Você provavelmente deve estar pensando: por que o blog da Comunidade Rock Content quer me ensinar como fazer um poema?
Por acaso o marketing digital se encaixa em versos? Existe otimização de poemas? Palavras-chave para as estrofes de uma poesia? O mundo está ao contrário e ninguém reparou? Não, ele não está, mas ele está valorizando cada vez mais as formas inovadoras de se comunicar.
No caso do marketing digital e dos conteúdos para web, estamos falando de usar um borogodó a mais na hora de escrever, sobre produzir textos que não só comuniquem uma informação, mas também promovam experiências, provoquem sensações e, claro, engajamento.
Legal, né? E sabe como você consegue encontrar esse borogodó para os seus textos? Praticando e exercitando a escrita criativa, por exemplo, ao escrever poemas!
Daí você pergunta: depois deste post eu vou escrever um Soneto da Escaneabilidade? Vinicius de Moraes que nos perdoe por esse trocadilho terrível, mas, não, a ideia não é essa.
A ideia é aproveitar algumas dicas para destravar os eixos da criatividade e planejar as experiências e sensações que você deseja proporcionar com seus conteúdos. Gostou? Então chega junto!
1. Saiba quem é Vinicius de Moraes
Calma que esse não é um post cult ou teste para o Enem, mas, para não passar batido, ele foi o poeta que escreveu:
“Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Se você já jogou essa frase para o crush, mas não sabia quem era o autor, deu sorte, viu! E para constar, existem outras coisinhas que valem à pena saber sobre os gêneros literários, afinal de contas, você trabalha com isso.
1.1 Entenda o que é um poema
Para a literatura, é um conjunto de palavras, que rimam ou não, que traduzem um significado, sejam pensamentos, sejam sentimentos de seu autor.
Para transmitir tudo isso, o poeta pode usar diversos recursos da nossa amada língua portuguesa, como metáfora, figura de imagem, hipérbole, eufemismo, onomatopeia, metonímia e por aí vai.
1.2 Saiba do que se trata uma poesia
A poesia normalmente é feita em versos, tem rima e repetição e se preocupa com a estética. Apesar disso, podemos dizer que ela é a forma literária da arte, o que é bonito de se ler ou ouvir.
Assim, ela é viva e nem mesmo depende da escrita para ser transmitida. A poesia está no ar!
1.3 Fique por dentro de demais gêneros, formatos e estilos semelhantes
O soneto, como o da Fidelidade escrito por Vinicius de Moraes, também é um tipo de poema, mas tem a estrutura fixa com quatro estrofes e 14 versos, sendo dois quartetos e dois tercetos.
Para completar, seus versos normalmente são decassílabos, ou seja, têm 10 sílabas poéticas. Além do Vinicius, Olavo Bilac também foi outro sonetista sensacional.
Citando estruturas específicas, outro tipo de poema muito curioso e que vai ajudar a desenvolver suas técnicas de escrita é o Haicai, também chamado de Haiku.
É um tipo de poema japonês curto que significa “brincadeira harmônica”. Se você quer se tornar um haicaísta, basta criar um poema de três versos, com 17 sílabas poéticas, sendo 5 no primeiro, 7 no segundo e 5 na terceira.
E aí, animou a brincar de fazer poemas? Então aqui vão outras dicas.
2. Leia muito
Se você já leu essa sugestão em muitos blogs, posts, ebooks e livros, parabéns, está praticando exatamente o que ela propõe: ler bastante.
O objetivo, porém, não é apenas reafirmar sua importância, mas também ampliar o vocabulário, conhecer estruturas frasais diferentes e maneiras de brincar com as palavras, além de aprender novos assuntos.
3. Busque inspiração
Sua inspiração pode estar em qualquer lugar, e isso não é clichê, tanto é que sonetistas como Olavo Bilac têm diversas fases e influências em suas obras. Suas emoções, acontecimentos da vida, situação da sociedade, um amor, uma descoberta. Basicamente, tudo foi e pode ser inspiração.
A escola literária de Olavo Bilac, por exemplo, é a chamada Parnasianismo, que vem depois do Romantismo. Em vez de focar na adoração do amor e sentimentos, sua inspiração estava nos fatos históricos, paisagens e objetos.
Outra característica marcante do Parnasianismo é a rigorosidade nos formatos dos poemas, além do uso da norma culta e formal da escrita. Porém, eventualmente, a inspiração leva o sonetista a outro lugar, inclusive, quebrando seu padrão e estilo de escrita.
Isso também aconteceu com Olavo Bilac, que, flertando com o coloquialismo e até a interação íntima e direta com o leitor que não teriam lugar no Parnasianismo, produziu um de seus poemas mais famosos e adorados, o Soneto XIII do livro Via Láctea. Veja alguns de seus versos:
“E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas””
Sabe quem faz isso também? O Deadpool em seus filmes, revistas e até mesmo no blogpost que “escreveu” para o blog da Comunidade Rock Content contando os vacilos que todo freelancer comete! Será que Olavo Bilac foi uma inspiração para ele? Fica aí o questionamento.
4. Utilize emoções já vividas
Poemas e conteúdos com uma pegada mais emocional, como alguns storytellings, são feitos para despertar sentimentos e sensações em quem está lendo.
Se a ideia é despertar o desejo de comer algo, por exemplo, é preciso descrever seus sabores, aromas e momentos de degustação de maneira bem apetitosa, certo? E não é muito mais fácil fazer isso descrevendo o arroz que sua mãe fazia antes de você ir para o colégio?
Aquele aroma de alho e cebola dourados delicadamente vindo da cozinha, o vapor com um cheiro magnífico que subia quando ela jogava a água, e, claro, aquela raspinha que ficava no fundo da panela, que nunca estava queimada e era uma delícia de comer.
É muito mais fácil fazer o leitor se conectar com um sentimento verdadeiro que está sendo descrito no poema porque isso ativará suas memórias sensoriais e afetivas.
5. Faça um brainstorming com você, você mesmo e tu
Se é para falar de emoções, descrever a lua, a pedra que estava no caminho ou a vida besta que passava devagar pelas janelas, como Carlos Drummond de Andrade descreveu em “Cidadezinha qualquer”, você precisa explodir de ideias consigo mesmo.
Isso mesmo! Um brainstorming interno, só você e seus pensamentos. Aliás, para esse momento, desligue os preconceitos, os receios e medos sobre o que as pessoas vão achar do seu poema.
Apesar de escrever para compartilhar sentimentos e despertar emoções, a verdade é que você não tem controle nenhum sobre a química cerebral que vai rolar na cabeça do leitor, só na sua. Então, resumidamente, pegue todas as suas melhores ideias e faça um poema para você amá-lo.
6. Escolha o tipo de poema que você quer escrever
Precisamos ser fiéis a muitas coisas, mas não a um só estilo ou tipo de poema. Por isso, escolha (ou não) um de seus formatos, e se jogue na criação.
Paulo Leminski é um ótimo exemplo nesse sentido. Foi um ótimo haicaísta, poeta, escritor, tradutor, prosista, músico, letrista e professor de judô.
Sim, ele ensinou a arte marcial, e não, não sabemos se ele foi realmente bom nisso. Mas, pela diversidade da sua arte e obra, dá para ver que ele nunca foi fiel a um formato só, e, ainda assim, arrasou em todos eles, não é mesmo?
7. Use muitas figuras de linguagem
Existem vários tipos de figuras de linguagem, e, com certeza, uma delas é perfeita para o seu poema. Então, escolhe aí:
- metáfora;
- eufemismo;
- hipérbole;
- ironia;
- comparação;
- elipse;
- zeugma;
- metonímia;
- prosopopeia;
- antítese;
- anáfora;
- paradoxo;
- pleonasmo;
- aliteração;
- polissíndeto;
- assíndeto;
- sinestesia;
- gradação;
- onomatopeia.
Lembra de todos eles? Não faz mal, é só você pensar em brincar com as palavras e usar maneiras diferentes de descrever suas inspirações nos poemas.
Quer um exemplo de brincadeira paradoxal de Cecília Meireles? No poema “Motivo”, seus versos são recheados de palavras que se contradizem, mas, entre elas, é provável que você lembre ou já tenha lido em algum lugar essa aqui:
“Não sou alegre, nem triste: sou poeta”
No final desse poema, a forma como a poetisa descreve a morte também é uma metáfora, olha só:
“E sei que um dia estarei mudo: — mais nada…”
8. Deixe de lado as palavras abstratas
Com tantos recursos linguísticos bacanas que mostramos no tópico anterior, e, considerando que você quer se conectar com seu leitor, para quê usar palavras abstratas que deixam as coisas indefinidas, não é mesmo?
Não temos nada contra elas, que fique claro, mas se você quer fazer um poema sobre fome, sede, juventude, saudade ou qualquer coisa imaterial que dependa de outra para existir, precisa canalizar as ideias por meio de descrições mais detalhadas.
Na boa e velha técnica Bela Gil, você pode trocar “ele estava ansioso” por “seu coração, acelerado, parecia uma bomba prestes a explodir”.
Com palavras concretas e usadas para descrever a ansiedade, fica claro para o leitor sua intensidade, ao mesmo tempo fazendo com que ele se lembre de alguma situação que tenha vivido de forma parecida.
9. Tenha cuidado com as rimas
Rimar é uma técnica utilizada na alfabetização de crianças, sabia? É porque ela é fácil, traz associações importantes da linguagem, mas, na vida real, e, mais especificamente na escrita, precisa ter seu lugar.
Isso porque ela pode trazer uma conotação mais rebuscada para seu conteúdo sem ser necessariamente o que você quer, além, é claro, de engessar sua criação.
É claro que elas deixam os poemas mais bonitos, e para nós, brasileiros, têm um requinte todo especial. Quem não gosta de um repente nordestino, bom sujeito não é!
Uma das principais vertentes da poesia cantada, o repente nordestino, é rico de poesia, rima e muitos estilos poéticos genuinamente brasileiros, como Galope à Beira-mar e Sextilhas, que têm números de versos, sílabas rítmicas e estrofes bem definidos.
Com requintes de humor, sátira e crítica social, os repentistas fazem maravilhas em suas métricas ritmadas, não é mesmo? Sem contar, é claro, que tudo acontece muitas vezes no total improviso.
Mas, se a ideia é justamente essa e a linguagem está alinhada com seu público, se joga!
10. Escolha as palavras certas
A palavra certa não é a mais difícil, culta, diferentona, a que mais rima com outra ou nada parecido com isso. Ela é a que melhor comunica o que você quer transmitir. Ponto final.
A parte legal é que quando você busca suas inspirações, faz aquele brainstorming interno e lê muito, que são dicas que já passamos aqui, as palavras certas vêm naturalmente.
Quer ver? Machado de Assis, eu escolho, você! (Que os fãs de Assis e de Pokémon gostem do trocadilho. Caso contrário, fica por conta da licença poética que nessa lonjura do post já nos permitimos usar!)
“A mulher é um cata-vento,
Vai ao vento,
Vai ao vento que soprar,
Como vai também ao vento,
Turbulento,
Turbulento e incerto o mar”
Nesse verso de As ventoinhas, do livro Crisálidas, a escolha e as associações das palavras — mulher, cata-vento, soprar, vento, turbulento e mar — são tão certas para explicar a forma como ele enxerga sua musa incerta, ora vento, ora turbulência. Ora fada, ora vilã. #lindaoisso
11. Busque ajuda nos dicionários
Palavras certas não são as mais difíceis, eles disseram. Calma que ainda não mudamos de opinião, só trouxemos o dicionário aqui para essa lista porque ele é importante, oras!
Traz os significados, sinônimos, antônimos e outras tantas informações sobre as palavras que podem ajudar na hora de escolhê-las, você não acha? Além disso, é preciso aumentar seu vocabulário sempre, lembra?
12. Leia em voz alta
Então, depois de trocar palavras por sinônimos, rimar (ou não), abusar dos recursos linguísticos para descrever suas vivências, percepções e sentimentos, fazer o brainstorming, usar o dicionário e colocar tudo isso no papel, se você for old style, é claro, descanse seu texto, respire fundo, e depois, leia em voz alta.
Escute as ideias, veja se elas estão na sequência correta, se estão sonoras. Perceba se palavras próximas podem proporcionar pequenas travas na hora da leitura, igual essa sequência de seis palavras começadas com a letra P, por exemplo.
13. Não desista com os erros
Se tem uma coisa que os poemas e a escrita criativa nos deu de presente, ela se chama: licença poética, que também pode ser chamada de erro proposital, que é quando o jeito errado é o mais adequado para seu poema.
Chitãozinho e Chororó emprestaram suas vozes para o que muitos chamam de segundo hino brasileiro: Evidências.
A música, que nem precisa dizer que é um poema maravilhoso, tem um errinho para chamar de seu:
“..quando digo que deixei de te amar
É porque eu te amo
Quando digo que não quero mais você
É porque eu te quero”
A autoria, na verdade, é de Paulo Sergio Valle e José Augusto Cougil, e, de acordo com as regras da nossa língua portuguesa, para que houvesse concordância de pessoa, o “você” teria que ser substituído por “tu”.
Simplesmente, não ia rolar, né?! Então, abrace os erros, tanto os propositais como aqueles que escapam e a correção de terceiros ajuda a identificar, porque no final das contas, ou eles dão um charme a seu poema, ou te fazem aprender e melhorar.
Sem contar os neologismos, que é a nossa mania de inventar palavras, assim, bem, palavrudas! Se couber, se ficar legal, se for necessário, pode colocar também que dá borogodó.
14. Peça a opinião dos seus amigos
Algumas pessoas preferem guardar seus trabalhos e poemas para si, e isso não tem problema nenhum. Já vimos muitos artistas que têm o valor de suas obras triplicadas depois que morrem, certo? Então, se decidir fazer isso, não se esqueça de colocar seus ensaios poéticos no testamento para alguém querido.
Mas, se quiser usá-los como instrumento de aprendizado ou encantar leitores ainda em vida, não deixe de pedir a opinião de amigos e profissionais com quem você goste de trocar ideias. É muito importante ouvir opiniões e dicas, não é mesmo?
Então, deu para entender como fazer um poema ou usar esse exercício para explorar sua criatividade na hora de escrita? Então se liga porque existem outras formas de encantar com seus textos. Quer saber quais são? Baixe nosso guia da escrita criativa e saiba tudo!