Eu não sou uma fraude: como lidar com a síndrome do impostor

síndrome do impostor

Mas então você está em um novo cargo cheio de responsabilidades, a frente de sua própria empresa ou mesmo conversando com alguém sobre seu trabalho, e se pega pensando:

  • Quem sou eu para falar disso?
  • Eu não mereço estar aqui…
  • Consegui tudo isso por sorte.
  • Eles vão descobrir a verdade e eu vou perder tudo!

Ou, em outras palavras, “eu sou uma fraude”.

Seus amigos te tem como referência, seus colegas ressaltam o profissional excepcional que você é, os superiores te parabenizam pelo seu trabalho e até o seu lado racional diz que você está enganado, mas não importa. No fundo, você sabe que é uma farsa — é só uma questão de tempo para que os outros percebam isso.

E aí, se você se identificou com essa descrição? Se sim, provavelmente você é mais uma vítima da síndrome do impostor, que atormenta milhares de profissionais em todo o mundo e das mais diversas especialidades.

E agora nós vamos falar disso porque não, você não está sozinho nessa.

O que é a síndrome do impostor e qual a sua origem

A síndrome do impostor é um fenômeno psicológico caracterizado pela incapacidade de assimilar os próprios méritos e pelo sentimento constante de inadequação.

Isso significa que não importa o quão duro uma pessoa tenha trabalhado para atingir determinado objetivo ou quanto reconhecimento receba. Se ela sofre da síndrome do impostor, vai acreditar que tudo não passou de um golpe de sorte ou que de alguma forma enganou a todos para chegar lá.

A origem desse fenômeno é a comparação.

Primeiro você olha para o outro e pensa: que pessoa sensacional! Por que eu não sou talentosa como ela? Por que não sou inteligente como ela? Por que não consigo os mesmos resultados?

Como se sente inferior, busca compensar esse déficit com trabalho. Afinal, você sente que precisa de um esforço absurdamente maior para ser incrível como as pessoas que admira.

Então você se esforça mais e mais… Talvez ganhe uma depressão, ansiedade e sofra de esgotamento, mas conquista muitas coisas. Porém, mesmo com todo sucesso, nunca sente que é conseguiu o suficiente — e nunca conseguirá, porque você nunca terá uma vida exatamente igual à do objeto de comparação.

O resultado disso tudo é incapacidade de reconhecer suas vitórias e o sentimento de inadequação que mencionei acima. Você repete para si mesmo que não conquistou nada, que não merece o reconhecimento de ninguém e que não deveria ocupar o lugar em que está.

Resumindo, você se convence que é um impostor: uma versão pobre e tosca de quem você deveria ser se finalmente fosse bom o bastante.

Mas não é só insegurança?

A diferença da síndrome do impostor para a insegurança é que quem sofre dela geralmente acredita que está sozinho nessa.

Isso quer dizer que não importa se eu fizer uma lista aqui de pessoas que sofrem desse mesmo mal. Para um “impostor”, é óbvio que elas são incríveis — a verdadeira fraude é ele. E olha que existem muitas vítimas para listar, algumas surpreendentes!

“Parece que quanto melhor eu me saio, maior é o meu sentimento de inadequação, porque penso que em algum momento, alguém vai descobrir que eu sou uma farsa e que eu não mereço nada do que conquistei”. A fala, que poderia ser minha ou sua, é de Emma Watson, estrela dos filmes da saga Harry Potter, vencedora de um prêmio Bafta e Embaixadora da Boa Vontade da ONU.

Outro caso famoso é o da escritora Maya Angelou, que foi indicada para o prêmio Pulitzer de literatura, ganhou cinco Grammys e recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, maior condecoração civil dos Estados Unidos e que reconhece cidadãos que fizeram uma contribuição notável à sociedade. No entanto, afirmava veemente: “escrevi onze livros, mas toda vez penso, ‘é agora, eles vão descobrir. Eu estava fazendo um jogo com todos, mas agora serei desmascarada’”.

Não que esses casos sirvam de consolo, é claro. Ao escrever este conteúdo, eu mesma me sinto uma farsa. Mas fui estudar o assunto e quero compartilhar com você o que aprendi.

Por exemplo, no livro “Os pensamentos secretos das mulheres de sucesso”, de Valerie Young, descobri que existem cinco tipos de impostor (não somos todos iguais!). Então tomei a liberdade de listá-los abaixo, traduzindo cada perfil nas minhas próprias palavras.

Os cinco tipos de impostor

O perfeccionista

O impostor perfeccionista é o famosa louco das metas. Ele tem extrema dificuldade de delegar tarefas, por isso está sempre estipulando novos marcos para si mesmo. E ah, você dificilmente o pegará desprevenido no caminho até a linha de chegada, pois ele sempre planeja tudo nos mínimos detalhes.

A razão disso tudo é que o impostor perfeccionista não se permite falhar. Por isso, não arrisca nada fora da curva, não surpreende e não faz nada por simples medo de errar.

O super-herói

O impostor super-herói é o funcionário que boa parte dos empregadores adora: uma pessoa disponível 24 horas por dia, que responde email não importa a hora em que você enviar e faz hora extra mesmo não sendo necessário. Um santo, que não recusa trabalho em hipótese alguma.

Porém, o verdadeiro nome disso é compensação. O super-herói tenta se provar o tempo todo porque não acha que merece as coisas que tem. Ele mostra o máximo de competência para conseguir validação externa e mostrar para si mesmo que pelo menos em uma coisa na vida ele é bom.

A criança prodígio

Também conhecida como a promessa da família, aquela que todo mundo dizia que estava destinada ao sucesso… Até que a criança cresceu e se transformou em um adulto extremamente competitivo, que evita qualquer coisa em que não possa ser o melhor.

Esse tipo de impostor não gosta nem da ideia de ter um mentor porque acha que pode fazer tudo sozinho. E não só pode, como precisa acertar tudo de primeira e ainda impressionar. Do contrário, sua confiança é seriamente abalada e é como se ele não valesse nada, não tivesse feito nada.

O individualista

Assim como a criança prodígio, o impostor individualista tem que dar conta de tudo sozinho. Não porque precisa ser o melhor, mas porque teme que sua real capacidade seja questionada caso peça a ajuda de outras pessoas.

Na tentativa de mostrar seu valor, ele se esforça para abraçar o mundo e não aceita ajuda de jeito nenhum, mesmo que precise. Além disso, sempre faz pedidos em termos do projeto, para a empresa, mas nunca para si próprio. Afinal, longe dele precisar de algo!

O expert

O impostor expert é aquele que mesmo depois de anos fazendo a mesma coisa, sente que não sabe nada e sua frio quando alguém diz que ele é referência naquela função.

Como se sente despreparado, está sempre buscando novos cursos, treinamentos, leituras… Sempre existe uma qualificação nova para que ele finalmente se considere apto a fazer algo.

E o expert é rígido: não se candidata nem para ganhar chocolate se não cumprir todos os requisitos. Assim, ele se sobrecarrega e procrastina, tudo para esconder que não se acha bom o suficiente para nada.

Bônus

Agora me responda: você se identificou com algum tipo de impostor? Estudando esses cinco tipos de impostor, eu descobri que não me encaixo em nenhum deles. Surpreendentemente, me encaixo nos cinco. (Risos nervosos)

Repassando na minha mente, lembro de três situações específicas em que me senti uma completa e absoluta farsa trabalhando aqui na Rock. Vamos a elas!

Era um dos meus primeiros dias de trabalho e a Marina, nossa Analista de Email Marketing, veio tirar uma dúvida comigo sobre o RD Station. Eu respondi o que sabia e, em seguida, ela me agradeceu dizendo que era ótimo conversar com quem entendia do assunto. Depois, me contou que havia feito uma lista de profissionais referências em Email Marketing no Brasil e que eu estava entre eles.

Enquanto sorria para ela, eu só conseguia pensar: meu Deus do céu, ela não tem a mínima ideia de quem eu sou! Quando descobrirem que não sei nada, vou ser demitida.

Detalhe 1: eu tenho dois anos de experiência com RD Station e Email Marketing.

A segunda situação na verdade são duas. Veja bem, aqui na Rock Content temos uma comunicação bastante horizontal. Por isso, é normal encontrar as pessoas de todos os times (inclusive da diretoria) pelos corredores e parar para conversar. E não é que logo nos meus primeiros meses de empresa acabei pegando elevador com o Edmar, nosso fundador, duas vezes?

Qualquer um concordaria que é uma oportunidade super legal para apresentar minhas ideias, tirar dúvidas e até gerar rapport, certo? O problema é que nas duas vezes eu fui completamente incapaz de dizer uma palavra. Não porque ele é inacessível ou antipático (quem já tomou uma com ele no fim do expediente sabe que não é), mas porque eu tinha medo de abrir a boca e ele descobrir que eu não deveria estar ali.

Detalhe 2: o próprio Edmar me entrevistou e aprovou antes de entrar na Rock. Além do que, ninguém entra na empresa sem passar por um criterioso processo seletivo.

Por fim, dei uma palestra para o time da Rock sobre síndrome do impostor. Todo mundo aplaudiu, algumas pessoas vieram me parabenizar e a única coisa que consegui falar para elas foi: eu disse alguma bobagem?

Detalhe 3: eu passei dias e noites me preparando e estudando para fazer aquela apresentação.

A síndrome do impostor não é coisa de homem (?)

Lendo esse texto, talvez você tenha percebido que todos os exemplos utilizados são femininos. O livro mencionado também se refere à mulheres bem-sucedidas e eu mesma sou uma mulher contando casos pessoais.

Não é uma questão feminista, a síndrome do impostor afeta todo mundo. Porém, homens e mulheres respondem a ela de maneira diferente, e isso vem de um problema estrutural.

Quer um exemplo?

Meninas são ensinadas a serem humildes e crescem sem saber receber elogios (a mulher que nunca respondeu um “nem penteei o cabelo hoje” a um “você está bonita” que atire o primeiro espelho). Para elas, é ensinado que a confiança é uma coisa negativa, facilmente confundida com grosseria ou arrogância, o que dificulta o processo de reconhecimento do próprio valor.

Já os meninos são ensinados a serem autoconfiantes e corajosos. Para eles, reconhecer o próprio valor é algo esperado e admirável, um reflexo do homem seguro e bem resolvido.

Vários pesquisadores apontam que as mulheres são as principais vítimas da síndrome do impostor, porque a procura delas por psicólogos é maior e as inseguranças advindas de cobranças sociais são mais numerosas. Essa também é a razão para termos mais depoimentos femininos.

Mas os homens, acostumados a não falar sobre os próprios sentimentos, não sofrem com isso ou simplesmente não falam a respeito porque precisam demonstrar confiança? Fica o questionamento.

Afinal de contas, como acabar com isso?

O primeiro passo para lidar com a síndrome do impostor é compreender que ela não vai passar de uma hora para outra — é um processo. Mude pequenos hábitos e eles terão um impacto enorme na sua vida!

Fiz uma lista de 11 coisas que podem ajudar nessa mudança. Vamos lá?

1- Aceite que ninguém é bom o bastante

Nem você, nem as pessoas com que você se compara. Não somos seres perfeitos e sempre precisamos melhorar em algum aspecto. Isso é normal, a evolução é uma constante na nossa vida. Use-a como motivação para colocar a mão na massa!

2- Não compare seu interior com o exterior dos outros

O que você vê do outro é uma pequena parte da vida dele, como uma máscara que ele usa em público. Por que então comparar como você se sente com esse pouco que está visível? Afinal, você não tem a menor ideia do que se passa na mente ou no coração do outro.

3- Converse com suas inspirações

Acredite ou não, as pessoas mais qualificadas são as mais afetadas pela síndrome do impostor. Por isso, converse sobre o assunto com profissionais que são referência para você. Tenho certeza que elas terão experiências parecidas para compartilhar!

4- Coloque-se no lugar dos seus amigos

Se um amigo te falasse que se sente uma fraude completa, como você reagiria? Certamente iria discordar dele e listar dezenas de qualidades que ele tem. Por que não fazer isso por si mesmo? Ao invés de se criticar, imagine que está respondendo a alguém na mesma condição e se elogie. Trate-se como trataria a um amigo querido!

5- Diferencie habilidades de problemas processuais

Não bater uma meta por falta de qualificação é uma coisa, não bater porque a empresa não oferece as condições adequadas é outra. Saiba diferenciá-las e não se auto intitule incompetente por isso. Habilidades podem ser aprendidas, mas processos não dependem unicamente de você.

6- Adote uma postura confiante

Sabe aquela roupinha que deixa você incrível ou o sapato que transforma sua postura por completo? Quando se sentir uma farsa, vista algo que sempre te faz se sentir bem, ajeite a coluna e sorria. Porte-se como alguém confiante e logo seu interior vai refletir o que você mostra para mundo.

7- Mantenha uma lista de coisas boas sobre você

Liste suas habilidades e suas conquistas recentes e confira toda vez que se sentir mal. Se não confia nas suas próprias palavras, anote os elogios que já recebeu de chefes, amigos, colegas de trabalho. Releia nos dias difíceis e lembre-se que você mereceu cada um deles.

8- Selecione feedbacks

Seja filtro, não esponja! Feedbacks podem até não ser solicitados, mas devem ter algo que você possa aproveitar. Se não tem nada de útil na mensagem, simplesmente descarte-a. Seu valor não é definido pelo que falam de você ou para você.

9- Dedique-se a outras coisas

É clichê, mas vale a pena repetir: você não é só o seu trabalho, viu? Tenha hobbies, afazeres e uma vida fora do escritório. Assim, quando parecer que você é o pior profissional do mundo, pelo menos você pode se lembrar que na hora do futebolzinho com os amigos você se garante.

10- Troque conhecimento

Ensine, pergunte e aprenda. Ensinar é uma das melhores maneiras de tomar consciência da própria experiência. Além disso, não é vergonha alguma dizer que não sabe algo. Pelo contrário, é um sinal de que você está interessado em aprender e melhorar. E se você está aprendendo, você está evoluindo.

11- Apenas faça!

Na minha opinião, essa é a melhor maneira de enfrentar a síndrome do impostor. Quando se sentir inseguro sobre algo, apenas faça. O primeiro passo é sempre o mais difícil, mas depois dele você se surpreenderá com o quanto a capaz de fazer.

E olha: só de ter lido esse conteúdo até o final você já deu um passo, então confie mais em si mesmo! É como diz o escritor Oliver Burkeman, “verdadeiros incompetentes raramente se preocupam com o fato de serem incompetentes”.

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