O que levou a Amazon a comprar uma farmácia online, e a próxima revolução em saúde

Na metade de 2018, a gigante da tecnologia liderada por Jeff Bezos anunciou a aquisição da PillPack. Essa empresa entrega a domicílio pacotinhos com os remédios que seus clientes tomam, organizados de acordo com o dia e a hora que devem tomá-los. Não é, portanto, nenhuma rede social ou plataforma de trabalho colaborativo online. O que foi, então, que chamou a atenção da Amazon para a Pillpack?

Atualizado em: 15/04/2021
Amazon no mercado de saúde

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Se você acompanha o mercado de tecnologia, já deve saber das aquisições monumentais que acontecem periodicamente. O exemplo mais óbvio é o Facebook, que já comprou o Instagram por US$ 1 bilhão e o WhatsApp por US$ 19 bilhões. A Microsoft, por sua vez, adquiriu o GitHub por US$ 7,5 bilhões e o LinkedIn por US$ 26 bilhões. Enquanto isso, a Amazon pagou uma fortuna não-divulgada em… uma farmácia online?

Exatamente. Na metade de 2018, a gigante da tecnologia liderada por Jeff Bezos anunciou a aquisição da PillPack. Essa empresa entrega a domicílio pacotinhos com os remédios que seus clientes tomam, organizados de acordo com o dia e a hora que devem tomá-los. Não é, portanto, nenhuma rede social ou plataforma de trabalho colaborativo online. O que foi, então, que chamou a atenção da Amazon para a Pillpack?

Farmácia instantânea

Uma maneira interessante de entender essa questão é lendo a excelente reportagem de Kashmir Hill sobre quando ela tentou bloquear a Amazon de sua vida. Entre outras coisas, ela percebeu que a Amazon está para “comprar coisas” assim como o WhatsApp está para “enviar mensagens” e o YouTube está para “ver vídeos”. Poder comprar qualquer coisa com alguns toques e receber o produto em casa no dia seguinte é extremamente conveniente.

Remédios, no entanto, ainda não entravam no catálogo da Amazon. Mas a PillPack possui licença para vender medicamentos ao longo de todo o território dos EUA, segundo seu site. Comprando a empresa, portanto, a Amazon coloca em xeque basicamente todas as farmácias de rua do país, e promete mudar a forma como compramos remédios no mundo ocidental.

E para quem não costuma acessar a internet, como pessoas idosas — muitas das quais, no entanto, precisam de remédios — a Amazon também deve ter uma solução. Analistas apostam que a empresa aproveitará as mais de 400 lojas físicas da Whole Foods nos Estados Unidos para vender medicamentos ou distribuir pedidos. A Whole Foods, aliás, é a rede de mercados que a empresa de Bezos comprou por mais de US$ 13 bilhões em 2017.

Mas isso, por incrível que pareça, é só o começo. A aquisição da PillPack pela Amazon é um exemplo simples de como os avanços mais recentes da tecnologia podem revolucionar não só a nossa maneira de comprar pílulas, mas todo o mercado de saúde e bem-estar.

A cura está nos dados

Os avanços tecnológicos mais relevantes, nesse caso, são o big data e a inteligência artificial. O primeiro deles representa a possibilidade de armazenar e analisar volumes incalculáveis de dados. O segundo, por sua vez, permite usar esses dados para obter insights que não seriam perceptíveis sem tecnologia — ou levariam décadas de pesquisa.

Uma empresa que já vem aplicando esses recursos à área da saúde é a DeepMind, comprada pelo Google em 2014 por cerca de US$ 500 milhões (uma pechincha em termos de aquisições de empresas de tecnologia). Usando técnicas de machine learning, a empresa está desenvolvendo um produto que será capaz de detectar mais de 50 doenças da visão com mais rapidez, precisão e praticidade do que qualquer clínica de olhos.

Não é só isso: com técnicas semelhantes, a empresa também está planejando sistemas capazes de detectar (e ajudar a prevenir) câncer de mama. A ideia é ensinar máquinas a analisar exames melhor do que qualquer médico seria capaz. Afinal, enquanto médicos analisam no máximo, ao longo de sua carreira, alguns milhares de exames, os computadores da DeepMind conseguem analisar milhões em meses.

A ideia por trás desses empreendimentos é que a análise do máximo possível de dados sobre pessoas doentes pode revelar como a doença se manifesta em seus estágios iniciais, auxiliando a prevenção. Mas há também empresas dispostas a levar esse raciocínio ainda mais longe, buscando nos dados dos pacientes a própria cura das doenças.

É o caso da Flatiron, empresa que foi comprada pela gigante farmacêutica suíça Roche por US$ 1,9 bilhão em 2018. A Flatiron conta com dados médicos de mais de 2,2 milhões de pacientes nos Estados Unidos, e pretende usar as informações contidas nesses prontuários para descobrir as melhores maneiras de tratar pacientes com câncer — desde o diagnóstico até a cura.

Endoscopia 2.0

Em outro front na guerra contra a morte, há empresas aproveitando a precisão nanométrica da tecnologia atual para viabilizar procedimentos que não eram possíveis anteriormente. Uma delas é a Auris Health, que se especializa em equipamentos endoscópicos.

As câmeras da empresa permitem aos médicos ter uma visão interna do corpo dos pacientes sem, no entanto, exigirem procedimentos invasivos (e arriscados). A ideia é dar aos homens e mulheres de jaleco mais informações com as quais chegar a um diagnóstico. E, curiosamente, o controle dos equipamentos lembra muito um controle de videogame. 

As possibilidades que eles trazem, no entanto, estão longe de ser brincadeira. Tanto que a empresa foi comprada pela monstruosa Johnson & Johnson em fevereiro deste ano por US$ 3,4 bilhões. Com isso, o conglomerado mais conhecido pelos seus cotonetes entrou num mercado que, segundo a Reuters, deve movimentar US$ 12 bilhões até 2023: o dos “robôs de saúde”.

Eu, robô cirurgião

É o mesmo mercado em que atua também a Mazor Robotics, cujos equipamentos se encaixam firmemente na categoria (um pouco assustadora, realmente) de “cirurgia robótica”. Pode parecer algo saído de um episódio de Black Mirror, mas trata-se de outra possível revolução na medicina: o surgimento de cirurgiões robôs.

As criações da Mazor são voltadas para procedimentos altamente arriscados, nos quais um erro milimétrico do cirurgião pode deixar o paciente paraplégico. O sistema Mazor X, por exemplo (um dos carros-chefe da empresa), auxilia cirurgiões posicionando os instrumentos de maneira extremamente precisa em cirurgias na coluna vertebral.

A tecnologia também pode ser usada no tratamento de tumores em posições complicadas (próximos a órgãos vitais, por exemplo) ou de doenças degenerativas da coluna. O modo como o robô se guia pelo organismo permite limitar o uso de exames de raio X, o que reduz a exposição dos pacientes a radiação potencialmente cancerígena.

Evidentemente, o equipamento também agiliza os procedimentos, dá mais confiança aos médicos e, por causa desses fatores, pode reduzir o tempo de recuperação pós-cirúrgica dos pacientes. Esses foram alguns dos motivos que levaram a Medtronic a comprar a Mazor por US$ 1,7 bilhão no final de 2018.

Futuro da medicina

Essas são algumas das maneiras como a tecnologia está revolucionando a área de saúde. Há outras, porém. Por exemplo, a brasileira Medroom, que aposta na realidade virtual como plataforma de treinamento de cirurgiões e preparação para operações complexas. Os esforços da empresa já lhe renderam reconhecimento tanto da revista Forbes Brasil quanto da bancada de juízes do Brasil Independent Games Festival (BIG).

Fica claro, portanto, que a fusão entre tecnologia e medicina ainda tem muito a render, e que a compra da PillPack pela Amazon é apenas a ponta de um iceberg. Um iceberg que permite entrever novas possibilidades de diagnósticos e tratamentos de doenças e novas áreas inteiras para que médicos e programadores explorem juntos.

Fato é que o mercado de saúde se modificará e a prevenção poderá reduzir custos das empresas desse setor.

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