Qual a sua desculpa?

Matheus de Souza

Há uma enorme diferença entre o que você fala e o que você faz. E uma maior ainda entre os seus sonhos e as suas ações.

Falamos um bocado de coisas. E a verdade é que muito do que é dito não chega nem perto de ser realizado. São vontades que morrem com a mesma velocidade que nascem. E a culpa, no final das contas, é nossa. Só nossa.

  • Eu quero um novo emprego;
  • Eu quero passar num concurso público e ter estabilidade financeira;
  • Eu quero ter meu próprio negócio;
  • Eu quero me tornar um nômade digital.

Não há nada errado em sonhar. Aliás, isso muitas vezes é o que nos move. O problema é que as pessoas confundem sonhos com objetivos. Sonhos não pagam suas contas. Objetivos, se você trabalhar duro neles, podem pagar.

Mas, como saber, internamente, se aquela minha vontade é apenas um sonho ou realmente devo investir tempo nisso para torná-lo um objetivo?

Bom, eu posso não ser o Walter Mercado, mas é fácil prever o seu futuro baseado nas suas ações diárias. Mais fácil do que você imagina.

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O que você faz hoje determinará quem você será em três anos

Eu utilizo o exemplo dos três anos porque foi o tempo que levei para transformar um sonho antigo em realidade. Mas, como diria Karen Lumb, “Daqui a um ano você vai desejar ter começado hoje“.

Não importa qual a sua maior vontade. Se você quer alcançar algo na sua vida, suas ações devem estar de acordo com as suas palavras. Do contrário, você nunca sairá do lugar.

  • Você se alimenta mal? Em três anos ganhará peso e sua saúde não estará legal.
  • Você gasta mais do que ganha? Em três anos estará completamente endividado.
  • Você gasta seu tempo compartilhando besteiras no WhatsApp durante o expediente? Em três anos estará no mesmo lugar. Ou desempregado.

Viu? Eu não sou o Walter Mercado, mas é realmente fácil prever a vida de alguém nos próximos três anos apenas analisando suas ações diárias.

O que eu fiz três anos atrás

Caminhando pelas ruas de Roma em maio de 2018. Foto: Laís Schulz.

Eu sempre sonhei em ter flexibilidade para viajar o mundo enquanto trabalho. Foi por isso que cursei relações internacionais. Aos 17 anos, pensava que bastava terminar a faculdade para me tornar um diplomata. Porém, durante o curso, não mexi um músculo para que isso se tornasse realidade. Gastava mais tempo com o Orkut do que com os livros.

Tudo bem, eu era imaturo na época. Mas conheço adultos com mais de 30 anos que me contam suas vontades e, quando questiono o que estão fazendo para chegar lá, a resposta sempre passa por “esperando uma oportunidade“.

Sinto informar, mas quando você busca por uma mudança verdadeira, você não espera. Você faz acontecer. Você cria as oportunidades.

Se hoje eu viajo o mundo enquanto trabalho, não foi porque o Matheus de 17 anos escolheu cursar relações internacionais e ficou esperando uma oportunidade cair do céu enquanto participava de discussões sem sentido em comunidades do Orkut. A verdade é que até os 26 (tenho 29 hoje) eu era apenas um sonhador. Foi quando virei a chave e me tornei um fazedor. Foi quando a sorte, como alguns gostam de chamar as ações do dia a dia, sorriu para mim.

Olhando para a linha do tempo dos últimos três anos eu consigo entender exatamente como cheguei até aqui. Foi um caminho tortuoso, cheio de dúvidas e frustrações, um princípio de depressão até, mas com um final feliz que, embora não seja literalmente o final, aquele definitivo, é construído a cada dia.

Cada vez que alguém me pergunta “como ser um nômade digital?“, por exemplo, eu volto para 2015. Assim como muitos que me leem, eu estava completamente insatisfeito no meu trabalho. Não via sentido no que fazia. Mas, não fazia absolutamente nada para mudar essa situação. Esperava alguma intervenção divina ou um prêmio da loteria – mesmo não apostando nela.

Você provavelmente já ouviu o ditado popular de que “a desculpa do aleijado é a muleta”. Essa frase, embora hoje em dia não seja a coisa mais politicamente correta do mundo, ainda é capaz de gerar reflexões interessantes.

Todos nós temos ou tivemos as nossas muletas. A minha, por muito tempo, foi ter nascido em Imbituba, uma cidadezinha no litoral sul de Santa Catarina. Cresci com a crença limitante de que eu nunca teria as mesmas oportunidades profissionais de uma pessoa nascida no eixo Rio-São Paulo.

Passava meus dias enviando currículos para multinacionais com a esperança de que alguém me descobrisse. Pensando racionalmente, qual a chance? Pois é.

Numa daquelas crises de “o que eu vou fazer da minha vida” e “no que eu sou bom“, descobri o marketing de conteúdo. Porém, minha ideia inicial não era trabalhar com isso. Eu continuava pensando em trabalhar em alguma multinacional. Mas, como ser visto por uma delas morando lá em Imbituba?

No meu caso, criei um blog e comecei a escrever sobre assuntos que estudei ou estava estudando, já que minha experiência era quase nula na época. Eu pensava que assim poderia ser descoberto, numa espécie de marketing de conteúdo pessoal.

Foram alguns meses escrevendo até eu pensar em desistir pela primeira vez. O tempo passou e eu sofri calado e percebi que, talvez, precisasse de outra estratégia. Recorri ao LinkedIn. Atualizei meu perfil e tentei entender melhor seu funcionamento. Para a minha surpresa, naquela semana o LinkedIn havia se tornado uma plataforma também de conteúdo. Desde o final de 2015 é possível escrever artigos dentro da rede. Pensei que isso seria muito mais efetivo do que escrever no meu blog que ninguém lia, afinal, recrutadores estão no LinkedIn.

Após exatamente 1 ano escrevendo meus artigos, o próprio LinkedIn lançou uma lista com os brasileiros mais influentes da rede em 2016. Para a minha surpresa, meu nome estava em terceiro lugar. Nas semanas seguintes, grandes empresas começaram a me procurar. Mas, não oferecendo vagas de emprego: elas me ofereceram trabalhos. Ou seja, a minha estratégia deu mais certo do que o esperado. Eu tinha uma demanda antes mesmo de ter um serviço.

Durante o verão, quando todos estavam de férias curtindo a praia, organizei os serviços que ofereceria na função de freelancer e como faria isso. Saí do meu emprego e hoje, 1 ano e meio após ter fechado meu primeiro contrato de produção de conteúdo, escrevo esse texto diretamente da Itália, onde vivo e trabalho remotamente desde abril de 2018.

Eu conto isso não para que você me enxergue como um modelo a ser seguido ou mesmo para me gabar dos meus feitos. É mais para te dar um tapa na cara – ainda que virtual. Te mostrar como é a realidade, sabe? Escrevo esses pensamentos, contando um pouco da minha historia, para que você saiba que atrás daquelas fotos lindas do Instagram teve e ainda tem muito trabalho duro. Teve e ainda tem muito suor. Teve e ainda tem muita incerteza.

E teve até muito choro escondido no banheiro da empresa. Hoje não mais.

A moral da história? O que você faz hoje determinará quem você será em três anos.

Suas ações estão de acordo com os seus sonhos?

Ok, eu contei acima que eu fiz algo. Que eu me mexi. Contei minha história. Porém, você muito provavelmente não conseguirá replicar os meus resultados fazendo as mesmas coisas que eu fiz três anos atrás. Tem a questão do timing. Tem a questão da realidade de cada um. Além disso, minha vida da época é diferente da sua vida agora e o mundo também mudou um pouco nesses três anos.

O que você tem que entender, quando resolver se mexer, é que cada pessoa tem um perfil diferente. Então, quando você me pergunta “como posso me tornar um nômade digital?” a verdade é que eu não faço ideia. Eu fiz de um jeito. A Laís de outro. E nós não sabemos nada da sua vida, dos seus sonhos, do seu trabalho. É o tipo de resposta que você só encontra através de muito autoconhecimento. E, quando você finalmente a encontrar, não pense que apenas isso bastará. Toda a sua rotina deverá ser pensada para você chegar lá. Do contrário, será apenas um sonho. Aquela diferença entre falar e fazer que explico no início do texto.

Digo isso porque em nossas andanças pelo mundo e em trocas de experiências pelo Instagram conhecemos diversos perfis de nômades digitais. Diversas histórias de pessoas que chegaram onde estão porque transformaram aquilo que saía de suas bocas em ações concretas. Homens e mulheres que descobriram sozinhos como largar suas muletas para andar por conta própria.

Eu e a Laís viajamos juntos. O Marcos sozinho. A Debbie com os seus dois cachorros. O Fernando, literalmente, carrega sua vida em quatro mochilas. O Eric tem 69 anos e é nômade digital antes mesmo de o termo existir.

O que temos em comum é que todos nós, em algum ponto das nossas vidas, nos autoconhecemos e agimos para que essa nossa vontade de ter flexibilidade para trabalhar e viajar o mundo ao mesmo tempo se tornasse realidade. Ou seja, tornamos nossas ações de acordo com os nossos sonhos.

Seja seu sonho se tornar um nômade digital ou não, acho que você entendeu meu ponto aqui: pare com as desculpinhas, bicho.

Este artigo também pode ser lido aqui e aqui.

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