Há um mês, quando estava em Bali, passava por uma espécie de crise de existencial. Há anos eu não fazia mais distinção de quem era eu e quem era o mundo – e as pessoas – ao meu redor.
A forma como vivemos hoje, constantemente cercados por outros seres humanos – tanto pessoalmente quanto virtualmente – faz com que muito de nós se misture com o que é dos outros. Por isto, chega um momento que é natural se perguntar o por quê de você estar fazendo o que está fazendo.
Então, pela primeira vez em muito tempo, eu estava sozinha, 100%. Não conhecia ninguém lá, mas ainda tinha a internet e as pessoas com quem conversava constantemente.
Neste período resolvi fazer um treinamento com uma professora de yoga chamada Angela e, para o meu choque, ela pediu que eu me afastasse das redes sociais durante 3 dias. Expliquei que meu trabalho depende das redes sociais, que eu uso elas para divulgar todo o conteúdo que produzo. Meu marketing pessoal é fundamentado nelas. Mas, mesmo relutante, aceitei a tarefa.
Solitude: ficar só por opção
Por definição, solitude quer dizer estar só propositalmente. Ou seja, se isolar para ter um período de reflexão e interiorização.
O que a Angela me assegurou com este período de solitude era que, na realidade, estes dias deveriam servir como uma espécie de mergulho dentro de mim.
Enquanto eu estava cercada por pessoas que conhecia ou quando estava nas redes sociais permitia que minha vida fosse moldada pelas necessidades alheias.
E isto, em algum momento, estava fazendo com que eu me perdesse dentro de mim, absorvendo muito dos outros e esquecendo do que era, de fato, meu.
Ela me disse que me distanciar das pessoas do mundo real e virtual por três dias – e escolher ficar só na minha própria companhia – seria a melhor forma de fazer o que eu queria fazer pelo simples fato de querer fazer. Deste modo não seria compelida ou tentada a fazer o que os outros esperavam de mim.
Portanto, esta espécie de isolamento serviria para me reconectar comigo mesma, encontrar o que me faz feliz, o que eu gosto de fazer e por último, mas não menos importante, me livraria da ansiedade gerada pelas redes sociais.
A experiência da solitude
Nos dias anteriores ao meu período de “reclusão” avisei às pessoas próximas que estaria me afastando das redes sociais por 3 dias. Sabia que nada de urgentíssimo aconteceria naqueles dias, mas pedi que me enviassem um e-mail caso fosse necessário ou algo relacionado à trabalho, afinal, eu ainda estaria trabalhando.
A princípio, três dias parecem muito, especialmente em tempos de internet onde tudo é imediato. Porém três dias são, na verdade, muito pouco se formos pensar na viabilidade da experiência.
É o tipo de coisa que você pode fazer até mesmo durante um feriadão. Não precisa se isolar totalmente do mundo real, mas colocar a meta de fazer apenas coisas que quer fazer e parar de usar outras pessoas – e as vontades delas – para se distrair.
Como estava em um lugar onde não conhecia ninguém foi fácil ter os dias inteiros só para mim.
Então, durante três dias pratiquei yoga, comi bowls de açaí com frutas, fiz compras, assisti à séries na Netflix, escrevi, li, comprei comida para os cachorros de rua, tomei banho de mar, caminhei pela praia e fui até lá no final da tarde só para assistir ao por do sol.
Naqueles dias, o celular era apenas meu despertador e eu estava muito feliz com isto. Mas, os resultados vão muito além de fazer apenas o que eu gosto.
O que você ganha ao estar só
Além dos resultados óbvios como ficar menos ansiosa esperando respostas nas redes sociais e parar de checar o celular a cada 10 minutos de forma automática, algo maior aconteceu dentro de mim.
Naqueles dias eu comecei a reestabelecer prioridades na minha vida. Percebi que muito do que estava fazendo – se não quase tudo – era baseado nos outros.
A viagem marcada para o Camboja, a “necessidade” de estar sempre nas redes sociais, a escolha das séries que assistia e até mesmo a forma como agia eram baseadas no mundo externo.
Sempre me orgulhei pelo fato de me adaptar facilmente à situações novas. Isso é uma característica maravilhosa. Mas, ao mesmo tempo, pode ser também um fardo.
Quando me adaptava facilmente à situações novas – ambientes, grupos de pessoas, etc – significava também que tinha muita facilidade em me transformar para me encaixar. E isso fez com que eu perdesse muito de mim e fosse apenas um mix dos outros sem se questionar se era aquilo mesmo que eu queria. Foi exatamente por isto que passei anos trabalhando nos empregos errados.
Por que estou fazendo o que estou fazendo?
Portanto, durante estes três dias eu tive muito mais questionamentos do que respostas. A cada vontade que tinha de fazer algo, me perguntava se estava fazendo aquilo porque queria e gostava daquilo, se fazia porque eu sempre havia sido influenciada pelos outros ou, pior, se estava fazendo isto para contar ou mostrar aos outros que havia feito.
A primeira vez que isto aconteceu foi quando entrei em um monólogo interno onde me questionava se eu realmente gostava de cerveja ou se era algo que fazia por causa dos outros. Eu sei, o exemplo da cerveja é algo banal, mas podemos trazer para tantas outras esferas.
Veja, o que quero dizer é que muitas de nossas ações, geralmente, não são pensadas em nós mesmos. Por vezes elas são baseadas em mostrar aos outros que você é algo que acredita que será apreciado pelo outro, ou simplesmente para se encaixar.
Isso acontece, também, no nosso cotidiano quando tentamos parecer felizes quando, na verdade, estamos tristes. Quando tentamos mostrar ao nosso ex chefe o quanto nosso emprego novo é incrível – quando não é assim tão bom. Ou quando postamos uma foto maravilhosa no Instagram, mas que sabemos que ela em nada condiz com a realidade.
O resultado de um período de solitude vai muito além do período de solitude em si
O mais importante é que estes três dias de isolamento das redes sociais não tiveram efeito apenas enquanto duraram. Eles trouxeram questionamentos constantes mesmo depois do fim da experiência.
A verdade é que agora estou muito mais consciente dos meus atos e pensamentos. Busco, sempre que possível, chegar à raiz das minhas motivações e isto melhorou muito minha saúde mental e minha vida. A partir daqueles três dias comecei a agir muito mais pelas minhas próprias motivações e pelo que me faz bem.
Depois deste período aprendi a me questionar muito mais e a realmente me estabelecer como uma prioridade. Desde então, sempre me questiono quando preciso tomar uma decisão. E isso se aplica até mesmo às escolhas mais simples como: “Estou aqui, conversando com esta pessoa porque aprecio a companhia dela ou por que não quero desagradá-la indo embora?”
É óbvio que nem sempre fazemos o que fazemos só porque amamos aquilo e, sim, porque precisamos pagar nossos boletos, estar próximo aos amigos e à família, etc. Porém, o grande problema é quando a maior parte da nossa vida é pautada nos outros.
Mas, a verdade é que quando nós fazemos o que fazemos pela motivação certa – porque queremos e amamos o que estamos fazendo – a vida fica muito mais feliz e leve. E às vezes, tudo que precisamos fazer é permitir a nós mesmos nos perguntar: “por que?” e “para quem?”.
Este texto também pode ser lido no LinkedIn e no blog da Laís.
Nota do editor:Já sonhou em ser nômade digital? Com a ajuda da Laís e outros 9 nômades brasileiros, produzimos um ebook sobre o nomadismo, fugindo dos filtros e do glamour do Instagram, abordando os desafios, dificuldades e, é claro, as vantagens desse estilo de vida. Partiu Mundo?