Quando a gente vira freelancer, é comum ouvir especialistas no assunto falando que precisamos internalizar o fato de que nos tornamos nossos próprios chefes. Isso geralmente é relacionado às finanças, certo? Mas algo que talvez a gente não pense muito é sobre momentos de descanso e lazer.
Depois de me dar férias pela primeira vez, o sentimento é de que fiz uma boa escolha e que consegui renovar as energias para mais uma temporada de muitos jobs.
Por isso, resolvi compartilhar minha experiência. Primeiro para falar sobre como deveríamos nos importar mais com nosso descanso. Depois, para dar algumas dicas que podem ajudar outros freelas a “ganharem férias” de uma forma que não aperte o orçamento e nem bagunce toda a rotina.
Animou-se com a ideia de tirar uns dias de descanso sem notificações ou e-mails? Então vem comigo!
O mito do freela que trabalha menos
Falar que é freelancer é, inevitavelmente, ouvir coisas como: “que ótimo, você consegue fazer seu próprio horário”, ou “você tem mais tempo livre agora, né?”.
É claro que a rotina freela é muito mais flexível e esse é um dos motivos de adorarmos esse universo. Porém, é uma ilusão pensar que trabalhamos pouco, não é mesmo? Na verdade, dependendo do volume de trabalho e da nossa organização pessoal, as horas em frente ao computador podem ser muitas por dia.
Desde março de 2018 eu sou freela integralmente e concilio isso com um mestrado em fase de escrever dissertação, ou seja, estou na frente do computador, em geral, umas 10h ou 12h por dia. Além dos textos da Rock, também tenho clientes de outras áreas da comunicação.
Se eu curto? Tenho adorado ser freelancer e sou muito mais feliz e realizada agora do que nos meus tempos de CLT.
Só que dificilmente me desligo de tudo isso. Quando vou para a casa dos meus pais, sempre ouço: “você trabalha e estuda domingo também? Até no feriado? Não se desliga nunca”.
Sempre tem aquele prazo, aquela tarefa com um tema legal que você pega pro fim de semana, aquele cliente que manda mensagem domingo, aquele job “urgente” porque é “rapidinho”, aquela publicação que você precisa fazer.
As férias que me dei
Apesar do meu pé de meia sempre ser focado em viagens, eu nunca tinha ficado completamente off de trabalhos e estudos durante alguma delas.
Sempre acontecia de fazer algum ajuste em texto pelo celular, publicar nas redes sociais dos clientes ou até mesmo levar o notebook para fazer trabalhos em horas vagas.
O fato é que a gente entra num ritmo frenético e parece que é meio proibido parar, né. Afinal, precisamos de dinheiro, temos responsabilidades, todo mundo tá trabalhando a beça por aí. Mas não deveria ser assim.
Nos últimos tempos, tenho refletido bastante sobre a importância de cuidarmos da gente e priorizarmos nosso bem-estar em detrimento dessas imposições que o sistema nos faz, como trabalhar sem parar e, muitas vezes, com algo que não gostamos. Mas isso é assunto pra outro texto, hehe.
Aí esse ano, em meio à rotina super corrida de jobs e dissertação, apareceu a oportunidade de fazer minha primeira trip internacional, 15 dias entre Argentina e Chile, e pensei: “poxa, queria poder não precisar pensar em nada disso durante esses dias para aproveitar ao máximo”.
Começou com uma vontade e evoluiu para um plano que realmente me deu a oportunidade de me distanciar por duas semanas dos trabalhos e estudos, sem me preocupar se o mundo estava caindo ou se eu estava perdendo algo (já leram algo sobre FOMO — Fear of Missing Out?).
O planejamento
Para conseguir me dar férias nesses dias, me planejei de diversas formas em relação aos clientes, aos estudos e às finanças. São essas ações que vou colocar a seguir pra inspirar quem também está querendo e precisando “ficar off” por um tempo. Pega a listinha aí:
- falei com analistas de projetos exclusivos e assim consegui antecipar as pautas para escrever antes de viajar. Eu não ia escrever durante a viagem e nem queria deixar ninguém na mão;
- também falei com os clientes de mídias sociais, expliquei que ia agendar toda a programação e que alguém estaria responsável pelas rotinas (tipo atendimento inbox);
- “contratei” alguém pra ficar de olho nas redes, atender e publicar no Instagram diariamente, já que eu não ia conseguir agendar. Se eu não fizesse isso, poderia acontecer de eu estar na rua e sem internet na hora de publicar algo;
- garanti que tinha “cobertura” para dois dias antes e dois dias seguintes à viagem, afinal, é preciso um tempinho para retomar o fôlego da rotina.
- fechei a parte do texto que precisava entregar na faculdade;
- criei uma “pasta de emergência” no Google Drive com documentos e arquivos que eu poderia precisar usar ou alterar em caso urgente (torcendo para que não fosse necessário).
É claro que a parte financeira conta bastante na hora de se desligar de trabalhos e gastar com uma viagem. Com certeza existem muitos freelas e conteúdos na internet que podem ajudar bastante no tema finanças, mas vou contar um pouco do que eu fiz para viajar com paz de espírito no bolso:
- nas semanas anteriores, fiquei super ligada no dashboard para aumentar meu ritmo de produção e, assim, compensar um pouco os dias que ficaria sem produzir.
- como os custos de uma viagem sempre podem variar em relação ao estilo — ostentação ou mochileiro —, pesquisei quais eram os gastos que eu teria e o quanto eu poderia gastar. No meu caso, sempre prefiro o estilo mochila, sanduíches e busão.
- comprei passagens e reservei hospedagem (com cupom de desconto) uns meses atrás, assim todo o gasto não seria feito de uma vez só e a facada seria mais leve.
- viajei com um orçamento já definido, assim eu não poderia sair dos trilhos e gastar mais do que tinha. Além disso, levei uma reserva de emergência;
- juntei todo dinheiro necessário antes, afinal, ter que voltar de viagem com dívida é um duplo sofrimento.
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Os dias de glória
Já dizia Chorão: dias de luta, dias de glória. Eles chegam e é ótimo ver o trabalho da rotina resultar em algo tão legal quanto descobrir novos lugares, paisagens, culturas e pessoas.
Durante a trip, consegui descansar a mente e me afastar um pouco da ansiedade de estar sempre pensando nas coisas a fazer e resolver. É curioso precisar lutar contra pensamentos como esse, mas às vezes eu precisava. Isso só me mostrou o quanto era importante eu me dar uma folga.
Meu desejo é que, em vez de sermos mais números nas estatísticas de ansiedade, burnout e depressão, a gente consiga ir contra a corrente e priorizar nossa saúde física e psicológica, nossos momentos leves e divertidos e nossas pessoas que nos fazem bem. Assim vamos estar ainda mais renovados para fazer um trabalho incrível em nossa área de atuação!
Agora, um segredo
No último dia, a caminho do aeroporto e já com aquela bad de fim de trip batendo, sabe o que bateu também? Uma saudadezinha dos meus textos e da minha mesinha e cadeira de home office.
Minha companheira de viagem me achou doida quando comentei isso? Certamente. Mas fiquei pensando que isso é um ótimo sinal em meio a um sistema corporativo que tem deixado tanta gente insatisfeita e exausta. Por essas e outras que tenho adorado a rotina de freela!
E você, já se deu férias? Espero que este texto ajude você a se planejar para uma experiência como essa. Com certeza vai ser super gratificante e vai te levar a outro nível da vida freelancer!
Você tem uma história de freela pra contar também? Então compartilha com a gente escrevendo para a Coluna Freela. É só acessar o formulário e abrir o coração!
Rebeca Nascimento
Jornalista por formação e freela por opção. Doida pra sair pelo mundo e fazer de cada café de esquina meu office.