Quando ouvimos falar sobre tradução automática, podemos acabar pensando que o tradutor profissional é uma das ocupações que perdem a relevância diante da tecnologia. Google tradutor faz, não é?
Porém, a realidade é bem diferente.
Vamos pensar, por exemplo, nos aspectos culturais envolvidos na produção textual: será que a máquina pode interpretar vieses ou expressões que não tem uma correspondência de um para um na língua de chegada? Pensemos em algo simples, como culinária. Famosos são os exemplos de cardápios com traduções, no mínimo, engraçadas.
Ao analisar rapidamente o exemplo anterior, é claro que a tradução automática torna-se mais uma ferramenta do que uma substituta, e essa perspectiva, o papel do tradutor continua sendo central.
Quer saber como trabalhar corretamente com tradutores automáticos? Continue a leitura para ficar por dentro do assunto!
O que é tradução automática?
Tradução automática, ou Machine Translation (MT), é o uso de recursos tecnológicos para alterar de maneira automatizada o idioma de um texto. Ou seja, uma frase em inglês pode ser convertida imediatamente para o português com um clique. Esta é uma definição bem simplificada, mas calma que já explico como ela é gerada!
Como funciona?
A tradução automática é possível graças a ferramentas de machine learning e Neural Machine Translation (NMT). As redes neurais artificiais são um grande avanço da tecnologia de automação de processos, pois permitem que os algoritmos tomem decisões e aprendam com os resultados dessas decisões — por exemplo, se a tradução sugerida faz sentido ou não — com níveis muito elevados de precisão.
Isso é possível porque conhecimento linguístico dos algoritmos utilizados na Neural Machine Translation é construído por meio da análise de dados relacionados aos idiomas envolvidos (o original e o meta) e das demais traduções automáticas realizadas. Com isso, o algoritmo aprende e passa a entregar traduções com cada vez mais qualidade.
Dessa forma, evita-se a tradução “palavra por palavra”, que era muito frequente nos primórdios da tradução automática e resultava em traduções desconexas, descontextualizadas e ineficazes. Como consequência do anterior temos, portanto, textos traduzidos de forma automática cada vez mais próximos dos que um ser humano faria.
No entanto, será que um livro inteiro poderia ser traduzido com MT? Isso me leva para o próximo ponto.
Conhecimento linguístico humano e algoritmos
Enquanto isso, o conhecimento linguístico humano é construído com base em estudos não apenas dos idiomas, mas também da cultura que os cerca.
Em quais ocasiões os mexicanos utilizam as variantes formais e informais de tratamento? Quais palavras idênticas em inglês são mais comumente usadas na Inglaterra ou nos Estados Unidos? Determinada palavra faz sentido em um contexto corporativo?
Esses são apenas alguns exemplos de momentos específicos em que a expertise e o conhecimento cultural de um tradutor humano mostram-se fundamentais para que a tradução cumpra os objetivos de fazer sentido para o leitor e de capturar o mais fielmente possível o que o texto original quer dizer — o que exige muito mais do que uma tradução literal.
Não há dúvidas de que a tradução automática é mais rápida do que a tradução humana. Mas a velocidade e o volume, é claro, não podem ser os únicos fatores levados em consideração para a eficácia de uma solução. É preciso garantir também a excelência do texto traduzido, especialmente nesta era marcada pela internacionalização, contexto no qual as fronteiras entre culturas são cada vez menores, começando pelas línguas.
É verdade que a evolução da Neural Machine Translation faz com que as traduções automáticas da atualidade sejam consideravelmente melhores do que as de alguns anos atrás. Mesmo assim, ela não pode substituir totalmente o profissional da área. Sem tradutor humano, sem a visão de mundo e o conhecimento linguístico e cultural que ele traz por meio da escrita, o algoritmo não tem como evoluir.
Quando usar tradução automática?
Em primeiro lugar a tradução automática mostra-se bastante útil para traduzir frases curtas e únicas.
Isso acontece porque uma única sentença — como “I would like some water”, ou “Eu gostaria de um pouco de água” — normalmente pode ser entendida de uma só maneira.
A tradução automática pode ser interessante, ainda, para traduzir textos que você não precisa ou não quer ler por inteiro, pois possibilita a compreensão da mensagem geral do material.
Agora você pode estar pensando: “tudo bem, mas os textos que preciso traduzir têm um volume muito alto e estou pensando em automatizar a tradução”. Neste contexto, também é uma ótima ferramenta para uma tradução mais complexa que será devidamente revisada por um profissional qualificado.
Se esse for o caso, mais uma vez o tradutor humano ganha relevância.
O papel do tradutor ou pós-editor
Se a tradução automática não pode substituir o tradutor humano, o recurso certamente pode ser utilizado para agilizar o trabalho desses profissionais.
Ao unir a velocidade da tradução automática com os conhecimentos específicos dos tradutores, que são capazes de imprimir a contextualização e a adaptação necessárias para uma tradução bem-sucedida, obtém-se o melhor dos dois mundos.
Quando a tradução automática é utilizada, o papel do tradutor é revisar o conteúdo traduzido entregue pela máquina, comparando-o com o material original para analisar problemas não apenas gramaticais, mas também culturais e de contexto. De forma resumida, o tradutor recebe a tradução “bruta” e torna-a mais refinada.
Por isso, o tradutor responsável pelo refinamento de traduções automáticas também pode ser chamado de pós-editor — seu trabalho, afinal, é semelhante ao processo de edição de um conteúdo produzido por outro.
Os riscos de usar machine translation sem um time profissional adequado
Quem decide confiar integralmente em uma tradução entregue por uma máquina vai certamente se deparar com diversos erros que, por menores que sejam, atrapalham bastante a experiência de leitura e a compreensão do texto.
Muitas palavras de um idioma podem ter significados parecidos ou idênticos, enquanto outras palavras podem representar inúmeras interpretações diferentes.
Na machine translation, esses termos confundem-se com frequência, pois nem sempre a máquina consegue identificar com total precisão a qual dos possíveis significados a palavra está atrelada naquele momento.
Enquanto isso, os tradutores humanos são capazes de contextualizar cada palavra, frase ou texto para entender exatamente qual das palavras é realmente a melhor opção. Conhecimento cultural aplicado ao trabalho de pós-edição vai garantir a naturalidade para o público-alvo do texto, portanto, não corra esse risco! Sempre pós-edite!
Outro problema possível é a escolha de palavras que não fazem sentido ou que não são comumente usadas dentro de determinado contexto profissional. Isso afasta os leitores do conteúdo, pois eles não vão sentir que o texto realmente os entende.
E a tradução automática também pode trazer erros gramaticais e de pontuação caso os algoritmos analisem os “pedaços” errados do texto.
Outro ponto interessante é o seguinte: a qualidade do texto traduzido de forma automática é proporcional à qualidade sintática e semântica do texto de partida. Não podemos esperar um ótimo resultado se o original apresenta erros de concordância ou de sintaxe, por exemplo.
Na produção de conteúdos multilíngues, por exemplo, fica ainda mais clara a ideia de que tradução vai muito além de algo que possa ser automatizado. Afinal, além das questões linguísticas e gramaticais, há também os aspectos culturais e estilísticos, igualmente importantes para que a tradução respeite o material original.
É possível usar tradução automática?
A tradução automática pode ser usada como ferramenta e assistência, mas o tradutor profissional vai continuar sendo imprescindível, não apenas para traduzir, mas também para revisar o material produzido automaticamente com MT.
Não podemos esquecer que a comunicação escrita é uma convenção social e uma prática humana que evolui conforme as sociedades evoluem também. Nesse sentido, as máquinas não podem interpretar nem reproduzir práticas culturais de forma natural entre os povos, portanto, não podemos deixar o tradutor fora da equação.
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