Storytelling: aprenda a contar histórias com os grandes cronistas brasileiros

Matheus de Souza

Me perguntam como consigo escrever tanto. Querem saber de onde surgem as ideias, como é meu processo criativo e outras questões que permeiam a contação de histórias, conhecida no mundo corporativo como storytelling.

A verdade é que todo mundo tem uma história para contar. E não falo exatamente de uma vivência que mudou sua vida. Hoje você provavelmente foi para o trabalho. O trajeto até lá rende uma história. O papo com os colegas na copa da empresa. O telefonema do cliente que o fez perder a paciência. Você lendo esse texto. O trajeto de volta. Você contando do seu dia para o seu cônjuge.

A partir do momento em que você conta algum desses acontecimentos corriqueiros para alguém, tem-se uma história. A opção de colocar isso num papel é sua. Tudo é útil para quem escreve. Todas as experiências, todas as dificuldades, tudo o que você vivencia. E é exatamente isso que quero te mostrar nesse artigo repleto de coisas que lá no fundo você já deve saber, mas precisa da validação de alguém que trabalha com isso.

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De onde surgem as ideias

Hoje é uma terça-feira como qualquer outra dentro da minha rotina. Acordei cedo, tomei água, fiz café, servi o café numa caneca hipster, comi uma banana, joguei a casca da banana no saco de lixo orgânico, dei alguns passos até o meu escritório, sim, eu trabalho em casa, peguei o laptop na mochila, sentei na minha cadeira desconfortável, liguei o laptop, chequei os e-mails, vi que a mensagem com o título “urgente” não era urgente e abri o editor de textos para escrever essas linhas.

O parágrafo acima é um exemplo de uma pequena história sobre eventos banais. Coisas corriqueiras que talvez também façam parte da sua rotina. Essa ideia de descrever o que fiz há alguns minutos, por exemplo, eu tive enquanto fazia meu café. Porém, a ideia desse texto existe desde a última semana quando conversei com dois colegas sobre essas questões. No aplicativo de notas do meu celular há o seguinte lembrete: “escrever que as pessoas deveriam aprender storytelling com os cronistas“.

Muitas pessoas têm uma ideia romântica de que grandes escritores escrevem apenas quando estão inspirados. Como se uma luz divina invadisse a janela do apartamento e abençoasse os dedos daquele que escreve.

A verdade é bem menos glamourosa. As ideias podem surgir a qualquer momento. Enquanto você faz café, lava a louça, faz um exercício físico ou toma banho. Porém, elas se vão do mesmo jeito que aparecem. É dever do escritor anotar qualquer lampejo criativo que surja durante o dia. Seja no celular, computador ou no bom e velho caderninho. O resto do trabalho é sentar a bunda na cadeira e tentar transformar a ideia em história.

Processo criativo

Desde que escrever se tornou um trabalho, senti a necessidade de criar um processo. E ele é bem simples, para ser sincero. Mas, isso não quer dizer que vá funcionar para você.

Mantenho um arquivo com notas de ideias que surgem ao longo do dia. Ele está na nuvem, sincronizado com o celular e o laptop, então posso acessá-lo onde e como quiser. A maioria dessas ideias não dá em nada. Porém, quando me sento numa terça-feira como a de hoje para escrever, sempre tenho algo para falar. Basta consultar minhas notas.

Decidido o tema, meu foco vai para o título. Muitos autores defendem que ele deve ser a última coisa escrita no seu texto, mas eu penso diferente. Meus artigos giram em torno dele. Eu levei uns 20 minutos para transformar a ideia de “escrever que as pessoas deveriam aprender storytelling com os cronistas” em “Storytelling: aprenda a contar histórias com os grandes cronistas brasileiros“, mas, depois que cheguei nesse título, consegui visualizar exatamente sobre o que deveria escrever.

Meu processo continua com uma pergunta:

— O que eu tenho para falar sobre esse tema?

Escrevo frases soltas que viram subtítulos. As organizo de uma forma que faça sentido no texto visualizado mentalmente e só então começo a escrever. Essas frases soltas servem como um norte, não necessariamente eu chego ao final do artigo fiel à elas. É comum que outras ideias surjam enquanto escrevo.

A formação como leitor

Costumo receber feedbacks positivos sobre o jeito que escrevo e conto minhas histórias. Principalmente no LinkedIn e no Medium. Qual o meu segredo para escrever como se eu estivesse numa conversa de bar com o Nelson Rodrigues?

Minha formação como leitor. Profissionais do mundo corporativo, geralmente, direcionam seu tempo de leitura para livros de negócios. E isso é ótimo. Eu também os leio. Porém, no que diz respeito à escrita criativa em si, e não ao conteúdo e suas dicas preciosas, esses livros, de modo geral, não são boas influências. Os textos costumam ser engessados, técnicos e sem fluidez.

Se você deseja escrever bem e contar boas histórias, deve, antes de tudo, ser um bom leitor. E isso significa beber em outras fontes fora do mundo do empreendedorismo, do marketing de conteúdo e da autoajuda.

Leia romances, contos e, principalmente, crônicas. A crônica é um gênero tipicamente brasileiro e está presente no país desde a época do descobrimento, quando Pero Vaz de Caminha escreveu uma carta contando o que havia visto por aqui.

Para te ajudar na sua formação como leitor, fiz uma lista com 10 cronistas, separados entre passado e presente, que podem ser um bom começo para você aprender a contar suas histórias de uma maneira que prenda a atenção do seu público-alvo.

5 grandes cronistas brasileiros de todos os tempos

Listas tendem a ser imparciais e refletem o gosto pessoal do autor. Nesse caso não é diferente, mas, independente de faltar fulano ou sicrano, ter contato com os nomes abaixo certamente será um ótimo começo para a sua introdução no universo das crônicas.

Separei algumas obras que podem servir como excelentes referências para a sua formação como leitor. Os links são da Amazon, parceira do meu blog.

1. Rubem Braga

O que ler:Crônicas“, uma caixa com três volumes contendo os melhores textos daquele que é considerado o mais importante cronista literário brasileiro.

2. Nelson Rodrigues

O que ler: O melhor de Nelson Rodrigues“, cujo título é autoexplicativo.

3. Clarice Lispector

O que ler: Todas as crônicas“, cujo título também é autoexplicativo.

4. Fernando Sabino

O que ler: As melhores crônicas de Fernando Sabino“, mais uma obra com título autoexplicativo.

5. Machado de Assis

O que ler: Melhores crônicas de Machado de Assis“, que vocês devem imaginar o conteúdo.

5 grandes cronistas contemporâneos para você acompanhar

A lista acima é composta por gênios literários. Essa logo abaixo por cronistas que ainda estão escrevendo suas histórias, mas que certamente serão lembrados futuramente como grandes nomes da crônica nacional.

1. João Paulo Cuenca

O que ler: “A última madrugada“, coletânea que reúne suas melhores crônicas escritas para grandes jornais como Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil e O Globo.

2. Carol Bensimon

O que ler: “Uma estranha na cidade“, coletânea que reúne suas melhores crônicas escritas para grandes jornais como Estado de S. Paulo, O Globo, Folha de S. Paulo, Superinteressante, Revista Piauí e para a editora norte-americana McSweeney’s.

3. Antônio Prata

O que ler: “Trinta e Poucos“, coletânea que reúne suas melhores crônicas escritas para a Folha de S. Paulo.

4. Murillo Leal

O que ler: Suas crônicas semanais (e gratuitas) em “O que eu aprendi sobre a vida” e suas dicas de escrita em “O Redator“.

5. Vanessa Barbara

O que ler: “O louco de palestra: E outras crônicas urbanas“, coletânea que reúne suas melhores crônicas escritas para grandes jornais como Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Revista Piauí.

Este artigo também pode ser lido aqui e aqui.

Nota do editor:
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