A linha tênue entre “networking” e “alpinismo social”

Matheus de Souza

Eu cresci ouvindo sobre a importância do QI. Você também, provavelmente. Não o quociente de inteligência, claro, mas a sigla usada informalmente para abreviar a expressão “quem indica”. Ou seja, aquele tipo de situação onde um profissional é indicado por alguém bem relacionado para determinada vaga de emprego.

O problema é que, citando os famosos versos de Belchior, eu era “(…)apenas um rapaz / latino-americano / sem dinheiro no banco / sem parentes importantes / e vindo do interior”.

Fui jogado no mercado de trabalho sem muitas opções. Alguns diplomas, muitas dúvidas e nenhuma referência. A primeira opção, como é para muitos jovens recém-formados, seria a aprovação em algum concurso público qualquer. Não rolou.

A segunda, e naquele momento a única, seria me mudar de cidade e tentar a vida em outro lugar. Me vi então em meio a recortes de jornais de vagas pouco promissoras em cidade vizinhas. Fui chamado para uma dessas vagas, passei na entrevista e em pouco tempo estava trabalhando numa cidade onde eu conhecia ainda menos pessoas.

O que fazer numa situação dessas além de trabalhar duro? Que atalhos pegar?

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As dicas que recebi – e que felizmente não apliquei

Se você trabalha numa filial, o que era meu caso, te falam para aproveitar os eventos regionais da empresa para conhecer o pessoal da matriz. Não para ser legal com aquelas pessoas ou tentar aprender algo com elas, mas para ter contatos. Contatos. Uma maneira elegante de chamar aqueles que você pretende usar, assim como faz com seus objetos, enquanto busca aumentar seu percentual de QI – de novo, não o quociente de inteligência.

Te falam também para fazer parte de grupos voluntários como o Rotary. Não para prestar serviços para a sociedade. A dica é ir pelo networking. De novo, fazer contatos. Um convite para fazer parte da maçonaria é bônus. Já ouviu aquele papo de que “somos a média das cinco pessoas com quem passamos mais tempo”? Então, essa é a sua chance de ouro.

Essa frase da “média das cinco pessoas”, aliás, já foi muito usada por mim – embora nunca tenha saído do campo teórico. Já até escrevi texto sobre isso. Me arrependo. Embora ela faça algum sentido, sua interpretação, geralmente, ultrapassa a fina linha tênue entre “networking” e “alpinismo social”.

Se aproximar de alguém apenas por interesse pode ser chamado de várias coisas, menos de networking. Networking é sobre criar conexões genuínas, conhecer pessoas que pensam como você, compartilhar habilidades para, aí sim, crescer profissionalmente. Uma abordagem que ultrapassa essa linha e não busca uma relação ganha-ganha separa o networking do alpinismo social.

O que mudou no alpinismo social de dez anos atrás – quando entrei no mercado de trabalho – para cá é a forma como ele tem sido feito. Com as redes sociais, tudo o que você precisa para aumentar seu QI é se tornar uma autoridade digital no que faz. Ou fingir ser uma.

Alpinistas sociais 2.0

Se o papel aceita tudo, a internet deu voz aos alpinistas sociais e é a responsável pela distribuição imediata dos convites para cafés com segundas intenções desses caras. E eles têm usado muito bem as redes sociais em suas escaladas.

Nimrod Kamer, escritor de comédia, lançou um livro intitulado “The Social Climber’s Handbook: A Shameless Guide” onde faz piada com alpinistas sociais que se utilizam de técnicas, no mínimo, controversas para alcançarem o topo de suas montanhas virtuais.

“Compre seguidores falsos, comentários falsos e curtidas falsas. Você vai criar muitos empregos em Bangladesh. A maioria das fazendas de cliques está localizada na Ásia. Por que pagar ao Facebook por um anúncio para promover o seu conteúdo quando você pode pagar diretamente aos agricultores?”

Uma empresa dificilmente investirá em algum influenciador digital, pseudo ou não, que tenha utilizado a técnica descrita por Nimrod. Mais do que números, marcas buscam por credibilidade, e isso você não encontra em fazendas de cliques asiáticas ou em bots russos.

Porém, essa escalada virtual por meios duvidosos pode enganar os mais ingênuos. Você recusaria tomar um café com alguém que tem mais de 50 mil seguidores e parece ser bem-sucedido no que faz? Provavelmente não. Muitos não recusam. E é aí que os alpinistas sociais vão se tornando cada vez mais bem relacionados e em pouco tempo aparecem num palco qualquer dando uma palestra sobre qualquer coisa.

Isso é uma verdade absoluta?

Esse texto é uma opinião. A minha opinião. Eu sigo sendo o cara da canção do Belchior, mas, dez anos depois, após trabalhar um bocado e me ferrar muito sem o tal do QI, construi uma certa reputação no que faço e criei relações verdadeiras.

Por ter vindo de baixo, da base da montanha, hoje consigo enxergar com clareza quando um alpinista social me aborda em minha caixa de entrada. Seja para tomar um café, participar de um webinário ou de algum “grupo de engajamento” no WhatsApp.

“Mas não se preocupe meu amigo

Com os horrores que eu lhe digo

Isso é somente uma canção

A vida realmente é diferente

Quer dizer

Ao vivo é muito pior”.

“Apenas um rapaz latino-americano”, Belchior

Este artigo também pode ser lido aqui e aqui.

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