6 dicas sobre morfologia que você nunca ouviu falar

morfologia

Primeira pergunta para você que chegou a este post: você sabe o que é morfologia? Se você clicou aqui justamente para saber o que significa essa palavra, nós já vamos explicar. Mas antes, vamos propor uma reflexão.

Pense no trabalho de um mecânico de automóveis. Para fazer a manutenção de um carro, ele precisa conhecer todas as peças do veículo e como elas funcionam. Quanto mais domínio ele tiver, mais eficiente será seu serviço e mais satisfeitos ficarão seus clientes.

A mesma lógica vale para o trabalho de um redator. Ele precisa conhecer todas as “peças” que compõem um texto para criar um conteúdo bem escrito e interessante que agrade ao leitor.

E qual é a principal peça de uma redação? A palavra! É disso que trata a morfologia: o estudo das palavras de acordo com suas classes gramaticais.

Você, como redator, precisa dominar o português, e a morfologia é uma parte importante da nossa língua. Ao entender as classes de palavras, você está instrumentalizado para criar textos mais ricos, corretos e interessantes.

Mesmo que você já seja experiente, talvez a teoria não esteja tão fresca na memória para aplicar hoje nas suas tarefas. Por isso, criamos este post para lembrar tudo o que você aprendeu na escola!

Morfologia: as 10 classes de palavras da língua portuguesa

Substantivo, adjetivo, advérbio, artigo, numeral, pronome, verbo, preposição, conjunção e interjeição: nesses 10 grupos, encaixam-se todas as palavras do português.

As classes gramaticais talvez sejam as primeiras lições que recebemos nas aulas de português, pois elas servem de base para estudar todos os outros temas, como funções sintáticas e pontuação.

Vamos, então, relembrar cada uma delas:

Substantivo

Palavras que nomeiam seres, objetos, lugares, ações, sentimentos e qualidades. Essa é uma classe ampla, que varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau (aumentativo e diminutivo). Existem diferentes classificações para os substantivos:

  • Próprio X Comum – ex.: Recife X cidade;
  • Concreto X Abstrato – ex.: comida X fome;
  • Primitivo X Derivado – ex.: livro X livreiro;
  • Simples X Composto – ex.: chuva X guarda-chuva;
  • Coletivo X Não coletivo – ex.: plateia X espectador.

Adjetivo

Palavras que caracterizam ou atribuem qualidades aos substantivos. Variam sempre em número e grau (mas nem sempre em gênero), de acordo com a variação do substantivo. Veja as classificações dos adjetivos:

  • Primitivo X Derivado – ex.: bom X bondoso;
  • Simples X Composto – ex.: verde X verde-claro;
  • Restritivo X Explicativo – ex.: aluno dedicado X neve fria;
  • Uniforme X Biforme – ex.: feliz X bonito(a);
  • Pátrio ou gentílico – ex.: holandês, paulista.

Advérbio

Palavras que expressam tempo, modo ou lugar, referindo-se a adjetivos, verbos e outros advérbios (nunca a substantivos). Advérbios nunca são variáveis. Veja as classificações e exemplos dessa classe:

  • De tempo – ex.: amanhã, agora, já;
  • De lugar – ex.: aqui, lá, dentro, longe;
  • De modo – ex.: mal, rapidamente, felizmente;
  • De intensidade – ex.: muito, pouco, mais, tanto;
  • De dúvida – ex.: talvez, provavelmente;
  • De afirmação – ex.: sim, certamente, realmente;
  • De negação – ex.: não, tampouco;
  • De interrogação – ex.: onde, quando, como, por que.

Artigo

Palavras que antecedem os substantivos e variam apenas em gênero e número. Existem apenas dois tipos de artigo, que determinam (definido) ou generalizam (indefinido) as palavras que acompanham. Veja:

  • Definido: o, a, os, as;
  • Indefinido: um, uma, uns, umas.

Numeral

Palavras relacionadas a números, que se referem a substantivos. Conheça as classificações:

  • Cardinal – ex.: dois;
  • Ordinal – ex.: segundo;
  • Fracionário – ex.: metade;
  • Coletivo – ex.: dúzia;
  • Multiplicativo – ex.: dobro.

Pronome

Palavras que acompanham ou substituem nomes (substantivos). Conheça todos os pronomes:

  • Pessoais: eu, tu, ele, nós, vós, eles, me, te, nos, vos, o(s), a(s), lhe(s);
  • Demonstrativos: esse(a), este(a), aquele(a), isso, isto, aquilo;
  • Possessivos: meu, teu, seu, dele, nosso, vosso, deles;
  • Indefinidos: algum(ns), vários, muitos, cada;
  • Relativos: quem, que, o(a) qual, quando, cujo;
  • Interrogativos: quem, quantos, que;
  • De tratamento: Vossa Alteza, Vossa Excelência.

Verbo

Palavras que exprimem ação, estado, fato ou fenômeno da natureza. Os verbos têm muitas variações: pessoa (primeira, segunda e terceira), número (singular e plural), tempo (presente, passado e futuro), modo (indicativo, subjuntivo e imperativo) e voz (ativa, passiva e reflexiva).

Veja alguns exemplos:

  • Ação – ex.: Clara passeava com o cão. (modo indicativo no pretérito imperfeito);
  • Estado – ex.: O cão ficou animado. (modo indicativo no pretérito perfeito);
  • Fenômeno da natureza – ex.: Talvez chova durante o passeio. (modo subjuntivo no presente).

Preposição

Palavras que conectam dois elementos de uma oração. Provavelmente na escola você teve que decorar várias delas, então vamos ver se você se lembra das principais:

  • a, ante, após, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre – ex.: Iremos até o rio para caminhar sobre a ponte com os amigos.

Conjunção

Palavras que conectam duas orações. Você provavelmente também teve que decorar várias delas nos estudos sobre orações nas aulas de português. Vamos relembrar:

  • Coordenativa aditiva – ex.: Não quero saber de bagunçar, nem fazer barulho.
  • Coordenativa adversativa – ex.: Vocês são bagunceiros, mas merecem um abraço.
  • Coordenativa alternativa – ex.: Ou vocês param, ou chamarei seus pais.
  • Coordenativa conclusiva – ex.: Vocês estão fazendo bagunça, portanto parem.
  • Coordenativa explicativa – ex.: Não demorem, porque a janta está servida.
  • Subordinativa integrante – ex.: Espero que vocês me ouçam.
  • Subordinativa causal – ex.: Já que não se comportam, não ganharão presente.
  • Subordinativa conformativa – ex.: Conforme avisei, estão todos de castigo.
  • Subordinativa comparativa – ex.: Estão se divertindo como crianças.
  • Subordinativa consecutiva – ex.: Estão tão felizes, que vou perdoar a bagunça.
  • Subordinativa final – ex.: Arrumem o quarto para poderem brincar.
  • Subordinativa proporcional – ex.: À medida que arrumarem o quarto, vão jantar.
  • Subordinativa temporal – ex.: Logo que terminar a brincadeira, arrumem o quarto.
  • Subordinativa condicional – ex.: Se vocês arrumarem o quarto, terão uma surpresa.
  • Subordinativa concessiva – ex.: Deixarei brincarem, embora não se comportem.

Interjeição

Palavras que expressam sentimentos e emoções no discurso. Veja alguns exemplos:

  • Saudação – ex.: Alô!, Oi!
  • Espanto – ex.: Oh!, Uau!
  • Desejo – ex.: Tomara!
  • Alegria – ex.: Eba!, Viva!
  • Ajuda – ex.: Socorro!

6 dicas de morfologia para melhorar seus textos

Pronto, agora você já tem um verdadeiro arsenal de palavras para criar seus textos! Vamos agora ver algumas dicas práticas para valorizar seus conteúdos.

1. Enriqueça o texto com conjunções variadas

Vimos acima todas as possibilidades de palavras da língua portuguesa. Para cada classe, existe uma infinidade de termos. Por que, então, deter-se a apenas uma pequena parcela deles? Explore tudo o que o português nos oferece!

No caso das conjunções, existem várias palavras alternativas para transmitir uma mesma ideia.

Por exemplo, sobre as conjunções adversativas: o “mas”, que é o mais usado, pode ser substituído por “entretanto”, “no entanto”, “porém”, “contudo” e “todavia” sem nenhum prejuízo ou mudança de sentido.

Outro exemplo são as conjunções temporais. A expressão “assim que” equivale a “logo que” ou “quando”. Então, se você costuma usar sempre o mesmo termo, agora você já conhece outros para enriquecer o texto e evitar a repetição de palavras.

2. Explore as interjeições para transmitir emoção

Como dissemos na definição de interjeição, essa classe gramatical expressa emoção, transmitindo isso também ao leitor. Então, explore as interjeições nos seus textos!

Muitas vezes elas são esquecidas, porém seu poder de engajar o leitor é enorme.

Por exemplo, em vez de dizer “ficamos surpresos”, você poderia usar a expressão “uau!”. Veja alguns outros exemplos:

  • Ufa! A cidade está mais segura agora.
  • Encontrou um novo emprego? Viva!

Tenha atenção apenas à orientação de linguagem do texto. Essas expressões funcionam melhor em conteúdos informais, mas também podem ser usados em outras situações.

3. Use adjetivos e advérbios com moderação

Mark Twain foi um escritor e humorista norte-americano. Ele disse o seguinte: “when you catch an adjective, kill it” (“quando você encontrar um adjetivo, mate-o”, em tradução livre). Uma frase perfeita para ilustrar esse tópico.

Não, ele não está dizendo para eliminar os adjetivos da face da terra. Porém, quando eles são usados em excesso, empobrecem o texto.

Geralmente, eles acrescentam informações muito vagas. Quando você fala, por exemplo, sobre um “homem estranho”, o leitor não entende o que isso significa. “Estranho” é uma qualidade que varia na percepção de uma pessoa para outra.

O mesmo vale para os advérbios. Assim como os adjetivos, eles são usados para complementar algum elemento na frase, mas quando usados em excesso, tornam-se dispensáveis pois prejudicam o ritmo da leitura.

Mais interessante para o leitor é, quando possível, substituir o adjetivo por uma descrição do que você está falando. Em vez de “homem estranho”, poderia usar “um homem de poucas palavras e poucos amigos”.

Ou, em vez de descrevê-lo, você pode contar como as pessoas reagem quando esse homem adentra em um local. É preciso um pouco de criatividade para fugir dos clichês!

4. Tenha cuidado com a ambiguidade dos pronomes

Frases ambíguas demonstram falta de cuidado e pobreza de vocabulário do autor. Com esses entraves no texto, o leitor fica confuso e tem uma má experiência de leitura. É o que acontece seguidamente com os pronomes.

Ao longo de um texto, nos referimos a diferentes pessoas e elementos. E os pronomes são usados para substituí-los, evitando a repetição de palavras. Porém, na construção da frase, eles podem ficar ambíguos. Veja alguns casos que podem ocorrer:

  • Pronomes possessivos: meu, teu, seu, dele, nosso, vosso, deles

Digamos que esse texto esteja falando com um leitor que é gerente de uma empresa: “os colaboradores estão felizes com suas férias”.

De quem são as férias: dos colaboradores ou do gerente? Não há como saber (a não ser que perguntemos ao autor…).

Para evitar a ambiguidade, poderia ser usado o pronome “deles”: “os colaboradores estão felizes com as férias deles”.

Mas se as férias são do gerente, seria preciso uma mudança maior, como “os colaboradores estão felizes com as férias que você tirou”.

  • Pronomes relativos: quem, que, o(a) qual, quando, cujo

O pronome relativo “que” também pode gerar ambiguidade. Por exemplo, veja esta frase: “o pai da aluna, que gostava do professor, reclamou à escola”.

Quem gostava do professor: o pai ou a aluna? Nesse caso, basta substituir o pronome por “o qual” (se for o pai) ou “a qual” (se for a aluna), e está resolvida a dúvida.

E se a frase fosse “o pai do aluno, que gostava do professor, reclamou à escola”? Agora, só o contexto ou uma reformulação completa poderiam resolver a ambiguidade.

5. Elimine os artigos indefinidos dispensáveis

Um artigo definido (o, a, os, as) determina um substantivo de modo particular e preciso. Por exemplo, na frase “o menino andava descalço na rua”, o autor se refere a um menino específico, que provavelmente já foi apresentado no texto.

Mas se esse artigo definido fosse substituído por um indefinido, a frase mudaria de sentido. “Um menino andava descalço na rua” refere-se a qualquer menino, a quem não se fez qualquer menção anterior.

Porém, por questões de estilo, muitas vezes é preferível suprimir os artigos indefinidos que são dispensáveis. Por exemplo, “o menino ganhou uns sapatos novos”. Assim, a leitura se torna mais agradável.

6. Tenha atenção à pontuação nas conjunções

Entender as conjunções é essencial para aprender algumas regras importantes de pontuação. Vamos a elas:

Quando as orações são coordenadas (aditiva, adversativa, alternativa, conclusiva ou explicativa), a vírgula antes da conjunção é obrigatória. Como vimos nos exemplos anteriores:

  • Vocês estão fazendo bagunça, portanto parem.
  • Vocês são bagunceiros, mas merecem um abraço.

Porém, há uma exceção: a conjunção aditiva “e”. A vírgula é obrigatória quando os sujeitos das orações são diferentes; se forem o mesmo, a vírgula não deve ser usada.

  • Vocês arrumam o quarto, e eu faço a janta. (sujeitos diferentes)
  • Vocês arrumam o quarto e juntam os brinquedos da sala. (mesmo sujeito)

Nas subordinadas, a vírgula antes da conjunção só é obrigatória quando a oração estiver deslocada. Ou seja, quando estiver antes ou no meio da oração principal. Se a oração subordinada estiver depois da principal, a pontuação é opcional. Entenda nestes exemplos:

  • Arrumem o quarto para poderem brincar. (vírgula opcional)
  • Para poderem brincar, arrumem o quarto. (oração subordinada deslocada, vírgula obrigatória)
  • Estão todos de castigo, conforme avisei. (vírgula opcional)
  • Conforme avisei, estão todos de castigo. (oração subordinada deslocada, vírgula obrigatória)

Concluindo

Brincar com as palavras: esse é o grande prazer de quem gosta de escrever. Você redige o texto, vê que uma frase não ficou boa, busca um sinônimo, uma nova formulação ou uma mudança de ordem, até encontrar o encaixe perfeito.

Para isso, o redator precisa ter as peças e as ferramentas nas mãos. Conhecer a morfologia das palavras é a base para escrever um texto de qualidade e sem erros, que explore as possibilidades da língua portuguesa de maneira atrativa para o leitor.

Afinal, um texto só existe quando é lido. Agora, queremos saber: o que você achou da leitura desse texto? Gostou das nossas dicas? Ficou com alguma dúvida? Deixe seus comentários!

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