O Brasil é o país com processos seletivos mais demorados do mundo, de acordo com pesquisa realizada pelo site de empregos Glassdoor no fim de 2017.
O país levava em média 39,6 dias para testar seus candidatos na época da análise. Entre testes online, dinâmicas de grupo e inúmeras entrevistas com gestores das mais diversas áreas, o sistema de seleção de grandes empresas no Brasil é reconhecidamente cansativo.
Conscientes da extensão de seus processos seletivos, essas instituições têm investido em práticas inovadoras para driblar a exaustão dos candidatos. Entre as mais comuns, está a elaboração de testes criativos baseados na lógica de jogos. A tendência é chamada de gamificação, ou seja, inclusão das características comuns aos games em atividades corriqueiras.
Segundo artigo do site Kenoby, “uma pesquisa realizada pela empresa M2 Intelligence e veiculada pelo jornal O Estado de São Paulo mostrou que jogos corporativos vão movimentar 5,5 bilhões de dólares no mundo em 2018. Já a pesquisa realizada pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) revelou que a previsão é de que 85% das atividades diárias até 2020 envolverão algum elemento de jogo.”
A previsão demonstra a eficiência da técnica em tornar atividades comuns mais interessantes e empolgantes. Atrai a atenção de concorrentes em processos seletivos ao construir uma imagem diferencial da empresa e ainda possibilita acessar habilidades dos participantes que o processo usual não era capaz de alcançar. Mas por ser uma prática relativamente nova, muda completamente o tipo de raciocínio que deve ser empregado para obter sucesso ao fim da seleção.
Por isso, resolvemos reunir as “instruções do jogo” para quem tenciona se preparar para o novo modelo e entender o que muda em processos seletivos gamificados. Aperte o play!
Por que a mecânica dos jogos está sendo implementada no mundo corporativo?
Também conhecido como jogo corporativo no Brasil, o processo de gamificação tem como principal vantagem sobre o recrutamento comum o fato de cada jogo criar um ambiente de aprendizado diferente.
Essa característica permite que as dinâmicas abranjam mais áreas do conhecimento e desafiem o candidato de forma mais ampla.
Além disso, a avaliação de performance fica muito mais fácil quando a lógica dos jogos é aplicada, porque são estruturados de acordo com um resultado claro e pré-definido. Como em um video game, a “missão” do jogador é clara desde o início do jogo.
A familiaridade da geração digital com as mecânicas utilizadas para gamificação dos processos corporativos estimula não apenas a atração desses profissionais, mas sua retenção e desenvolvimento dentro das organizações.
Afinal, jovens profissionais procuram por ambientes capazes de os instigarem de forma inovadora, utilizando as ferramentas comuns de seu universo digital para que as tarefas sejam mais propósitos do que obrigações.
Portanto, o método permite a personalização dos processos seletivos de cada empresa, definindo assim diferenciais que geram visibilidade para as mesmas no mercado. E o esforço por realizar um processo criativo, encorajador e instigante se reflete nas listas de empresas mais desejadas por profissionais.
Como funciona
Antes de criar um game de recrutamento, é preciso ter os valores da empresa e a cultura da área contratante enraizados no projeto. Somado a isso, deve-se definir as principais habilidades e competências a serem avaliadas nos candidatos. Alinhe essas duas partes à narrativa e mecanismo do jogo e você tem a sua primeira fase pronta.
A segunda fase consiste na criação de um roteiro, exatamente como acontece na produção de um game para computador ou console. Algumas perguntas são essenciais para montar a estrutura do jogo:
– Quais insights deseja estimular e quais emoções deseja despertar nos candidatos?
– Qual será a temática e a narrativa que o jogo seguirá para ser coerente?
– Qual será a progressão da dinâmica? (corresponde às fases do jogo e dá a sensação de avanço no jogo)
– Como dividirá os participantes e administrará as relações entre os grupos?
– Quais são as permissões e proibições do jogo?
– Qual é o objetivo final do jogo e quais recursos estarão disponíveis para o jogador alcançá-lo?
Então é só escolher o espaço ideal e reunir os materiais necessários para realizar o jogo.
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O que um jogo corporativo testa no candidato?
Como mencionado anteriormente, a gamificação permite acessar inúmeras competências que antes não eram sequer contempladas. Muitas vezes, um jogo corporativo tem um objetivo específico, mas acaba possibilitando a manifestação de aptidões não exploradas durante a definição do roteiro e objetivos do jogo.
Por ser uma atividade dinâmica que exige criatividade, muito do resultado vai depender das habilidades dos próprios jogadores e como eles lidam com cada desafio. Por isso a possibilidade de desfechos inesperados para a avaliação dos recrutadores.
Ainda assim, a técnica é capaz de avaliar de maneira diferenciada os aspectos mais comuns de interesse para as empresas e que sempre estiveram na lista dos recrutadres. O Kenoby define quatro competências principais testadas em processos gamificados:
- Resiliência: capacidade de adaptação a mudanças e transformação de obstáculos em oportunidades;
- Criatividade: pensamento inovador para alcançar resultados inesperados;
- Trabalho em equipe: gerenciar ideias e saber aproveitar os pontos fortes de cada membro de um time para alcançar um objetivo em comum;
- Raciocínio lógico: capacidade de montar um planejamento e pensar estrategicamente;
O envolvimento no processo e a habilidade para planejar-se e solucionar problemas também foram apontadas como características frequentemente avaliadas.
Para os candidatos, portanto, é importante pesquisar os valores da empresa e o que os recrutadores procuram em um futuro profissional. Assim, fica mais fácil construir a estratégia que utilizará nas dinâmicas gamificadas com foco no provável objetivo do processo seletivo.
Quais empresas estão utilizando a técnica
Inúmeras empresas têm utilizado a gamificação em seus processos seletivos. Conhecer as tendências é essencial para se preparar para uma seleção nesse modelo. Existem vários tipos de jogos corporativos, que divergem de acordo com os objetivos da empresa que os aplica.
A multinacional francesa de cosméticos L’Oréal, por exemplo, foi uma das pioneiras na implementação da técnica com seu jogo de negócios Brandstorm. Criado em 1992, o game dura dois meses, período em que os candidatos ficam responsáveis pela criação de produtos inovadores para uma das marcas da organização.
Unilever utilizou um modelo muito similar em 2017, quando lançou o Unigame, um jogo online que dividia os candidatos em grupos para criar projetos para a marca OMO.
Mas engana-se quem acha que a gamificação exige altos investimentos.
A multinacional de engenharia Radix, por exemplo, utiliza uma opção menos elaborada e, por consequência, mais barata: o Quix, um jogo de perguntas e respostas sobre assuntos ligados ao setor da empresa e a acontecimentos atuais. No fim, o mais importante é a criatividade dos recrutadores e a estrutura que melhor acessa as habilidades procuradas nos candidatos.
Por isso, cada jogo será uma surpresa, mas seus objetivos costumam ser similares. Então desenvolver o raciocínio dos games é a maneira mais efetiva de se preparar para a gamificação dos processos seletivos. Além de acompanhar o Blog da Adzuna, é claro!
Então, da próxima vez que te convidarem para uma partida de videogame, escolha seu personagem e preste atenção nas fases, estrutura e na lógica que você utiliza para percorrer o jogo. A prática pode afiar sua mente para jogos mais decisivos, como aqueles que impulsionam sua carreira.
Fontes
Quanto tempo dura um processo seletivo no Brasil e em mais 24 lugares
Games no recrutamento: como funciona e qual a sua importância?
Gamificação: como utilizar estratégias de jogos para alavancar seu negócio?