Várias informações básicas que usamos no dia a dia estão adaptadas ao português. É algo que temos como dado hoje no Brasil, mas nem sempre foi assim. Há cerca de vinte anos, era mais comum alguém desbravar sistemas, manuais e jogos em outros idiomas do que ter acesso amplo a conteúdos estrangeiros na nossa língua.
Mas o cenário mudou, certo? Se você der uma boa olhada em plataformas digitais e aplicativos que usa, a sua vida não é nada complicada com eles. Basta alterar as configurações de idioma e, assim, num piscar de olhos, interfaces estranhas num primeiro momento se tornam companheiras de rotina.
E isso acontece graças ao processo de localização, que faz com que produtos, serviços e plataformas sejam adaptados para diversas línguas, conectando pessoas ao redor do mundo.
O primeiro passo para isso é a tradução, ou seja, a decodificação de textos entre uma língua e outra. Mas sozinha ela não é o suficiente para garantir que a mensagem funcione em diferentes contextos culturais. E é aí que entra o trabalho de revisão para tradução, a cereja do bolo para localizar do jeito certo.
Que tal conhecer essa modalidade de revisão? Nas próximas linhas, vou compartilhar com você tudo sobre essa área promissora em um cenário irreversível de globalização.
Aqui está o guia para a sua leitura:
- O que é revisão para tradução?
- Qual é a diferença desse nicho?
- O que se espera de um revisor para tradução?
- Por que a parceria tradutor-revisor faz bem para o mercado?
O que é revisão para tradução?
Estamos falando de uma especialidade de revisão orientada ao sucesso da experiência de usabilidade do usuário. O resultado de um conteúdo que passa por esse processo é uma entrega eficaz e exata, com o refinamento necessário à compreensão de mensagens em interface multilíngue.
Vou repetir um pouquinho, mas preciso que você guarde bem a ideia! Quando produtos, serviços e plataformas estrangeiros oferecem usabilidade adequada em português brasileiro, isso quer dizer que estamos diante do resultado de um projeto de localização bem-estruturado.
A revisão entra no fluxo produtivo após a tradução e a edição do material original para a língua de destino, garantindo o melhoramento global do conteúdo para o novo público-alvo. É, de fato, a etapa de Q&A da tradução.
Pense nos grandes serviços de streaming — Netflix, HBO On Demand e Amazon Prime —, que oferecem aos falantes de diversos idiomas que não o inglês o acesso amplo e intuitivo a seus conteúdos. Isso não seria possível sem o controle de qualidade e a adequação cultural efetivados pela revisão.
Qual é a diferença desse nicho?
Sem dúvidas, as boas práticas de revisão tradicional devem estar presentes na checklist de quem valida conteúdos traduzidos, como marcas de pontuação, tom de voz e estilo, elementos gramaticais e ortográficos, coesão e coerência, formatação. Não há nenhuma diferença nesse ponto.
O que de fato distingue a revisão para tradução é que ela é um processo multifacetado, que envolve o dobro de trabalho, já que é orientada por pares de idiomas, e não somente por um único código linguístico.
Assim como a própria tradução, ela é uma atividade entre culturas e, portanto, tem o objetivo de aproximar leitores e falantes de idiomas diversos. Uma frente de ação que exige senso lógico e crítico apurado para que a entrega final se mantenha consistente e única, seja no Brasil, seja no Japão.
Entre os principais pontos que esse processo da localização deve identificar e ajustar, além dos elementos gerais de revisão, podemos citar:
- repetições, omissões e erros;
- termos inapropriados;
- estranhamento para o público de destino;
- consistência da mensagem;
- excelência de usabilidade.
Em poucas palavras, a lógica da revisão para tradução é esta: é mais sobre a manutenção da exatidão de sentido do que a transposição palavra a palavra de um texto original.
Mas como esse trabalho é feito? Ou, melhor dizendo, o que um profissional precisa ter para fazer entregas localizadas bem-sucedidas? Isso é justamente o que você vai ver na próxima seção.
O que se espera de um revisor para tradução?
Logo de início, temos de entender que a revisão de conteúdos traduzidos não é rígida, com regras e fórmulas fechadas. E também que o trabalho deve ser orientado pela noção de naturalidade da mensagem: o objetivo, ao fim, é parecer que o texto foi realmente criado na língua de destino, seja qual for o meio.
Para isso ser possível, o profissional que revisa traduções tem de estar em constante atualização, acompanhando as transformações linguísticas e as tendências de comportamento, conhecimento e consumo. Além disso, a lapidação do caminho vem com o desenvolvimento de certas habilidades específicas.
A seguir, separei 3 pré-requisitos para a etapa final da localização de produtos, serviços e plataformas. Descubra comigo o que um revisor da área precisa treinar e aprimorar!
1. Proficiência multilíngue
Já falei bastante sobre o caráter multifacetado da revisão para tradução, não é mesmo? E é por isso que acredito que devemos começar a lista de habilidades justamente neste ponto que envolve alto domínio conceitual e técnico.
Para validar a adaptação cultural entre idiomas diferentes, não basta apenas falar bem. Isto é, uma pessoa que usa uma língua-mãe e uma estrangeira em modo operativo, comunicando-se bem em ambas, não está necessariamente apta a revisar profissionalmente.
Quem se dedica à revisão para tradução tem de conhecer os códigos linguísticos de ambos os idiomas com os quais vai trabalhar, bem como a maneira adequada de aplicá-los em diversos canais. Logo, a qualificação profunda do par idiomático — em fala, leitura e escrita — é necessária.
2. Análise comparada
O processo de revisar um conteúdo traduzido se caracteriza por uma leitura bastante similar à do cotejo do mercado editorial. De modo simples, isso nada mais é do que confrontar dois textos na busca por semelhanças e diferenças.
Como o objetivo é entregar a mensagem exata, sem perdas de significado e do conteúdo bruto que deu origem ao processo de localização de uma demanda, o revisor deve fazer um comparativo entre versões, a original e a traduzida.
Esse é um processo indispensável para a manutenção do controle de qualidade. Assim, o revisor confirma que a entrega estará completa — é uma grande responsabilidade!
Imagine, por exemplo, se um parágrafo importante de um protocolo de saúde simplesmente sumir da versão traduzida para uma nova língua! Quantos problemas isso pode gerar não só para a instituição, mas também para todas as pessoas que precisarem de atendimento?
O exemplo acima é alarmante e pode realmente acontecer na rotina de produção, seja por falha humana, seja por problemas de software. Logo, o revisor entra em cena dando o ponto final que assegura a apropriada ligação entre contextos.
3. Familiaridade com variados recursos
Todo revisor de tradução precisa estar munido de ferramentas que tornem o trabalho mais produtivo e controlável. É essencial ter em mãos um glossário e um guia de linguagem, materiais previamente produzidos pela equipe editorial e que com certeza podem contar com as sugestões e a análise do profissional de revisão.
Além dos documentos próprios do projeto, boas referências online e offline não podem faltar. Livros de citações, dicionários gerais e aplicados e gramáticas são velhos companheiros de quem revisa e são indispensáveis para aprimorar uma tradução.
Também precisamos entender a relevância da automação, que é uma realidade no segmento de edição de conteúdo. Existem variadas ferramentas gratuitas que dão suporte à checagem de padrões e terminologias, então, faça bom uso delas! Essa é uma forma de não só melhorar a qualidade da entrega, mas também de garantir dinâmica e rotatividade aos projetos.
Exemplos bem conhecidos dos revisores são os corretores online, como o Language Tool, que ajuda na identificação de termos repetidos e usos impróprios, e o Diff Checker, que faz o controle de versões.
O caso do Google Tradutor
Outra dica interessante é o uso do famigerado Google Tradutor. Tanto que vale até um item só sobre ele neste post.
Por muito tempo, esse recurso de tradução automática foi visto com maus olhos. E não sem razão: as pessoas jogavam blocos inteiros de texto na ferramenta sem nem ao menos se darem ao trabalho de conferir o resultado final.
E é essa a história por trás de muitas traduções sem sentido, ou, melhor dizendo, não revisadas nem localizadas, pois não captavam as nuances linguísticas.
Hoje, o que vemos é uma realidade um tanto diferente. No cenário de intensa globalização das últimas décadas, milhares de usuários colaboraram com a verificação de traduções do sistema e grandes investimentos de machine learning foram feitos na plataforma. Tais ações ajudaram a aumentar a precisão de terminologias.
Mas isso não quer dizer que uma tradução do Google Tradutor esteja pronta para ser usada nem que um texto deve ser revisado somente com a automação. O argumento aqui é que a ferramenta pode ajudar na verificação de dúvidas rápidas, com o usuário fazendo um uso inteligente das funcionalidades disponíveis.
Além das ferramentas que citei acima, existem inúmeras outras opções. Seja quais forem as suas escolhas, o importante é trabalhar com credibilidade e evitar decisões baseadas no feeling — analisar dados é essencial para a inteligência de conteúdo.
Por que a parceria tradutor-revisor faz bem para o mercado?
Deixei para o fim o ponto que amarra toda a nossa conversa até aqui: a relevância de uma revisão para tradução adequada no contexto de negócios. Vivemos uma época não só de economias interligadas, mas de grupos sociais que só se encontram porque existem as redes digitais. De fato, o mundo lá fora nunca esteve tão dentro das nossas casas.
E as mensagens que circulam nesse espaço dinâmico e comunicativo que estamos vendo surgir e se formar ao mesmo tempo só funcionam porque temos processos que garantem a aproximação das linguagens, tópico que reforcei muito na leitura até aqui.
Pensando nisso, mais do que nunca a tradução tem um espaço de destaque nas relações. E a garantia de que a essência original vai ter um resultado claro e equilibrado está na consistência promovida pela figura do revisor.
Podemos dizer que o que acontece é como uma releitura moderna do processo editorial padrão. Por meio de canais cada vez mais fluidos, tradutores e revisores encontram novos métodos para garantir excelência nas entregas.
De fato, essa interlocução entre profissionais, num trabalho colaborativo, é o que efetiva as entregas de demandas localizadas. Uma tradução perde muito quando não é editada e adaptada culturalmente. Que tal pensar num exemplo famoso?
Na campanha da Coca-Cola que fez sucesso com o nome das pessoas nas latas de refrigerante, seria impossível que a marca fizesse sucesso mundial se não entendesse a necessidade de lançar a estratégia considerando os aspectos locais.
John faz sentido nos Estados Unidos, né? Mas será que João não é o melhor para o Brasil? São detalhes assim que fazem a diferença, e as decisões passam por profissionais que entendem e investigam essas nuances.
Para finalizar
Preciso falar sobre a cultura do feedback. A parceria e o sucesso da estratégia para a localização de um produto, um serviço ou uma plataforma dependem de uma ação coerente e coesa entre os profissionais da equipe.
Logo, as decisões não são arbitrárias ou de mão única: uma revisão humanizada é essencial para negociar as escolhas terminológicas e alcançar resultados efetivos.
E aí, já tinha pensado na relevância da revisão para tradução? Essa é uma área que já tem tempo de estrada, porém, vem ganhando ainda mais relevância no contexto globalizado.
Inclusive, se você tem interesse e domina técnicas de conteúdos multilíngues, que tal desbravar mais um espaço profissional? Preencha o formulário do nosso Banco de Talentos. Quem sabe a sua expertise não seja justamente o que precisamos para a nossa estratégia?