O caso WeWork: o turbulento IPO e a descredibilidade da empresa

O IPO da WeWork foi turbulento e deixou valiosas lições para outras empresas

O IPO do WeWork

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Se a abertura de capital do Uber foi embaraçosa, os detalhes sobre o IPO do WeWork são ainda mais surpreendentes. Sendo uma startup de ascensão meteórica, com a captação de milhões de dólares, promessas de crescimento, seus representantes foram à Bolsa de Valores com o pedido de IPO (Oferta Pública Inicial de Ações) com muita determinação.

A partir desse momento, o castelo de cartas começou a vir abaixo. A valorização de mercado da empresa sofreu uma super baixa e a companhia vem enfrentando crises enormes de imagem e gestão. Além disso, um programa de demissão em massa está em vigor e seu maior investidor assumiu suas operações — parece até uma história de filme, mas é real.

Entenda quais foram os pontos principais do fracasso do IPO do WeWork e quais as consequências que isso desencadeou em todo o mundo.

“Há algo de podre no reino da Dinamarca”

Hamlet, personagem de Shakespeare, teve o seu alerta quanto ao perigo em que se encontrava e que algo ruim estava por vir. Qualquer semelhança com o caso WeWork não é uma mera coincidência. Afinal de contas, a startup que parecia maravilhosa e promissora, se revelou o contrário.

O WeWork nasceu há quase 10 anos, nos Estados Unidos e seu crescimento foi vertiginoso. O core business é locar imóveis em vários lugares do mundo e transformá-los em espaços de coworking super modernos e atraentes. Como público-alvo, temos os empreendedores.

A operação se expandiu para aproximadamente 30 países. O Brasil está nessa lista, com cerca de 20 escritórios em São Paulo e outros nas cidades de Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro. A operação por aqui nem se compara a países como Estados Unidos e Inglaterra. Para se ter uma ideia da dimensão do WeWork por lá, ela é a maior inquilina de Manhattan e em Londres só fica atrás do governo britânico.

Em 2017, surgiu a We Company, que é a junção do WeWork (coworking), do WeGrow (escola infantil inovadora) e do WeLive (coliving). Esse conglomerado emergiu com a captação de recursos de terceiros. O maior investidor foi a japonesa SoftBank, com aporte inicial de US$ 7,5 bilhões no grupo.

A cultura das startups faz parte da WeWork, ou seja, conseguir aportes primeiro, para depois pensar no lucro. Isso porque, com investimentos, o negócio cresce e, com crescimento, se consegue mais dinheiro. Consequentemente, seu valor de mercado sobe, mas é justamente o esforço para se valorizar que iniciou a crise do WeWork.

O começo da crise no IPO do WeWork

Capaz de contratar funcionários relativamente baratos e de trazer clientes a ponto de lotar seus coworkings, a empresa atingiu mais de US$ 12 bilhões em capital de risco dos investidores. Ao seguir a trajetória de crescimento, de acordo com a dinâmica das startups, nada mais natural do que pensar em debutar na Bolsa de Valores.

Ao solicitar seu IPO, a operação do WeWork passou a ser analisada em detalhes — foi nesse momento que os problemas começaram a surgir. Detectou-se que a expansão da empresa não estava sendo acompanhada da expectativa de rentabilidade prevista. Aliás, o cenário era exatamente oposto.

Não demorou muito tempo para o mercado ter a percepção de que a organização tinha gastos extremamente elevados. No ano de 2018, o prejuízo foi da ordem de US$ 1,9 bilhão, enquanto a receita ficou em US$ 1,8 bilhão. Além disso, a companhia havia sido avaliada em US$ 47 bilhões pela SoftBank, praticamente a única investidora da We Company desde 2016. Só que o cálculo foi tido como superestimado.

Os problemas do WeWork também estavam nas atitudes do então CEO, Adam Neumann. Ele, que já era dono de alguns imóveis locados para WeWork, pegou uma linha de crédito pessoal na empresa a juros baixíssimos, e usou o dinheiro para adquirir mais prédios, que também foram alugados para o WeWork.

A falta de ética de Neumann não parou por aí. Houve também o episódio da cobrança de US$ 6 milhões em ações pela utilização da marca “We”, propriedade de outras pessoas jurídicas. Também haviam várias festas dentro dos escritórios, com duração de dias, inclusive durante o expediente e até dentro de reuniões. Adam comandava demissões arbitrárias contra colaboradores que não tinham uma “energia” que ele curtia.

Por fim, o processo investigativo sugeriu que o ex-CEO e algumas pessoas próximas a ele planejaram o IPO para captação de dinheiro em benefício próprio. Por essa razão, o WeWork era promovido como uma organização que valia cerca de US$ 50 bilhões. Neumann, por sua vez, defendia que a avaliação de um negócio deve considerar seu tamanho e sua espiritualidade, acima das receitas das operações.

Imagens e administração manchadas

A alegação do WeWork, que seu valor de mercado se justificava pelo seu crescimento exponencial, como as empresas mais bem-sucedidas do ramo de tecnologia, não convenceu. Afinal de contas, seus clientes podem ser dessa área, mas ela não é.

Por isso, os potenciais investidores não engoliram esses argumentos. Com forte pressão externa, especialmente da SoftBank, Adam Neumann deixou sua posição de Chief Executive Officer no final de setembro de 2019. Isso aconteceu uma semana antes do WeWork cancelar o pedido de abertura de capital, que tinha sido registrado em agosto.

Esse cancelamento trouxe dúvida de como a organização se sustentará daqui para frente. Essa não será uma tarefa fácil, já que o prospecto de IPO descrevia gastos de 700 milhões de dólares por trimestre, em média. No mês de junho, a instituição contava com U$ 2,5 bilhões na conta. Não precisamos fazer grandes cálculos para perceber que, se nada mudar, até março de 2020 o WeWork estará sem capital para continuar operando.

Investidores e funcionários pagam seus preços

Players do mercado financeiro enxergam o pedido de IPO do WeWork como um dos mais vexatórios dos últimos anos, entretanto, a empresa segue de portas abertas. Após a saída de Neumann, dois profissionais antigos do negócio assumiram a presidência executiva: Artie Minson e Sebastian Gunningham.

Eles planejaram sérias reduções de custos, e o corte incluirá um plano de demissão robusto, com cerca de 2.400 pessoas perdendo seus empregos. A empresa afirma que todo colaborador receberá seu pacote de rescisão, benefícios continuados, entre outras assistências.

Luxos, como o jatinho privado que Adam usava, avaliado em U$60 milhões, também passarão a não mais existir. A palavra de ordem é enxugar despesas e transformar o WeWork em uma corporação lucrativa.

Em dezembro, houve outra mudança. Dessa vez, Marcelo Claure foi nomeado CEO e uma das perguntas que ele mais escuta de seus funcionários é como Adam Neumann conseguiu obter tanto dinheiro, mesmo com o fracasso do IPO e a crise instalada na empresa. A resposta é simples, mas não necessariamente justa.

A Softbank não teve muita escolha, já que Neumann tinha direito de colocar à venda uma parte das ações que possui do WeWork, com parte da OPA (oferta pública de aquisição de ações) que o grupo japonês está realizando a todos os acionistas.

A reação do SoftBank

Muita gente se pergunta como a SoftBank foi capaz de apostar em um negócio tão arriscado. A informação que circula no mercado financeiro é que o fundador e presidente executivo do grupo japonês, Masayoshi Son, se empolgou tanto com o caminho que o WeWork vinha traçando, que acabou ignorando alguns alertas. Especialistas do setor dizem que o prejuízo tinha chance de ser evitado, caso o empreendimento tivesse sido enquadrado como imobiliário e não como uma startup de tecnologia em franca expansão.

No total, a Softbank aplicou mais de 10 bilhões de dólares nessa empreitada. Até o momento, o diretor da operação brasileira, André Maciel, considera o investimento perdido. Porém, ao assumir o controle das operações do WeWork, o negócio está sendo monitorado de perto, na tentativa de recuperar o capital investido.

Há um certo consenso interno na companhia japonesa em relação aos erros cometidos em investimentos. Por outro lado, quem atua com venture capital sabe que, às vezes, é preciso permitir que algumas startups cresçam como a WeWork, para que surja o próximo Facebook ou Alibaba.

Isso não quer dizer que o caso WeWork não tenha afetado profundamente a tomada de decisão da Softbank, que promete ser mais cautelosa em seus aportes no ano de 2020. Após ter passado por todos os contratempos com a então promissora empresa de coworking, e ainda hoje lidar com as consequências disso, o fundo de investimento japonês adotará outro tipo de postura.

A estratégia será diminuir o número de negócios feitos aqui na América Latina, mas aumentar o valor de cada aporte. No ano de 2019, a Softbank realizou 19 investimentos no continente latino americano. Entre eles, 15 foram à Bolsa e conseguiram abrir capital.

A narrativa de fracasso continuará

Essa história é tão inusitada que até dá para fazer um filme. Aliás, daria uma temporada inteira de um seriado de TV — e é justamente isso que vai acontecer. A trajetória do WeWork e a personalidade de Adam Neumann serão transformadas em uma série e em um longa-metragem.

A Chernin Entertainment e a Endeavor Content adquiriram os direitos da obra publicada pelos jornalistas do tradicional Wall Street Journal, Maureen Farrell e Eliot Brown. Foram eles que realizaram a cobertura completa do caso, desde o surgimento da startup até os graves problemas que apareceram ao longo do caminho.

Inclusive, as produtoras já estão de olho no ator Nicholas Braun para fazer o papel do antigo CEO do WeWork. Hoje em dia, Braun é bastante conhecido por atuar na série Succession, do canal HBO.

Trata-se de um projeto que ainda está nos estágios iniciais, ou seja, não há equipe de roteiristas ou outros profissionais. Porém, já se sabe que Braun, além ser o protagonista, também será incumbido da produção-executiva da trama.

O seriado vai contar toda a narrativa do desastre desse IPO, que ficou conhecido em todo o mundo. A ideia de escritórios compartilhados, inegavelmente, é um modelo de negócio bem-sucedido no Brasil e no mundo. Porém, isso não quer dizer que ele sobreviva a uma administração ineficiente, irresponsável e inconsequente.

A ascensão e declínio, desde o discurso encantador de Neumann, até a sua saída e resgate do WeWork pelo SoftBank, também será o script de um longa-metragem. A produção audiovisual será realizada pelos estúdios Universal e a Blumhouse.

Inclusive, o projeto já está rodando. O roteirista é Charles Randolph, o mesmo de A Grande Aposta (2015), estrelado por Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt, e premiado com o Oscar de melhor roteiro adaptado. Ele conta como a histórica crise financeira do subprime foi originada nos Estados Unidos, em 2008.

Dentro do contexto em que as pessoas buscam aplicar o conceito de consumo consciente em suas vidas, guiado pela economia colaborativa, escritórios compartilhados são uma grande ideia. A prova disso é a multinacional Regus, que opera com lucro, pagando dividendos aos seus acionistas.

O problema do WeWork está longe de ser o modelo de negócios. Ficou muito claro que a questão central foi má gestão — e negócio algum sobrevive a uma administração mal feita.

A abertura de capital do WeWork está longe de ser o único fracasso visto na Bolsa de Valores. Por que será que tantos IPOs deram errado em 2019? Será que isso foi realmente uma surpresa ou, de certa forma, já era possível de ser previsto?

Expanda seu entendimento sobre o assunto e continue a sua leitura em nosso artigo que explica o que terá acontecido ao IPO em 2019.

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