— E aí, cara, quanto tempo! Como estão as coisas?
— Na correria!
Você provavelmente já participou de um diálogo do tipo.
A famosa correria faz parte da rotina de milhões de brasileiros. É um tal de levar os filhos na escola, pegar engarrafamentos até o trabalho, perder tempo em filas de estabelecimentos comerciais e no final do dia fazer o caminho inverso pegando mais engarrafamentos.
Quem vive uma rotina dessas tem pouco tempo disponível para realizar tarefas que fujam do habitual. Aliás, não é apenas uma questão de tempo: falta ânimo. Um cara que passa por tudo aquilo que citei acima durante cinco dias da semana, provavelmente, não terá energia para dirigir ou pegar um ônibus após o expediente para estudar, por exemplo.
O fato é que a correria, juntamente com os avanços tecnológicos, proporcionou novas demandas em diferentes segmentos. Principalmente no setor de ensino.
Trabalhei quase quatro anos numa faculdade no sul de Santa Catarina. Minha função, basicamente, era comercializar os cursos — todos presenciais.
Nesse período não lembro de nossa equipe de vendas ter batido suas metas uma vez sequer. O mesmo acontecia em outras unidades dessa faculdade no estado. E não era por falta de esforço. Seguíamos a cartilha dos bons vendedores.
O problema era outro.
Não conseguíamos competir com o ensino a distância.
O famoso EaD supria perfeitamente essa demanda do “cara da correria”. E esse cara hoje faz parte da maioria.
A verdade é que a Transformação Digital foi tão grande no setor e os cursos online se tornaram tão acessíveis e flexíveis que não há razão para que as pessoas com pouco tempo disponível não aproveitem essa oportunidade.
Oportunidade essa que se estende para instituições de ensino e professores. E é isso que veremos ao longo do artigo. Confira como instituições de ensino, professores e alunos podem se beneficiar da educação a distância.
EaD para instituições de ensino
Vejo que hoje a grande maioria das universidades, principalmente nas capitais, conta com uma grande variedade de cursos a distância — incluindo graduações e pós-graduações. Porém, nas cidades menores, a realidade é outra.
O foco está nos cursos presenciais. A ideia é atender a demanda local. E aqui começa a discussão.
O exemplo que dou é o mesmo de qualquer loja que não faça vendas online: vendendo localmente, você consegue atingir apenas a sua região. Vendendo na internet, você tem a chance de alcançar todo o país — e o mundo.
Se na faculdade em que eu trabalhava encontrávamos uma dificuldade enorme para comercializarmos os cursos, em minha recente experiência no EaD obtive resultados completamente diferentes. E animadores.
Meu curso online, cujo o tema “Marketing Pessoal e Produção de Conteúdo no LinkedIn“ é bastante específico, precisou de pouco menos de 1 mês para alcançar 50 alunos — incluindo três portugueses e um angolano.
Algo impensável na tal faculdade. Por diversas vezes tivemos que cancelar a abertura de cursos por falta de alunos.
Não é minha intenção, de forma alguma, desmerecer cursos com aulas presenciais. Pelo contrário! Penso que ambas formas de ensino podem — e devem — coexistir.
Como qualquer coisa na vida, essas duas modalidades de ensino tem seus pontos fortes e fracos. Meu ponto é que faculdades e instituições de ensino em geral devem, de uma vez por todas, dar o “braço a torcer” para o EaD e aproveitar essa Transformação Digital. Lei da oferta e demanda, saca?
EaD para professores
Como profissional que está vivendo isso na prática, penso que a grande Transformação Digital do setor — e ainda pouco explorada — está na função do professor no que diz respeito à sua carreira.
Crescemos tendo em mente que para você ser um professor, ou seja, para ensinar alguém sobre algo, você deveria conseguir um emprego numa escola ou universidade. Esse ainda é o senso comum dentro da profissão.
Porém, o que muitos não se deram conta ainda é que os professores não precisam mais dessa ponte para chegarem até os alunos.
Hoje há diversas plataformas de ensino online onde você pode criar seus próprios cursos e comercializá-los — sem a necessidade de ser contratado por uma instituição de ensino.
Tive uma rápida experiência como professor de inglês onde recebia por hora e dependia da variável “número de alunos” para conseguir lecionar. Além disso, nem preciso falar da parte financeira, né? É consenso que professores são mal remunerados no Brasil.
Como professor de um curso online desenvolvido por conta própria e hospedado numa dessas plataformas, além de não depender da variável “número de alunos” para fechar uma turma, ou seja, o curso sempre estará com matrículas abertas — financeiramente tenho tido um ótimo retorno —, sou eu quem defino o valor do curso e a plataforma cobra uma comissão inferior a 10%.
Digamos que o preço do seu curso seja R$ 500,00 e você tenha uma média de 10 alunos por mês. Isso dá pouco menos de R$ 5 mil (devido ao custo das comissões). Junte isso com alguma outra atividade remunerada e você terá um ótimo salário — sim, você terá tempo para trabalhar em outros projetos.
Além disso, falando como professor, trabalho bem menos do que se lecionasse aulas presenciais. Uma vez gravado o curso, não preciso repetir aquelas aulas. O material está pronto. O único trabalho agora é acompanhar o desempenho dos alunos e tirar dúvidas.
É claro que aqui também temos prós e contras. Se numa instituição de ensino seu trabalho é apenas inerente às responsabilidades tradicionais de um professor, aqui a responsabilidade pelo curso é toda sua, incluindo a comercialização.
Mas tudo é uma questão de escolhas. A oportunidade está aí — vai de você entender se ela é válida ou não para o seu contexto.
EaD para alunos
Os alunos são os maiores beneficiados, na minha opinião — e os caras que fazem todo esse negócio de EaD girar.
O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e investir em conhecimento é essencial na formação de um bom profissional.
O problema é arrumar tempo para se fazer isso, né? Bom, é aí que entra o grande benefício da educação a distância.
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Os cursos online oferecem a flexibilidade de se estudar quando, onde e como quiser. Mas aqui vai um porém: embora eu veja isso como uma vantagem incrível, muita gente não tem a disciplina necessária para estudar por conta própria e fazer seus próprios horários.
Pra esses caras, o ideal continua sendo o ensino presencial. Agora, se você não tem problemas quanto à isso, toca a ficha!
Uma outra grande vantagem do EaD é que muitos cursos hoje oferecem acesso vitalício, ou seja, você poderá reassistir as aulas ao longo do tempo. Isso é ótimo para tirar eventuais dúvidas.
Ainda existe uma preocupação por parte de alguns sobre a qualidade do ensino e a validade dos certificados — no caso de graduações e pós-graduações, principalmente —, mas aí cabe a você pesquisar sobre as referências da instituição de ensino ou do profissional que está oferecendo aquele curso.
Do ponto de vista das empresas e dos recrutadores, garanto que foi-se o tempo em que o nome da universidade cursada importava mais do que as suas experiências. Diplomas não são mais tão valorizados como antes: estamos na Era do saber fazer — e o conhecimento adquirido por conta própria pode ser considerado hoje como um dos grandes diferenciais de um bom profissional.
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