A máxima da procura por emprego no mercado de trabalho atual é: “faça algo que você ama e nunca precisará trabalhar um dia na vida”. E com a infinidade de opções de carreira e a valorização do empreendedorismo, parece que a frase é mais válida do que nunca!
Bem, não de acordo com os estudos de professores de psicologia da Universidade de Stanford.
Para eles, a busca incansável pela paixão para construir uma carreira tem direcionado as pessoas para o caminho errado.
Isso porque o estudo recente realizado pelos professores Carol Dweck, Paul O’Keefe e Greg Walton defende que paixões não são “achadas”, mas sim desenvolvidas. E para defender o argumento, eles diferenciam duas mentalidades referentes às paixões de um indivíduo:
- Teoria de Interesses Fixos — é a ideia de que seus interesses são inatos, ou seja, você os carrega desde o nascimento e, mais tarde, os descobre;
- Teoria do Desenvolvimento — defende que os interesses individuais são cultivados ao longo do tempo.
Em entrevista ao The Atlantic, O’Keefe deu o exemplo de um estudante que pula de um laboratório para o outro à procura de um tema de pesquisa que sinta ser sua paixão. “É a ideia de que se não fico completamente arrebatado pela emoção quando entro num laboratório, não será a minha paixão ou o meu interesse.”
Para entender como ambas as perspectivas sobre a ideia de paixão afeta as escolhas que fazemos profissionalmente, os professores realizaram uma série de estudos com estudantes. Este artigo vai te ajudar a entender como a visão sobre seus interesses mais intensos pode alterar o rumo da sua carreira.
Como foi realizada a pesquisa?
O primeiro passo da pesquisa foi separar os estudantes entre interessados na área de Exatas (matemática e ciências) ou Humanidades (artes e ciências sociais).
Então os mesmos responderam uma pesquisa para determinar o quanto eles concordavam com a ideia de que interesses primordiais não mudam com o tempo. Depois disso, cada grupo leu um artigo de tema comum à área do outro grupo, ou seja, estudantes de Exatas leram artigos de Humanas e vice-versa.
O resultado: os estudantes que acreditavam na Teoria de Interesses Fixos mostraram total falta de entusiasmo em relação ao artigo de uma área diferente da de seus interesses.
Para os estudiosos, isso significa que estudantes que acreditam em interesses fixos provavelmente recusam exposição a oportunidades e conhecimentos que não se alinham às suas “paixões”. Ou mesmo que podem não estar enxergando a forma como disciplinas opostas podem se fundir.
O professor Walton utiliza a própria experiência com os alunos para exemplificar a característica mutável dos nossos gostos. Ao observar os estudantes ele afirma que a experiência de todos com a escola ou o meio acadêmico é de descobrimento de paixões. É o período em que assistimos diferentes aulas, palestras e temos conversas que acabam surpreendentemente nos interessando.
“É através de um processo de investimento e aprimoramento que você desenvolve uma paixão duradoura em um campo ”, afirma o estudioso.
Quais foram as conclusões?
O estudo gerou alguns resultados que valem ser analisados, principalmente se você está no início da carreira ou tem pensado em uma reformulação da sua trajetória profissional.
Além disso, é uma forma de repensar a própria mentalidade em relação às suas “paixões”. Veja abaixo as principais conclusões da pesquisa e reflita sobre como — e onde — você tem procurado pela realização profissional.
- A Teoria de Interesses Fixos pode acabar incentivando as pessoas a desistirem mais facilmente. Os estudiosos dão um exemplo: fizeram com que um grupo de estudantes assistisse um documentário didático e descontraído sobre astronomia, que não era a área de estudos de nenhum deles, mas ainda assim foi apreciado por todos; em seguida, pediram para que lessem um artigo científico técnico sobre o mesmo tema. Nenhum deles sequer finalizou a leitura.
Os pesquisadores concluíram que é muito mais fácil assumir que algo simplesmente não é sua paixão quando o nível de dificuldade cresce. - As pessoas que defendem a Teoria do Desenvolvimento têm menos medo de falhar. Isso porque confiam no cultivo de suas competências ao longo do tempo e do esforço que empregam para adquiri-las e aprimorá-las. Para os estudiosos, interesses têm relação com habilidades, mas, ao mesmo tempo, são coisas distintas. Por exemplo: você pode ter um grande interesse por basquete, mas não ser um(a) jogador(a) excepcional.
- A ideia de “encontrar uma paixão” é, para muitos, intimidadora. E isso pode significar uma estagnação quando se trata de experimentar novas ideias e áreas do conhecimento.
Um outro estudo, desta vez realizado com um grupo de adultos, sugere que as pessoas que acreditam que paixões são encontradas e não desenvolvidas tendem a escolher empregos e cargos que se encaixam com seus interesses desde o início. Nesse caso, eles priorizam satisfação instantânea.
Por outro lado, as pessoas que acreditam que as paixões podem ser desenvolvidas e aprimoradas têm outras prioridades ao escolherem um emprego. De acordo com os pesquisadores nesse estudo:
“Eles melhor se encaixam a suas vocações ao longo do tempo. Em conclusão, as pessoas que ainda não encontraram a função perfeita na carreira podem se animar – existe mais de uma maneira de alcançar a paixão pelo trabalho”.
O que aprendemos com os resultados?
A questão principal levantada pela pesquisa é a diferença de mentalidade quando se trata do significado de paixão pelo trabalho e setor em que atua. E essa mentalidade influencia diretamente as escolhas de carreira que fazemos. Já pensou em como você enxerga suas paixões? Tem tentado encontrá-las ou desenvolvê-las?
Para Paul O’Keefe, a validade da Teoria do Desenvolvimento de Interesses é inegável:
“Você pode saber absolutamente nada sobre câncer, mas se sua mãe desenvolver a doença, você vai se tornar um(a) especialista bem rápido”.
Mas esse exemplo pode gerar uma outra questão: um interesse desenvolvido por uma necessidade, como no caso de um ente querido com câncer, é realmente um interesse ou simplesmente uma motivação momentânea gerada por uma necessidade?
É preciso saber diferenciar aquilo que nos inspira e nos motiva a aprofundar nossos conhecimentos daquilo que simplesmente nos gera algum valor momentâneo.
Mas de acordo com a conclusão dos estudiosos, isso só seria possível se nos propuséssemos a imergir por completo em um assunto e nos mantivéssemos determinados a descobrir o máximo possível sobre ele antes de defini-lo como um interesse real ou “paixão”.
Portanto, é fácil testar o resultado do estudo: é preciso estar aberto a experimentar coisas novas e preservar o entusiasmo, mesmo quando algo se torna complicado para o seu entendimento. Se as paixões podem ser desenvolvidas, informação e treinamento suficientes diminuirão a dificuldade inicial gradativamente.
Abrace essa nova perspectiva e as incertezas de novos assuntos e áreas. Ainda não se encontrou na carreira? Que tal tentar algo completamente diferente? Ou abandonar o pensamento restritivo e se dedicar por completo e de cabeça aberta à área em que atua? A palavra-chave aqui é persistência. Além de uma boa dose de crença em paixões que se desenvolvem ao longo do tempo e não como características inatas do indivíduo.
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