Se essa é a sua referência para pontuar seu texto, temos uma notícia ruim e uma boa: tudo o que você sabe sobre vírgula está errado, mas não é preciso se descabelar.
No post de hoje, vamos te ensinar como usar vírgula da maneira correta. Te ajudaremos a entender de uma vez por todas a lógica desse sinal de pontuação, com exemplos claros, e vamos dividir alguns segredos para que você nunca mais se confunda.
Antes de começarmos, um aviso: vai ser preciso falar um pouco de gramática aqui. A gente explica tudo com calma para você entender!
Pronto? Então respire fundo e vamos lá:
Entendendo como usar vírgula
A vírgula é um sinal de pontuação que indica uma pausa curta, mas não o final do enunciado. Ela pode ser uma excelente aliada para desfazer ambiguidades, realçar informações e garantir um bom ritmo ao seu texto; mas, para isso, é preciso entender como ela funciona.
Como acontece com grande parte da gramática da língua portuguesa, existem muitas opiniões divergentes sobre quando é necessário ou não usar a vírgula, e muitos casos são facultativos. Além disso, no dia a dia pode acontecer de duas regras se sobreporem e muitas vezes é preciso analisar cada caso individualmente.
Por isso, em vez de tentar decorar todas as regras, é mais frutífero entender como ela pode te ajudar a organizar seu texto.
Encadeamento de ideias
O principal papel da vírgula é indicar quais ideias se relacionam e quando há uma pausa não necessariamente na leitura, mas no raciocínio que você está desenvolvendo. Por isso, elas são fundamentais para organizar bem suas ideias.
Uma boa dica para isso é, sempre que precisa interromper o fluxo da frase para acrescentar uma explicação, incluir essa informação entre vírgulas. Por exemplo:
“Carlos, o irmão da minha vizinha, chegou em casa um dia e encontrou Boris, o gato dele, completamente coberto de tinta azul.”
Outra maneira de usar as vírgulas para deixar seu texto mais organizado é incluí-las quando estiver unindo 2 ideias que já têm sentido completo, mas estabelecem alguma relação entre si. Peguemos as seguintes frases:
- A Netflix lançou a nova temporada de Orange Is The New Black.
- Não saí de casa no fim de semana.
As duas informações fazem sentido individualmente, mas, se você quiser explicar que a primeira foi o motivo da segunda, inclua uma vírgula entre elas:
“A Netflix lançou a nova temporada de Orange Is The New Black, por isso não saí de casa no fim de semana.”
Quando estamos fazendo o uso da vírgula para enumerar ou separar repetições estamos aplicando-a para separar elementos de igual valor sintático. É importante diferenciar isso dos casos nos quais a vírgula separa elementos da oração que têm funções diferentes. Embora nas duas situações a vírgula seja obrigatória, você terá menos dúvida se souber distingui-las durante a aplicação.
Alguns exemplos do uso da vírgula em enumerações são:
- Da última vez você levou balas, amendoins, pipoca, chocolate, sorvete, refrigerante, pirulitos e ursinhos de gelatina.
- Eu gosto de adquirir coisas. Por isso mesmo hoje comprei um casaco, alguns pares de meia, duas bermudas e não me lembro quantos brincos.
- Quando vou a casa de minha mãe ela sempre manda arroz, feijão e carne congelados.
- Nunca tive um gato, mas já tive cachorros, cavalos e até mesmo uma arara.
- Acho que vamos nos dar bem. Ambos estudamos no mesmo colégio, frequentamos o mesmo clube, conhecemos as mesmas pessoas e vamos nos casar em breve.
Já no caso das repetições a vírgula aparece na frase assim:
- Achei muito, muito, muito desagradável falar dos defeitos de Isabella na sua frente.
- Fica bem, bem pertinho da nova Igreja do bairro.
- Eu nunca fui de muitos amigos, muitos passeios, muitos compromissos.
Ênfase de termos
Colocar alguns trechos entre vírgulas também serve para enfatizar uma informação. Porém, mantenha em mente que isso não pode ser feito a esmo, isolando qualquer palavra!
De modo geral, use essa técnica com lugar, tempo ou modo (ou seja, termos que cumprem papel de adjunto), principalmente se eles vierem no início da frase. Reparou que fizemos isso nessa última frase, isolando o “de modo geral”?
Quando fazemos o uso da vírgula para separar ou dar destaque a determinados elementos ela geralmente funciona isolando elementos com diferentes funções sintáticas. Isso pode acontecer quando há um adjunto adverbial no início ou no meio da oração ou nos casos em que expressões são intercaladas.
Mas há um monte de outros cenários em que adotar a vírgula para isso é correto. Quando advérbios de resposta, como “sim” e “não” são usados a vírgula costuma vir junta deles. No uso do aposto, que também é um elemento com função sintática diferenciada dentro da oração a vírgula precisa também estar presente.
De maneira similar funcionam vocativo e o nome de um lugar ou uma data específica. Apenas no caso do adjunto adverbial o uso da vírgula é facultativo (como explicaremos melhor em um tópico mais adiante). Em todos os outros, sua presença enfatizando a função de um elemento é obrigatória.
Veja alguns exemplos dela em ação:
- Meu avô, por exemplo, nunca foi de comprar coisas em grandes mercados.
- Não, essa festa será no próximo final de semana.
- Carol, a namorada de Pedro, não come camarões.
- Belo Horizonte, 23 de Dezembro de 2012.
- Débora, você poderá se juntar a nós?
- Apenas pretendo, é claro, vê-lo feliz como sempre frisei.
Ritmo de leitura
Finalmente alguma coisa que tem um pouco a ver com respiração. A vírgula de fato indica uma pausa no texto e, por isso, pode ser usada para deixar a leitura mais fluida. Mais uma vez, isso não significa que você pode incluir vírgulas em qualquer lugar!
Para usar essa pontuação a favor do ritmo do texto, escolha com cuidado em quais casos facultativos aplicar a vírgula. Se todas as suas frases começarem com um adjunto isolado por vírgula, por exemplo, a leitura vai acabar ficando monótona.
Umas das melhores maneiras de descobrir se o uso da vírgula facultativo colabora ou não para o ritmo da leitura é enunciar o próprio texto em voz alta. Nesse momento você conseguirá perceber coisas que são difíceis de se notar quando ele está apenas no papel. E terá noção daqueles momentos em que uma pausa poderia contribuir para o entendimento da leitura e fazer com que o leitor não se sentisse afogado em informação.
Mas ler em voz alta por si só não é o único critério para definir o ritmo da leitura. Em alguns casos, esse ritmo é alterado proporcionalmente para conseguir enfatizar um ponto ou outro da escrita. O recurso pode desempenhar vários papéis na língua portuguesa.
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Conhecendo os principais casos
Agora que você já entendeu a ideia geral da vírgula e como ela pode deixar seu texto melhor, vamos para a parte mais desafiadora: conhecer os principais casos em que a gramática exige ou proíbe essa pontuação.
É bem provável que apareçam alguns termos cabeludos por aqui, mas se preocupe menos com eles e mais com entender o sentido da regra. Se você não quiser mesmo lidar com gramática, pule para o próximo tópico, em que vamos te contar o segredo para não se confundir mais com tantas normas.
Quando é obrigatório usar a vírgula
Orações adjetivas explicativas
Lembra que, no tópico anterior, te falamos para separar suas explicações do resto da frase? A ideia é a mesma, só que aqui isso é uma regra, não uma sugestão. Vamos a um exemplo:
“O Príncipe dos Demônios foi apresentado pela primeira vez na série de RPG Dungeons & Dragons. O monstro, que aparece na série Stranger Things, chama-se Demogorgon.”
A função do trecho “que aparece na série Stranger Things” é acrescentar uma informação a mais sobre o monstro de que estamos falando. Por isso, trata-se de uma oração adjetiva explicativa, que deve necessariamente vir entre vírgulas.
A dúvida nesse caso aparece porque existe outro tipo de oração que segue a mesma estrutura, mas tem uma função diferente: a oração adjetiva restritiva, que não pode vir entre vírgulas.
Seu professor de português do colégio provavelmente te ensinou a diferenciar as duas falando que uma (a oração adjetiva explicativa) diz respeito ao geral e a outra (a oração adjetiva restritiva), ao específico.
Apesar de essa explicação não estar errada, pode ser difícil fazer essa análise. Afinal, no exemplo de oração explicativa aqui de cima, nós também estamos falando de um monstro específico, não?
Por isso, aqui vai um dos segredos que te prometemos: para saber como usar a vírgula de oração adjetiva explicativa, experimente ler a frase sem o trecho que está causando dúvida. Se continuar fazendo sentido dentro do contexto, é porque se trata de uma oração adjetiva explicativa, que deve vir entre vírgulas.
Se, por outro lado, parecer que falta alguma coisa ou a ideia não ficar muito clara, trata-se de uma oração restritiva, então nada de vírgulas! Tente essa dica com o exemplo ali de cima e com este:
“O monstro que aparece no 3º livro de Harry Potter chama-se dementador. O monstro que aparece em Stranger Things chama-se Demogorgon.”
E aí, ficou mais fácil? Então pode respirar aliviado, porque o pior da gramática já passou.
Outros casos nos quais a vírgula aparece em orações adjetivas explicativas podem ser vistos abaixo:
- O sapato, que eu comprei para dar de presente para minha namorada, é vermelho como o sangue.
- Aquele disco do Jorge Ben, que tem a música da Xica da Silva, é um dos seus melhores.
- Os cigarros, que eram da marca Pall Mall, apareciam frequentemente na literatura de Kurt Vonnegut.
- A menina, que começou a sair comigo depois que trocamos telefones no ônibus, me surpreendia todos os dias.
Orações adversativas
Orações adversativas são aquelas que exprimem ideia de oposição ou contraste, como “ouvi o álbum novo da Adele, mas nem chorei”. Toda vez que você usar uma oração adversativa, ela precisa vir precedida por vírgula.
Para facilitar, fique de olho em termos como “mas”, “contudo”, “porém”, “todavia” e “entretanto”, que, na maioria das vezes, indicam essas orações.
Outros exemplos são:
- Nunca fui com a cara dela, mas até que nos demos bem.
- Eu era jovem, contudo muito determinado a seguir meu próprio caminho.
- Quando nasci ninguém esperava isso, todavia as coisas foram acontecendo.
- Hoje é muito importante decidir esse tipo de coisa, porém eu sempre tenho dificuldades de fazê-lo.
Vocativo
Sabe aquele “véi”, “cara”, “mano”, “meu”, “miga” ou qualquer outra variação comum ao seu estado? Isso se chama vocativo, o termo que você usa para indicar ou chamar a atenção do seu interlocutor. Ele sempre precisa estar entre vírgulas.
Ou seja: sempre que um termo na sua frase puder ser substituído por uma dessas palavrinhas, vírgulas nele!
O vocativo e sua vírgula, nas frases, funciona assim:
- Brother, não acredito que você convidou ela pra sair.
- Amigão, desce mais uma cerveja, por favor.
- Chefia, não vai dar pra chegar tão cedo assim amanhã.
Quando é proibido usar a vírgula
Existem 2 situações em que a vírgula não deve ser usada de maneira nenhuma: entre o sujeito e o predicado e entre o verbo e seu complemento. Para entender isso, vamos precisar de mais uma dose (pequena, quase homeopática) de gramática.
O sujeito é quem sofre ou pratica a ação. Ele pode ser tanto um termo quanto uma oração completa, como acontece em “Assistir a séries de TV é um dos meus principais hobbies”. O verbo é a ação praticada ou sofrida, e o complemento, o que ou quem.
Ou seja: nada de colocar vírgula entre “Assistir” e “a séries de TV”, nem entre a primeira oração e a segunda. Combinado?
Quando o uso da vírgula é facultativo?
Existem ainda algumas situações nas quais o uso da vírgula é facultativo, ou seja, cabe ao escritor decidir se a coloca ou não. Esse é o caso de quando ela aparece, por exemplo, na frente das expressões adverbiais que sucedem o sujeito. Não entendeu?
Vamos a um exemplo:
- Amanhã, o meu avô tomará café comigo. (amanhã, advérbio de tempo)
- Ontem, Paula me disse que estava ocupada. (ontem, advérbio de tempo)
Se você quiser, obviamente, pode escrever ambas as frases supracitadas sem a vírgula, assim:
- Amanhã o meu avô tomará café comigo.
- Ontem Paula me disse que estava ocupada.
Quando as vírgulas são usadas facultativamente elas geralmente dão estilo à escrita de uma determinada pessoa. Alguns autores são reconhecidos pelo uso de vírgulas facultativas. No caso da redação para a web a vírgula facultativa pode dar ênfase a um intervalo de tempo, como nos casos acima.
Outras situações na qual o uso da vírgula é facultativo são quando elas sinalizam advérbios de locução. Como em:
- Recentemente, me descobri atenta a esses detalhes. (uso facultativo da vírgula)
- Depois de muitas reclamações, me descobri atenta a esses detalhes. (uso obrigatório da vírgula)
Nesse caso, expressivos maiores sempre exigem a vírgula. Enquanto isso, os que são constituídos de apenas uma palavra ficam a critério de quem escreve o texto.
Obviamente, essa é a base do uso da vírgula facultativa. Em alguns casos pode ser que você a aplique em um mesmo texto, no qual outras construções similares não têm vírgula. Como já citamos em outro ponto do texto, isso pode ser feito para ajudá-lo a dar ritmo para a leitura.
O bom uso da vírgula é, antes de tudo, aquele que faz sentido e proporciona uma leitura mais confortável para quem consome um material. Nos casos em que a vírgula é facultativa temos uma oportunidade de utilizá-la para enfatizar ou não partes específicas do texto que de outra forma poderiam passar despercebidas.
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Desvendando as interseções
Até aqui, falamos de um monte de regras e boas práticas que, individualmente, não são tão desafiadoras. Até que chegamos em um texto e encontramos uma frase como:
“A garota, usando seus superpoderes, tentou ajudar o amigo, mas, apesar dos esforços, falhou.”
Ué, mas não acabamos de dizer que não podemos separar sujeito e predicado? Como avaliar cada um dos aspectos para saber se essas vírgulas estão certas?
O grande segredo é usar a matemática a seu favor. Sim, a matemática! Não precisa pegar a calculadora, porque a analogia é simples.
Em expressões matemáticas, quando alguma parte vem entre parêntesis, ela precisa ser resolvida primeiro. Com as vírgulas, é a mesma coisa: tente encontrar quais delas formam uma dupla, isolando um determinado trecho da frase, e analise-o individualmente para entender se a regra está certa:
“A garota, usando seus superpoderes, tentou ajudar o amigo, mas, apesar dos esforços, falhou.”
Destacando cada par de vírgulas por cores, fica mais fácil entender que aquela depois de “garota” não está separando sujeito e predicado, mas sim isolando “usando seus superpoderes”.
Assim, se ficar na dúvida sobre alguma vírgula na hora de revisar seu texto, é só conferir se ela faz par com outra para isolar um termo ou se está realmente no lugar errado.
Foi um trabalho e tanto chegar até aqui, mas deu para entender que usar a vírgula não tem nada a ver com parar para respirar. Esperamos que as doses de gramática não tenham dado um nó no seu cérebro, mas, se tiver alguma dúvida, é só deixar aqui nos comentários!
Fique de olho na sua pontuação quando for escrever para garantir que suas ideias estão claras e volte a esse post sempre que precisar refrescar a memória sobre como usar vírgula. E se quiser ter à mão mais uma referência para deixar seus textos ainda melhores, conheça também a nossa cartilha da nova ortografia!