Como um chefe de cozinha se tornou freelancer

Coluna Freela

Para muitas pessoas a vida de freelancer é encarada como um passo contrário em direção a um emprego que pode ser considerado como “dos sonhos” : com estabilidade, equipes sob sua liderança e o reconhecimento dos seus pares.

E se eu disser que tive tudo isso e joguei pro alto pra virar escritor freelancer? Vem comigo que eu te mostro como um chefe à frente de 16 pessoas e 2 equipes muda os caminhos de sua carreira depois de 8 anos.

Uma carreira entre as panelas

Depois de fazer uma faculdade de Gastronomia, dediquei os últimos 8 anos da minha vida às panelas. Não foi fácil. Meu primeiro emprego era um estágio de 6 horas, de terça a domingo, pelo qual eu recebia uma ajuda de custos de R$300 para limpar peixes e lagostas.

À medida que o tempo passava, porém, fui galgando mais espaço na cozinha. Virei auxiliar de cozinha, depois churrasqueiro, cozinheiro, souschef, e algum tempo depois consegui minha primeira equipe em um self-service em Fortaleza.

Ao longo dos anos minha carreira de cozinheiro teve altos e baixos. Em seu ponto mais alto, liderei a cozinha de um dos cafés mais prestigiados da capital cearense. Chegamos a ganhar prêmios e matérias de jornal, com direito a toque blanche e tudo que se tem direito. Finalmente eu tinha uma equipe que não só era competente, mas com quem eu me dava muito bem. Eles me entendiam e eu a eles, e os dias movimentados eram como um balé caótico e maravilhoso.

O barulho de panelas e da impressora de comandas competindo com vozes que cantavam e confirmavam pedidos, garçons entrando e saindo alvoroçados, o calor úmido da cozinha fazendo minha testa suar e cozinheiros se espremendo entre bancadas com pratos decorados de forma impecável.

A adrenalina da cozinha é inebriante, e se você nunca a experimentou, não pode compreender como alguém pode ficar viciado em trabalhar 12 horas por dia, 6 dias por semana.

Mas me faltava algo.

Mesmo ganhando um bom salário e tendo o respeito e a admiração da minha equipe, depois de 7 anos eu sentia falta de desafios que me motivassem, sentia falta da minha vida social e de ter dois dias de folga por semana.

A verdade é que o trabalho em uma cozinha profissional pode ser bastante cruel, de formas que apenas quem já experimentou pode compreender. Eu me via cada vez menos disposto a pagar esse preço em particular. Por baixo do glamour dos programas de TV, existe um mundo de abusos, horas intermináveis de trabalho extenuante e salários quase sempre muito baixos. Já não queria mais compactuar com tudo aquilo.

Empreendedorismo como caminho

Abri meu próprio negócio em janeiro de 2017, um espeto de rua, e, embora tivesse boa receptividade, o trabalho era extenuante (das 9h às 23h, geralmente, considerando compras, preparo e a operação em si). Não demorei até perceber que o vazio que a cozinha não conseguira preencher não era o vazio da autonomia ou de ser dono do próprio negócio.

Nessa época eu já tinha um perfil no Medium onde escrevia de vez em quando, e foi uma surpresa ver que uma das minhas clientes trabalhava na revista Vós, uma revista cultural de Fortaleza. Disse a ela que eu gostava de escrever, vesti a cara de pau e pedi um espaço no site deles. Nascia minha primeira coluna.

Alguns meses depois, resolvi fechar meu negócio e refletir um pouco sobre os próximos passos a tomar. Foi quando lembrei da Rock. Era julho de 2017.

Um rápido flashback

Alguns anos antes, um amigo dos tempos do colégio havia me apresentado a Rock Content. Ele era advogado, estava escrevendo sobre Direito para complementar a renda e, lembrando que eu gostava de escrever durante o ensino médio, pensou que eu podia me dar bem ali.

Fiz minha candidatura mas nunca cheguei a escrever nada. Não conseguia ver nenhuma tarefa e os e-mails constantes no celular só me irritavam (os freelas mais antigos devem lembrar que o push de e-mails era feito sempre que aparecia uma tarefa nova, não duas ou três vezes ao dia).

Pedi para suspenderem meu cadastro e me dediquei à carreira de cozinheiro, à época muito promissora (ou, pelo menos, eu achava).

De chef de cozinha a redator

Voltando a 2017, escrevi um e-mail para o pessoal da Rock e pedi para reativarem meu cadastro. Eu iria escrever um mês e ver no que dava. Na pior das hipóteses, eu sempre poderia ligar para um colega de cozinha e pedir uma indicação.

Ao final desse mês, com apenas duas candidaturas, eu tinha produzido dinheiro suficiente para bancar minhas despesas básicas correntes. Era mágico. Eu poderia trabalhar de casa, a hora que quisesse, como quisesse, escrevendo sobre coisas com as quais eu me identificava.

A cozinha havia me atraído pela possibilidade de ser criativo e de me conectar com as pessoas fazendo um trabalho que eu amava, mas foi diante do computador que eu pude me expressar e estar em contato com a Gastronomia de formas mais profundas e mais significativas.

Até hoje alguns amigos me enviam indicações de vagas em algumas cozinhas, dizem que são “a minha cara”. Eu agradeço, claro. Afinal, é um gesto carinhoso: querem me ver tendo sucesso em uma carreira tradicional. Mais ou menos como a minha mãe, que até hoje me diz pra fazer concurso: – “você é tão inteligente!”.

Mas a verdade é que a vida de freelancer me permite fazer as coisas que eu quero, quando quero. Ao me recompensar pelo meu trabalho, me motiva a ser melhor e a produzir mais. Ao me mandar pautas tão diferentes, me obriga a estudar assuntos com os quais eu nunca entraria em contato. Ao me dar liberdade de horários, me deixa ir à praia terça-feira ou trabalhar tarde da noite, quando todo mundo já foi dormir.

Talvez eu mude de ideia no futuro — já aconteceu antes. Talvez eu volte a me envolver mais diretamente com a gastronomia ou faça o bendito concurso. Talvez eu trilhe ainda um terceiro caminho, hoje inaudito, nem de chef nem de freelancer.

Mas hoje eu escolho as palavras. Escolho me expressar e encontrar novos formatos para uma arte quase tão antiga quanto a própria humanidade. Hoje eu escolho essa luta, esse teclado, essa caneta. Hoje eu escolho.

E você, leitor, o que está escolhendo, conta aí pra mim, deixando seu comentário neste post!

Adnilson Pinheiro

Adnilson Pinheiro

Redator de Marketing especializado em Marketing de Conteúdo.

Essa foi a história do Adnilson!
Você tem alguma história de vida como freelancer que gostaria de compartilhar com a gente? Confira o form abaixo.

powered by Typeform
Compartilhe
facebook
linkedin
twitter
mail

Gostou deste conteúdo?

Envie-o para seu e-mail para ler e reler sempre que quiser.

Posts Relacionados

Sintaxe: TUDO que você precisa saber!

alt Redator Rock Content
fev 25, 18 | Leitura: 10min

Os melhores conteúdos para sua carreira freelancer, direto na sua caixa de entrada

Inscreva-se para receber no e-mail conteúdos exclusivos e em primeira mão.