Como sentir-se bem ao dizer NÃO

Juliana Saldanha

Poucos se sentem confortáveis ao dizerem não, direta e honestamente. 

Esquivar-se de uma resposta ou aceitar o pedido controversamente tendem a ser as soluções alternativas para esse potencial desconforto. 

O ‘não’ é associado ao conflito e, por isso, o evitamos. 

Entretanto, ele é a chave para o foco, para ter presença no que se faz e demonstra a autoconfiança de que você sabe aonde quer chegar.

Dizer ‘não’ é ser estratégico para ter a vida que queremos ter.

Aqueles que querem construir a vida que desejam devem ser capazes de dizer mais ‘não’ – a aquilo ou a aqueles que não contribuem para esse caminho. 

Cultura 

Convivendo com os ingleses em Londres, eu me surpreendi o quanto é comum o rápido ‘não’ do que o eterno ‘talvez’. 

Apesar de ter vivido essa prática nos negócios, aqui eles aplicam a mesma lógica para o dia a dia, pessoal ou profissional. 

Porque deixar uma situação pendente, ocupando as nossas mentes, se o que menos temos é espaço para guardá-la e tempo para pensar nela? 

Adiar uma decisão em que já se sabe a resposta é contraproducente. 

E por essa, e provavelmente por outras razões, bons líderes estão acostumados à prática. Eles sabem que essa é a atitude para ser estratégico – na vida ou nos negócios: 

Steve Jobs: “Focar é saber dizer ‘não'”

Warren Buffett: “Nós temos que aprender a dizer ‘sim’ lentos e rápidos ‘nãos'”

Tony Blair: A arte da liderança é dizer ‘não’, não dizer ‘sim’. É muito fácil dizer ‘sim’. 

Em entrevista para o HBR– Brian Halligan, CEO do HubSpot, disse que costumava ser aquele que dizia ‘sim’ a tudo para que a sua empresa – ainda iniciante – pudesse testar, inovar e encontrar o melhor fit com o seu mercado. Com o tempo, precisou mudar a sua abordagem, para que a empresa pudesse ter mais os pés no chão e crescer de forma estratégica. 

Dizer não envolveu dizê-lo não apenas às más ideias, mas àquelas excitantes e com grande potencial: como abrir o seu primeiro escritório internacional em um ano. 

Com o tempo, Brian desenvolveu a sua própria fórmula: um documento de uma página chamado MSPOT. Com ele é possível articular a missão, os círculos aos quais servem, as práticas que serão realizadas no ano, as práticas que serão omitidas e como irão acompanhar (track) o progresso.

Abrir o escritório internacional, segundo ele, não se encaixava nas práticas do ano e, sim, naquelas que seriam omitidas. Por mais doloroso que fosse, era um não.

Crenças

Algumas delas reforçaram o quanto é errado ou feio dizer não, por isso a nossa dificuldade de ir contra o que foi a regra até então:

“Nunca perca uma oportunidade”

Acreditar que oportunidades são escassas e que, por isso, é preciso agarrá-las no momento em que surgem é famosamente disseminado em dizeres e frases inspiracionais. Entretanto, essa é uma forma de enxergar a vida com o olhar de escassez ao reforçar que o meio externo dita mais o nosso destino do que a nossa habilidade em criá-lo. 

Várias oportunidades surgirão enquanto estiver em movimento.Mas se você acredita na visão que traçou e na missão que está no momento, é preciso deixar outras oportunidades de lado e, como consequência, dizer muitos nãos: sejam às boas ideias ou mesmo a oportunidades de ganhar dinheiro. 

Dizer ‘sim’ a elas é responder a uma gratificação instantânea. Mas esta pode adiar ou mesmo interromper a verdadeira gratificação: a realização daquilo que realmente importa e a conquista do que realmente queremos.

“Coloque os outros em primeiro lugar”

Aqui um paradoxo: Os outros sempre vem em primeiro lugar em nossas intenções se quisermos ser excelentes e relevantes em nossos contextos. Mas apenas conseguiremos servi-los se nos colocarmos em primeiro lugar. E colocar-se em primeiro lugar envolve dizer muitos ‘nãos’. 

Não há nada de egoísta em manter-se como prioridade, para chegar em sua visão. Claro, será sempre preciso ceder em alguns momentos para que haja equilíbrio. Mas ceder deve ser mais a exceção do que a regra: ‘Sim’ para tudo significa ‘Não’ para as coisas mais importantes. 

E são as coisas importantes que nos diferenciam do que é mediano. 

A estratégia é importante para que você escolha por você mesmo e tenha ao que recorrer quando algo a mais aparecer ou quando nos distrairmos do caminho. 

Dizer ‘sim’ a tudo é o mesmo que você deixar que outra pessoa escolha o caminho,quando na verdade você deveria ser o responsável por esse controle. 

“Não quero decepcionar a outra pessoa”

Na verdade, essa crença está mais relacionada ao nosso medo de desagradar ou de sermos rejeitados. A incerteza da reação de quem receberá o ‘não’, nos coloca em situação de desconforto. E o medo de fecharmos as portas com a outra pessoa, nos amedronta: e se um dia eu precisar dela também? O que ela pensará de mim se eu for direto? E se eu a desapontá-la? 

Todos temos prioridades (ou ao menos deveríamos ter). Se um pedido ou uma oportunidade não é a sua prioridade no momento, quem recebe a resposta negativa deverá ser capaz de entender. 

E mesmo que não seja, não devemos nos sentir mal por isso. Toda escolha envolve abrir mão de alguma coisa.E mesmo não havendo a gratificação imediata, ela poderá vir em dobro no momento certo. 

E se eu não estiver afim ou não quiser contribuir para o que foi pedido? 

Você também deve ser capaz de dizer que esta não é a melhor combinação ou mesmo este não é o melhor momento. Novamente, não há mal nenhum em colocar-se como prioridade ou em rejeitar uma proposta. O desacordo não é sinônimo de algo ruim ou de um terrível conflito

Dizer SIM pode ser ruim: para você e para eles

Muitas vezes dizemos sim para ajudar alguém. Pensamos: eu posso contribuir de alguma forma, mesmo não tendo tempo ou não querendo muito. 

Entretanto, essa é uma atitude que pode trazer tensão a médio ou longo prazo. A insatisfação ou a a mediocridade (em ser mediano e não excelente) podem tomar conta do acordo inicial, já que o tom do acordo foi o da incerteza. 

E dessa forma, nenhum dos lados sai ganhando: você por não contribuir com o seu melhor e eles ao não receberem o seu melhor.Ao longo do tempo, a frustração será a resposta dessa relação. 

O Não no Personal Branding

Quanto mais NÃO você diz ao que você não quer, mais você se alinha ao posicionamento que traçou para a sua marca pessoal. 

Dizer ‘não’ é não aceitar qualquer solução para a sua marca e, sim, aquela que se conecta com os seus valores e os seus objetivos. É subir e conquistar o topo da sua montanha ao dizer ‘não’, em vez de explorar outras montanhas ao mesmo tempo, e então nunca chegando ao topo. 

É entender o seu valor e então ser capaz de valorizá-lo – e dizer não para aqueles que não o valorizam. 

Boas práticas para dizer o não

  • Não peça desculpas. Afinal, não há culpa nenhuma envolvida nesse ato.
  • Não invente desculpas. Pratique ser direto e honesto com quem está te fazendo o pedido. Novamente, não há culpa envolvida. E por isso você não deve cultivar esse sentimento. 
  • Seja gentil. Ser direto e honesto não quer dizer ser brutalmente frio. 
  • Não diga “vou pensar” se você não quiser realmente pensar mais a respeito. Isso apenas prolonga a situação e te deixará ainda mais preocupado, desnecessariamente. 
  • O seu valor não está ligado ao quanto você faz pelas outras pessoas. E sim o quanto você faz bem o que você quer entregar às pessoas certas.

Dizer NÃO é um ótimo exercício para superar o medo de rejeição e ter o controle do seu próprio caminho. E em vez de sentir-se culpado ou em uma armadilha constantemente, essa atitude é um passo para nos sentirmos mais confiantes e ainda mais livres. 

Qual foi a última vez que você disse não a uma oportunidade ou a alguém? Como foi a experiência? E como você se sentiu?

Este texto também pode ser lido no LinkedIn e no blog da Juliana.

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