Como novas regras de telemedicina afetarão relação entre instituições de saúde e pacientes

Atualizado em: 15/04/2021
telemedicina

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Novas regras de telemedicina, divulgadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), devem alterar a relação entre instituições de saúde, médicos e pacientes no Brasil. A resolução visa regulamentar formas de atendimento médico a distância viabilizadas pela tecnologia.

A telemedicina é apenas uma das vertentes em que a tecnologia já tem sido aliada de projetos de inovação digital na saúde. Com as novas regras, os médicos poderão realizar consultas online, assim como telecirurgias e telediagnóstico, entre outras formas de atendimento médico a distância.

A expectativa do CFM é de que, além de permitir que cidades do interior do Brasil tenham acesso a mais médicos, grandes centros sejam beneficiados com a diminuição da grande demanda no sistema convencional. As novas medidas evitariam que pessoas deixassem cidades do interior em busca de atendimento médico nas capitais estaduais.

Assim, as novas regras devem alterar a forma como instituições de saúde se relacionam com pacientes, impactando diretamente em como esses negócios se comportarão nos próximos anos.

Para vislumbrar quais serão os impactos provocados pelas mudanças em telemedicina, ouvimos John Sakuma, diretor de negócios da Teleimagem, empresa especializada em laudos a distância.

Impactos da telemedicina para setor de saúde

O conceito de telemedicina não é uma novidade para o setor de saúde. Em 2007, o Governo Federal criou o programa Telessaúde, com a promessa de ampliar o acesso a atendimento médico no país.

Atualmente, grande parte dos esforços em telemedicina se concentram em receber uma segunda opinião médica. No caso de laudos a distância, um profissional técnico realiza o exame de imagem, que é posteriormente enviado para o médico especialista para a avaliação. A telemedicina pode ser utilizada ainda para telediagnóstico, teleconsulta e educação de profissionais de saúde que se encontram em outras localidades.

Apoiado na experiência de 15 anos com telemedicina, John Sakuma alerta que as novas regras podem trazer tanto benefícios quanto preocupações. “Toda tecnologia traz o lado bom e o lado ruim. O lado bom será o acesso à boa medicina. O lado ruim é o risco de não conseguirmos nos qualificar adequadamente e haver uma banalização da medicina. Nesse caso, cada vez mais, valores serão menores, profissionais não terão condições de fazer reciclagem e estudos, levando à uma má qualidade no atendimento em saúde”, afirma.

“Por outro lado, você pode ter acesso a bons profissionais com a telemedicina. Depende muito de quais serão os protocolos utilizados, em que condições ela deve ser utilizada”, acrescenta o diretor de negócios da Teleimagem.

Questões jurídicas e de segurança

Segundo a resolução do CFM, o paciente deve assinar um termo de consentimento em que afirma concordar com o atendimento a distância. Todos os dados sobre o paciente e o tratamento oferecido devem ser sigilosos.

Porém, há a preocupação de que não haja vazamento de dados nem violação da privacidade dos pacientes. Sakuma alerta para a possibilidade de empresas que não estão inseridas no mercado de saúde passem a atuar como intermediadoras entre médicos e pacientes.

“Há questões de segurança e jurídicas que devem ser verificadas. Este é um tema novo que gerará em questões de segurança. É uma tecnologia relativamente nova e, dependendo disso, haverá vários atravessadores. Há empresas que não são médicas que utilizarão vários aplicativos no intuito de vender consultas mais baratas”, projeta.

Para ele, em longo prazo, os maiores beneficiados pelas novas regras de telemedicina podem ser justamente empresas que invistam tecnologia com a promessa de ofertar acesso a mais médicos.

“Hoje, os maiores beneficiados serão empresas de tecnologia que se transformarão em serviços que cobram taxas para médicos se cadastrarem em um aplicativo e terem pacientes. A telemedicina somente poderia ser utilizada ou comercializada por instituições de saúde, e não por empresas que não têm nada a ver com a área de saúde”, ressalta.

Preparação e investimentos em telemedicina

Ainda que questões de logística possam favorecer diminuição de custos, as empresas de saúde devem se preparar para investimentos em tecnologia se quiserem usufruir dos diferentes recursos de telemedicina.

Entre as possibilidades abordadas pela resolução do CFM, estão as telecirurgias, realizadas com auxílio de um robô operado por um médico distante do local em que é realizado o procedimento. Elas ainda são raras no Brasil e demandam um médico presencial, responsável por operar a estrutura robótica.

Todavia, já há exemplos claros como a telemedicina já traz progressos em saúde no Brasil. “O Hospital Albert Einstein é caso específico, em que foi desenvolvida uma estrutura própria, com toda uma infraestrutura de TI própria. Eles a usam para expandir e passar o conhecimento para lugares remotos. Isso é fantástico”, destaca John Sakuma.

Os serviços de telemedicina ofertados pelo Hospital Israelita Albert Einstein, com suporte 24 horas por dia, 7 dias por semana, envolvem tratamento de crônicos, melhoria da educação alimentar, cuidados com o bebê e opinião especializada para melhores diagnósticos.

Relacionamento entre instituições de saúde e pacientes

A forma como instituições de saúde vão se relacionar com pacientes deve sofrer grandes mudanças. As regras do CFM determinam que uma primeira consulta presencial seja obrigatória, a não ser em circunstâncias em que haja a necessidade de acesso a áreas remotas.  

Especialistas apontam que uma das principais alternativas para uso de teleconsultas deve ocorrer nos retornos obrigatórios, que não são remuneradas. Contudo, para tratamentos por longo tempo, o CFM recomenda que haja consulta presencial a cada 120 dias.

Ainda que os pacientes não tenham contato direto com médicos, há uma expectativa positiva em relação à reação dos pacientes atendidos por telemedicina, sobretudo por vantagens logísticas e atendimento mais rápido. “Há várias questões envolvidas. Há questões psicossociais e há questões de faixa etária também”, aponta John Sakuma.

“Normalmente, pelas pesquisas que vi e pelas palestras a que assisti, a aceitação do público é extremamente positiva em relação ao uso da telemedicina para fazer uma consulta, tirar uma dúvida ou coisas do gênero. Na teoria, a coisa é perfeita, muito vantajosa, mas a forma como você conduzirá é o que pode levar a algum erro”, complementa.

Para lidar com uma possível desconfiança dos pacientes que não terão atendimento presencial, estratégias de conteúdo robustas e bem estruturadas tendem a ser um bom caminho.

Ao lado dessas campanhas, grandes players do mercado de saúde devem apostar na oferta de atendimento médico de qualidade, até então inacessível para os pacientes que não recorriam à telemedicina.

“É necessário trazer um corpo clínico muito forte, de alta especialidade. Assim, as pessoas que não teriam acesso a esses profissionais começam a ter. Caso seja um médico que não tenha condições de avaliar a sua patologia, ele encaminhará para um subespecialista conduzir um tratamento adequado. Portanto, essa logística seria muito mais rápida”, avalia o diretor de negócios da Teleimagem. Caso tenha de esperar um longo tempo para falar, por exemplo, com cardiologista, o paciente faria por meio da telemedicina, em uma consulta a distância”,

Além do corpo clínico, a telemedicina é dependente da disponibilidade de profissionais de tecnologia para manter a infraestrutura necessária para os atendimentos. Há a demanda ainda de especialistas em direito, uma vez que há preocupação especial em estrutura de segurança e sigilo de dados.

Aproveite e saiba também como a transformação digital tem impactado o setor de saúde.

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