Vejo diariamente, hoje mais diariamente do que nunca, mulheres e homens se esforçando heroicamente para serem quem não são. E convencendo os outros disso.
A internet, em especial as redes sociais, são mestras em abrigar este tipo de disfarce: gente notadamente frustrada e infeliz, que deposita as suas esperanças em fotos e posts ultrapensados, acreditando que likes e tapinhas nas costas virtuais as salvarão do imenso abismo em que se encontram.
Até a aparição do Orkut, em 2004, primeira rede social a causar furor por essas bandas e que, em 2014, ao fechar as portas, tinha 30 milhões de brasileiros cadastrados, existiam dois tipos de seres humanos: aqueles que “eram realmente” alguma coisa e aqueles que “nós achávamos que eram” alguma coisa.
As redes sociais criaram uma terceira espécie: o ser humano que “gostaria que nós pensássemos que ele é alguma coisa”. Ou seja: especialistas em criar no outro falsas percepções.
Sim, redes sociais estão coalhadas de personas virtuais iluminadas e vitoriosas-em-tudo-na-vida que pouco ou nada se parecem com os humanos desalentados e afogados em piscinas de boletos que habitam nossos prédios, frequentam as mesmas academias do que nós ou timidamente dividem conosco elevadores e bancos das universidades e MBAs.
Não raro, pasme, reclamam dos mesmos problemas que afligem qualquer ser humano.
Por que, então, acreditar neles?
Porque definitivamente o mundo real e o virtual não se conversam – e aqui está o risco.
Não identificar aqueles que traem o nosso juízo em nome única e exlusivamente das frustrações deles pode ser um jogo perigoso e nos levar a lugares muito muito sombrios.
Vejo usuários das redes desesperados gastando com gurus de post o pouco dinheiro que juntaram e aplaudindo cegamente quem, na vida real, não goza nem de 8% da relevância de mercado ou sucesso que jura ter conseguido.
Pior: fazem estes pobres desavisados acreditarem que também chegarão lá (aonde?), caso sigam seus conselhos e, num dado momento, ah vá, paguem por eles.
Vejo números e estatísticas de fazer corar de vergonha segundo-anistas de Matemática, sendo anunciados como mágica.
Vejo uma suposta humildade por parte de quem bajula e admira crachás, cargos e salários alheios e sequer daria bom dia para a Dona Maria do café (a menos que fosse para fazer um selfie).
Senso crítico, senso crítico, senso crítico
Fórmula de bolo para despertar nosso senso crítico não existe. É um aprendizado que pode levar uma vida – e que pode nunca chegar. A boa notícia é que ele precisa ser intencional, isto é, você é quem decide mudar o seu olhar a respeito das pessoas e das situações.
Ao ler um texto mirabolante, cheio de adjetivos e da palavra EU, desconfie: a ponta azulada e reluzente do iceberg pode ser um imenso saco de lixo virado do avesso num oceano poluído, refletindo a luz do sol.
Parar para admira-lo como se fosse obra da natureza te fará perder tempo e deixar passar ao largo tesouros verdadeiros. E o tempo é a única dádiva da vida que não volta.
Este artigo também pode ser lido aqui.
Nota do editor:
Aproveite para conferir nosso Manual de Boas Práticas no LinkedIn para evitar cometer alguns outros erros, além dos citados pelo Marc neste artigo. 😉