Em nosso idioma, os termos “objeto direto” e “objeto indireto” representam tipos diferentes de complementos verbais. O complemento verbal é tudo aquilo que completa o sentido de um verbo transitivo. Quando falamos em objetos diretos, estamos nos referindo aqueles complementos verbais que completam o sentido do verbo sem a necessidade de preposição.
É aí que a coisa começa a ficar complicada para a maioria de nós. Entender a necessidade dos objetos é a parte fácil da equação. Afinal, sem eles verbos como ler e comer não conseguiriam, sozinhos, transmitir uma ideia completa do que está acontecendo.
Entretanto, diferenciar entre objeto direto e objeto indireto pode ser um grande problema. Não há uma maneira mais fácil de aprender isso do que entendendo o que configura um verbo transitivo direto. Mesmo porque é na presença dele que o objeto direto se fará necessário
O que é verbo transitivo direto?
A língua portuguesa aceita verbos transitivos (direto e indireto), intransitivos e de ligação. Uma outra categoria pouco mencionada é a dos verbos bitransitivos, que demandam tanto objeto direto quanto indireto concomitantemente. Mas vamos nos ater aos três primeiros tipos de verbos citados aqui.
Predicação verbal é o nome da relação de dependência que existe entre verbos e seus complementos e essa relação pode ser diferenciada de uma maneira simples. Em todos os casos nos quais a ação que o verbo representa tem predicação incompleta o classificamos como transitivo. A principal característica do verbo transitivo, portanto, é não produzir uma informação completa por si só.
Mesmo que a transitividade seja uma característica importante dos verbos ela não é a única que os define. Isso porque eles podem se relacionar com seus complementos de maneiras diferentes. Graças a isso temos verbos transitivos diretos e verbos transitivos indiretos (bem como os bitransitivos).
São verbos transitivos diretos aqueles que pedem um objeto direto, ou seja, que constroem uma relação com os demais termos de uma frase sem a necessidade de preposições. Ficou complicado? O exemplo abaixo pode ajudar.
- Mariana trazia suas maquiagens na bolsa.
Na frase acima, vemos o verbo trazer e sua característica de transitivo direto. Mariana traz “suas maquiagens” que são o objeto direto. E nenhuma preposição pode ser encontrada na oração.
Um objeto indireto se comportaria de forma diferente, exigindo a presença de algo que conectasse complemento e verbo. Este algo é chamado de preposição. A, após, ante, com, desde, entre, perante, sob, sobre, por e contra são algumas delas.
O que ainda não respondemos é como você pode saber, pelo contexto, se um verbo é direto ou indireto. É esse conhecimento que fará com que a sua escrita melhore, pois tornará possível entender exatamente que elementos devem ser incluídos em uma sentença.
O principal truque utilizado para identificar a transitividade do verbo é transformá-lo em uma pergunta. Ainda citando o exemplo anterior temos:
- O que (ou quem) Mariana trazia?
- Mariana trazia suas maquiagens.
Caso a frase fosse construída como “Mariana trazia na bolsa” seria necessário uma pergunta do interlocutor para entender o que ela trazia. Portanto, trazer é classificado como verbo transitivo. Quer ver mais alguns exemplos?
- Comprei duas laranjas saborosas.
- Ela usou drogas naquela noite.
Na primeira frase o sujeito (eu) comprou o que? Duas laranjas. Elas são portanto o objeto direto e saborosas o adjetivo.
Da mesma forma, na segunda frase, se omitirmos o termo “drogas” será impossível saber o que ela usou naquela noite. Portanto, temos a necessidade de um objeto direto.
Caso nossos exemplos exigissem a presença de uma preposição para dar sentido a frase eles seriam de objetos indiretos. Alguns verbos que exigem objetos indiretos são:
- obedecer;
- ansiar;
- crer;
- aspirar (com o sentido de almejar);
- visar (com o sentido de objetivar);
- agradar;
- querer (com o sentido de estimar);
- assistir;
- custar (com o sentido de dificuldade); e
- revidar.
A grande diferença desses verbos é que:
- quem obedece, obedece a alguém;
- quem anseia, anseia por algo;
- quem crê, crê em algo ou alguém;
- quem aspira, aspira a alguma coisa;
- quem visa, visa a algo;
- quem agrada, agrada a alguém;
- quem quer, quer a alguém;
- quem assiste, assiste a alguma coisa;
- quem custa, custa a uma ação; e
- quem revida, revida a algo ou alguém.
Entender o objeto indireto é fundamental para diferenciá-lo do objeto direto. E, da mesma forma que acontece com os verbos transitivos diretos, a melhor maneira de fazer isso é transformando uma afirmação em pergunta.
Como usar o objeto direto?
Naturalmente, por se tratar de um tema relativamente difícil, o uso do objeto direto gera uma série de dúvidas. E é provável que, depois de uns anos fora da escola, você não consiga se lembrar da resposta para a maioria delas. Abaixo selecionamos algumas das maiores polêmicas com relação ao uso do objeto direto.
1. O que é o “núcleo do objeto direto”?
Sintaxe é o estudo das relações estabelecidas entre as palavras. Nesse estudo existe uma série de classificações com as quais a maioria de nós não está realmente confortável. Uma delas é o núcleo do objeto direto.
Em uma frase como:
- Entregamos as demandas aos clientes.
É fácil identificar que o objeto direto é representado por “as demandas”. Afinal, você já fez a pergunta mentalmente e percebeu que quem entrega, entrega algo. Como “demandas” é a palavra que dá significado a entrega ela é chamada de núcleo do objeto direto.
Nesse caso, em particular, temos um verbo bitransitivo. Quem entrega, entrega algo a alguém. Por isso “aos clientes” é o objeto indireto (e “clientes” é o núcleo).
O núcleo é sempre um substantivo e ele está sempre presente em ambos objeto direto e indireto. Identificá-lo corretamente é uma das coisas que você pode precisar fazer em uma prova de Português ou enquanto estuda gramática.
2. O que é objeto direto preposicionado?
Embora o nome deixe bem claro o que é um objeto direto preposicionado, sua aplicação na prática pode confundir muita gente. Estamos acostumados a associar as preposições ao objeto indireto e, por isso, naturalmente temos a tendência de classificar esta ocorrência equivocadamente.
A grande diferença entre o objeto indireto e o objeto direto preposicionado, entretanto, é a obrigatoriedade. Não é possível que um objeto indireto exista sem a preposição, pois ele não consegue fazer sentido dessa forma. Já um objeto direto preposicionado serve para, por exemplo, apontar um grupo de elementos específico.
Pense nas seguintes frases:
- Já comi os pastéis.
- Já comi dos pastéis.
O verbo comer, naturalmente, é um verbo transitivo direto. Pois quem come, come alguma coisa. Então a primeira frase está absolutamente correta.
Mas isso não significa que a segunda frase está errada. Nela temos a presença do objeto direto preposicionado, com o objetivo de diferenciar os pastéis em questão.
É que quando falamos que comemos os pastéis nos referimos a todos os pastéis, o que nem sempre é verdade. Quando dizemos que comemos dos pastéis, todavia, significa que ainda há o suficiente para outras pessoas.
A diferença de significado é um dos motivos para a existência do objeto direto preposicionado, mas não é o único. Há algumas situações nas quais ele é utilizado para denotar reverência. Observe as orações abaixo:
- Glorifiquei o Senhor Jesus.
- Louvei a Maria com fervor.
Nenhum desses verbos é transitivo indireto. Louvar e glorificar não exigem nenhum tipo de preposição. Porém, aplicados no contexto religioso eles costumam ser acompanhados delas, por uma questão cultural.
3. Qual o significado de objeto direto pleonástico?
O objeto direto pleonástico é um objeto direto que repete uma ideia já dita anteriormente. Quando ele acontece, o objeto direto é colocado no começo de uma frase e as formas pronominais a, as, o, os são adotadas para destacá-lo.
Não entendeu? Veja os seguintes exemplos:
- A chuva espalhou as folhas.
- As folhas, espalhou-as a chuva.
Se na primeira frase não há inversão do objeto direto e podemos entender claramente o seu sentido, na segunda ela ocorre com objetivo de enfatizar o que aconteceu. As folhas são referenciadas duas vezes, apenas para frisar a importância do fato.
O objeto direto pleonástico é muito utilizado na literatura, por autores como Mário Quintana.
4. Como descobrir o objeto direto?
Uma particularidade do objeto direto é que ele sempre pode ser substituído por: o, a, os, as, no, na, nos, nas, lo, la, los, las. Para isso basta que você utilize a técnica que já citamos anteriormente e transforme uma afirmação em pergunta, respondendo-a em seguida.
A maneira mais rápida de encontrar o objeto direto é perceber a substituição. Exemplo:
- O homem perdeu a carteira na rua.
- O homem perdeu a carteira na rua?
- Sim, o homem perdeu-a.
O termo substituído é sempre o objeto direto.
5. O que acontece com o objeto direto na voz passiva?
Frases construídas na voz passiva tem um elemento que as diferencia: o agente da passiva. O agente da passiva é quem pratica a ação. Nessas frases o sujeito não é responsável por ela.
O objeto direto, consequentemente, não existe. Ele é transformado sempre em sujeito. Esse recurso linguístico vem a calhar quando você precisa fazer a análise sintática.
Observe como a mudança ocorre:
- Patrícia mordeu um biscoito.
Aqui temos Patrícia como sujeito, mordeu como verbo e um biscoito como objeto direto. Como conseguimos identificar todos estes elementos inferimos também que o discurso está em voz ativa. Mas e no exemplo abaixo?
- O biscoito foi mordido por Patrícia.
Nessa frase o sujeito não é mais Patrícia, porque ela não protagoniza a ação. É o biscoito (sujeito) que foi mordido (verbo em voz passiva) por Patrícia (agente da passiva).
6. O que é pronome de indeterminação do sujeito?
Nosso idioma tem pronomes recíprocos, dentre os quais o mais conhecido é o “se”. Quando o “se” é utilizado em uma frase junto de um verbo transitivo direto preposicionado ele funciona como agente de indeterminação do sujeito.
O agente de indeterminação do sujeito tem como objetivo ocultar quem praticou a ação. Ele é útil quando queremos nos referir a um grande grupo de pessoas ou a ninguém em particular. As frases a seguir são um exemplo disso.
- Estima-se a Caetano Veloso.
- Corta-se a mão facilmente com esse abridor.
- Ouve-se o ruído.
Todos os objetos diretos aqui receberam preposições para ocultar o sujeito das frases.
7. Como o objeto direto aparece nas orações reduzidas?
Orações reduzidas são um tipo de oração subordinada, que não usam conectivos e apresentam verbos em forma nominal (gerúndio, infinitivo ou particípio). Ela pode ter função sintática de objeto direto ou indireto. Isso acontece com muita frequência, em frases como:
- O presidente disse ser importante aprovar o orçamento.
Poderíamos, facilmente, substituir a oração reduzida de infinitivo “ser importante aprovar o orçamento” por um objeto direto, como “isso”. Ela age completando o sentido de dizer sem usar nenhuma preposição, por isso tem o mesmo valor sintático do objeto direto.
8. Objeto direto flexiona verbo?
Os verbos no infinitivo seguem regras de flexão muito claras. Dentre as quais a de que um objeto direto não pode provocá-la. Mas mesmo assim, um erro comum, é fazê-lo.
Em frases como:
- Isso levou os redatores a buscarem seus direitos.
Temos dois verbos, cada um com seus respectivos objetos. No caso, “os redatores” são o objeto direto de levou. O problema aqui é a tendência a considerar “os redatores” o sujeito de buscar.
Quando isso acontece, flexionamos o segundo verbo sem necessidade. A frase correta seria:
- Isso levou os redatores a buscar seus direitos.
9. O que é objeto direto cognato?
A língua portuguesa é muito rica e por isso, em alguns casos, verbos intransitivos podem ganhar complementos. Esses complementos repetem a mesma ideia transmitida pelo verbo intransitivo e são conhecidos como objetos diretos cognatos.
- Antônio morreu uma morte absurda.
- Vanessa vive uma vida boa.
- Carla sonhou um sonho diferente.
Nesses casos perceba que o objeto direto cognato sempre repete a coisa que já foi dita. Em geral, trata-se do próprio verbo funcionando como substantivo. Em algumas ocasiões, eles também são conhecidos como objetos internos.
10. Como funciona o objeto direto deslocado?
O objeto direto é um termo integrante da oração, então precisa estar presente. E uma regra sobre o uso da vírgula indica que verbo e seus complementos jamais podem estar separados. Porém, o que fazer quando o objeto direto não está no lugar mais óbvio?
- Aos professores foram entregues cheques.
- Ao pai ela disse que não iria ao concerto.
- Ao jornalista foram concedidas entrevistas bombásticas.
Mesmo que o objeto direto não esteja no lugar que esperamos não é possível colocar vírgulas nessas frases. A única exceção ocorre na aplicação de objetos diretos pleonásticos:
- A mim, não me cabe achar nada.
E aí, você conhecia todas estas particularidades do objeto direto? Se a resposta for negativa, talvez seja hora de investir um pouco do seu tempo no estudo da gramática. Baixe agora mesmo o Guia de Português e Gramática Atualizado que preparamos para lhe ajudar!