente não saem da inércia por depositar toda a sua vida à terceiros.
Temos o direito de cobrar-se sim, no entanto, é fundamental termos o olhar para a vida como quem observa uma situação com muito cuidado. Tratar-se com respeito pode mudar nossa vida para sempre.
É preciso ser generoso consigo antes de tudo. É preciso cobrar menos e ter amor para com você.
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