Reza a lenda que Ernest Hemingway estava em um bar com outros escritores quando propôs uma aposta: cada um na mesa pagaria $10 dólares se ele conseguisse escrever uma história com apenas 6 palavras.
Os outros autores toparam na hora. Hemingway já era um escritor aclamado pelo seu estilo minimalista, mas nem mesmo ele conseguiria tal feito.
Com a aposta garantida, Hemingway tomou um gole da sua cerveja, pegou um guardanapo e escreveu suas seis palavras:
Vende-se: sapatos de bebês, nunca usados.
Cada um dos autores leu aquelas palavras, deu um pequeno sorriso e pagou $10 dólares para Hemingway. Para o escritor americano, foi apenas mais um dia e apenas mais uma aposta.
Mal ele sabia que estava criando o principal exemplo de Flash Fiction, uma maneira incrível de compreender e aplicar o storytelling no dia a dia!
Quer saber mais? Então vem comigo!
O que é Flash Fiction?
A história acima foi relatada por Arthur C. Clarke em 1992, mas é questionada atualmente por historiadores. Aparentemente, a aposta não aconteceu.
Porém, isso não importa. Afinal, como aprendemos em Deuses Americanos, as “histórias são mais verdadeiras que a verdade”.
O importante é que essa lenda sobre Hemingway nos ensina o conceito básico de Flash Fiction: contar histórias com o mínimo de palavras possíveis.
O ser humano pratica o Flash Fiction desde a pré-história. Esse conceito é, na verdade, a raiz do surgimento de fábulas, lendas e parábolas (que, por sua vez, se desenvolveram em histórias complexas).
É fácil entender o porquê disso quando a gente tenta praticar o Flash Fiction.
Quando somos limitados a um número pequeno de palavras, a história é reduzida ao seu motor central: o conflito.
Aqui, eu gostaria de abrir um parênteses. Normalmente, quando falamos de conflito em storytelling, logo imaginamos um herói contra um vilão em uma luta no último ato de um filme.
Não é bem assim.
Conflito pode ser o choque de duas forças, mas é principalmente o agente da mudança na narrativa. Contar uma história é retratar uma metamorfose.
Para isso, usamos os elementos básicos que você já aprendeu antes: personagem, ambiente, conflito e mensagem.
Mas voltando.
O que o Flash Fiction faz de tão útil é forçar você, o(a) escritor(a), a focar no conflito da sua história e construir os outros elementos para promover a mudança em pouquíssimas palavras.
Isso é tão instintivo do ser humano que todos nós somos capazes de fazer. Você mesmo já sabe como.
Para provar, eu criei um tópico na Comunidade de Freelancers Rock Content no Facebook e desafiei os talentos de lá a contar histórias com apenas 6 palavras.
Separei alguns ótimos exemplos de Flash Fiction que eles criaram por lá:
“Freelancer me tornei, uma viagem farei.” – Orquídea Martins
“Estava em Paris ontem. Acordei suando.” – Rosana Olvera Sanches
“Pensei que fosse sorvete. Era feijão!” – Márcio Conde
“Quando alcancei o ônibus, motorista acelerou.” – Bruna Moreira
“Fui curar a cabeça, e, casei.” – Amanda Gusmão
“Julgou estar atrasado. Mesmo assim, foi.” – Vinicius Macedo Silva
Peguei só alguns dos ótimos exemplos que foram postados no tópico. O pessoal mandou bem demais no Flash Fiction!
Agora, vamos ver como o Hemingway fez isso?
Analisando a história de Hemingway
Para relembrar, essas são as seis palavras de Ernest Hemingway:
Vende-se: sapatos para bebês, nunca usados.
Note como o conflito da história está em destaque. É logo a primeira palavra: vende-se.
Sim, vender é um conflito (no sentido de motor da mudança). Por isso que o storytelling é uma ferramenta tão poderosa para o Marketing.
Depois de estabelecer o conflito, Hemingway usa as suas 5 palavras restantes para pintar um cenário que evoca os personagens, ambiente e uma mensagem emocional poderosíssima.
Antes de falar sobre isso, deixem-me perguntar uma coisa: o que você entendeu dessa história? Qual o cenário que vem na sua cabeça quando você lê aquelas 6 palavras?
Se eu fosse o Hemingway, apostaria $10 dólares que a sua resposta é que o bebê morreu (antes, durante ou depois do parto) e os pais estão vendendo os sapatos.
(Se eu acertei, pode me contar nos comentários. Se eu errei, guarde a informação para você, ok?).
Esse cenário, evocado pelas palavras do Hemingway, pintam todo o storytelling pra gente.
Nós temos os personagens (os pais), o conflito (vendendo sapatos de bebê) e o ambiente (em um anúncio de jornal ou Internet).
A genialidade da história é que ela usa as duas últimas palavras para criar uma conexão emocional muito poderosa com o leitor.
O “nunca usados” é forte porque mexe com a cronologia da história, além de explicar quem são os personagens.
Se a história fosse só “Vende-se: sapatos de bebês”, imaginaríamos uma loja que comercializa esse tipo de vestuário.
Como tem o “nunca usados”, a gente entende que os sapatos não são de uma loja, mas de uma pessoa “comum”. Essa percepção diz quem é o personagem da história.
Mais do que isso: o “nunca usados” sugere que os sapatos deveriam ter sido usados em algum momento. Portanto, havia a expectativa de um bebê para aquelas pessoas.
Se eles estão vendendo os sapatos, é porque algo aconteceu com o bebê. Daí o soco emocional no estômago.
Hemingway usa do contraste entre o passado, o presente e a expectativa de futuro para criar uma ligação emocional muito forte com a história.
E tudo isso foi possível em apenas 6 palavras.
Confira um compilado de conteúdos para te inspirar a produzir textos incríveis! ✍️• Como escrever bem: 39 dicas para começar agora
• Inspiração para escrever: 15 dicas de como ter ideias para escrever
• Storytelling: tudo sobre a arte de contar histórias inesquecíveis
• Copywriting: entenda como dominar a escrita persuasiva
Como aplicar o Flash Fiction nos seus textos
Você viu acima o quão poderoso pode ser o Flash Fiction. Para quem trabalha com pautas com limites de palavras, é importante conhecer essa ferramenta para aplicar o storytelling em textos de 500 ou 1000 palavras.
Mas como? Veja algumas dicas que podemos tirar da história de Hemingway:
Foque no seu conflito
Antes de começar a escrever, leia bem a descrição da pauta e se pergunte qual o conflito daquele texto. Qual o motor que gerará mudança para a persona? É nesse ponto que você deverá se concentrar na hora da escrita.
A persona é seu personagem
Storytelling é mostrar a mudança de um personagem, em um ambiente, via algum conflito. No Marketing de Conteúdo, a persona é esse personagem, claro.
É ela que passará por uma mudança ao ler aquele conteúdo que você escreveu com tanto carinho. Portanto, coloque-a no centro da sua história.
Pense no passado e no futuro
A conexão emocional do storytelling vem da flutuação do personagem entre o passado, presente e o que virá no futuro. Portanto, pense bem na sua persona e no conteúdo que ela lerá.
Aquilo vai ajudar a evitar repetir um passado ruim? Ou será que fornecerá um futuro mais feliz?
Quem passou por uma mudança agora foi você, que aprendeu uma ferramenta nova para os seus textos. Que tal começar a praticar o Flash Fiction para melhorar suas habilidades de escrita?
Você pode começar analisando as histórias criadas pelos freelancers da mesma maneira que fizemos com a do Hemingway. Onde está o conflito? E a conexão emocional?
Se você tiver um case de storytelling como o do Flash Fiction para contar para gente, envie sua sugestão pelo formulário abaixo!
Gostou de aprender mais sobre a arte de contar histórias com? Pensou em algum outro exemplo da Cultura Pop que também trabalha muito bem o Storytelling? Então confira o formulário abaixo e escreva para a gente contando sobre esse case! 😉(function() { var qs,js,q,s,d=document, gi=d.getElementById, ce=d.createElement, gt=d.getElementsByTagName, id=”typef_orm”, b=”https://embed.typeform.com/”; if(!gi.call(d,id)) { js=ce.call(d,”script”); js.id=id; js.src=b+”embed.js”; q=gt.call(d,”script”)[0]; q.parentNode.insertBefore(js,q) } })()