As prateleiras verdes dos supermercados, as abas sustentáveis dos sites de vendas e até a forma como as pessoas têm se vestido revelam uma mudança que chegou para ficar.
O consumo consciente com a busca por produtos que gerem menor impacto no meio ambiente tem se tornado o grande filão na economia do século XXI. E quem ainda não abriu o olho para isso pode ficar muito atrasado.
O movimento vai além de uma tendência. Indicadores como do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (IPCC) já advertem que, se em doze anos, a humanidade não equilibrar sua emissão de carbono, sofrerá com uma grande catástrofe climática.
“As decisões que tomamos hoje são decisivas para garantir um mundo seguro e sustentável para todos, agora e no futuro“, é o que revela Jim Skea, copresidente de um dos grupos de trabalho do IPCC.
Por isso, reduzir lixo, encontrar soluções para o consumo do plástico, observar o destino das embalagens e desestimular a obsolescência programada tem feito parte da lista de compras de consumidores do mundo inteiro. O que chama a atenção das marcas e também exige delas um engajamento geral, verdadeiro e contínuo.
O consumo consciente chegou para ficar e gerar mudanças. Mas o que significa exatamente este conceito?
Fique conosco e aprenda mais sobre o tema!
O que é consumo consciente
O consumo consciente, como o próprio nome sugere, é uma forma de consumir com mais conhecimento sobre os processos e o tipo de produto que é adquirido. É um consumo que questiona a origem dos ingredientes, a maneira de produção, assim também como a real necessidade de sua compra.
Reza a lenda que a primeira manifestação de consumo consciente como movimento surgiu no século XIX, nos Estados Unidos, em Nova York.
Um grupo de donas de casa, que se indignava com as péssimas condições de trabalho de seus maridos, funcionários de indústrias, passou a fazer anotações em cadernos sobre empresas que respeitavam seus funcionários. E, assim, passaram a dar preferência para as mesmas em suas compras.
Anos depois, vê-se o impacto de movimentos assim, que de forma organizada, conseguem impor limites para a industrialização.
Como é o caso do movimento #FashionRevolution, iniciado na Inglaterra, a partir da queda de um prédio que abrigava confecções de grandes marcas mundiais em Bangladesh, no ano de 2013, matando mais de mil pessoas. Os britânicos começaram a questionar os motivos daqueles trabalhadores confeccionarem suas roupas em tais condições.
Da pergunta “quem fez as minhas roupas” e “quanto custou essa camiseta”, o movimento fez circular no mundo inteiro a ideia de que o preço baixo de um produto pode ter um alto custo para a comunidade que o produziu em questões sociais e ambientais.
A iniciativa criada conseguiu tanta relevância que empurrou diversas marcas de fast fashion a se comprometerem em novos acordos sobre uma forma mais ética de confecção.
E não somente isso! É também mantida, pelos consumidores engajados, uma constante vigilância sobre as etiquetas, inclusive sobre lojas que cobram caro por suas peças, mas que impactam da mesma forma em sua produção.
O consumo consciente impõe isso: atenção constante. Mas será que ele já atingiu em cheio os brasileiros?
O perfil do consumidor no Brasil e no mundo
As estáticas têm confirmado uma observação geral. Em 2019, uma pesquisa da Nielsen, indicou que 42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir seu impacto no meio ambiente.
A mesma pesquisa também apontou que 30% dos entrevistados estão atentos aos ingredientes que compõem os produtos. Neste posicionamento crítico diante das marcas, 58% dos entrevistados responderam que não compram produtos de empresas que realizam testes em animais e 65% não compram de empresas associadas ao trabalho escravo.
Segundo a especialista em reputação empresarial, Silvia Salles, o “por que” é o principal fator considerado na hora da compra de um consumidor consciente. Por isso, ela recomenda às marcas, “Se comprometer com uma causa ambiental não é questão simplesmente de ser ‘boazinha’. Faz sentido para o negócio hoje“.
Em termos mundiais, uma pesquisa também de 2019 da Accenture Strategy, com 6.000 consumidores de onze países entre Europa, América do Norte e Ásia, indicou que 83% desses acreditam que é importante ou extremamente importante que as empresas criem produtos que possam ser reutilizados ou reciclados.
Uma mudança observada na mesma enquete é que agora 72% dos consumidores afirmam que compram atualmente mais produtos eco-friendly do que faziam há cinco anos.
Na mesma pesquisa, se constata ainda que 77% dos consumidores consideram que o plástico seria o tipo de embalagem menos amigo do meio ambiente, enquanto que os produtos de papel continuam sendo vistos como os mais amigos do ambiente por 55% dos inquiridos.
Tudo isso, se levado em consideração pelas marcas e pela indústria, faz uma reviravolta na forma de produção. E pode gerar muito prejuízo ou muito lucro dependendo da forma como a transformação é conduzida.
A sustentabilidade que vende e o greenwashing que afasta
O interesse do consumidor por produtos com uma pegada mais sustentável fez com que o mercado, atento às mudanças, tomasse duas atitudes diferentes: a primeira, de criar processos sustentáveis e criativos, em que a forma de produção inovadora gerasse um impacto menor para o meio ambiente.
A segunda de investir somente em discursos meramente marketeiros que, em verdade, nada realizam de avanço para a sustentabilidade. Esta segunda atitude é identificada com o termo greenwashing.
O greenwashing, sendo a hipocrisia do discurso ecológico apenas para manipular e conseguir vendas, acaba gerando reações perigosas, pois pode desbancar, algumas vezes o trabalho sério realizado por marcas que realmente se engajam em trabalhar com mais ética ambiental. Por isso, órgãos de controle e o consumidor devem estar atentos à prática.
Para a advogada, estilista e especialista em fashion law, Patrícia Barbosa, muito se aproveita ainda da ignorância a respeito deste assunto.
“Na perspectiva do mundo fashion, ser sustentável está na moda. As empresas de fato estão usando deste discurso e acredito que muitas o sigam de forma verdadeira, mas, ao mesmo tempo, muitas outras utilizam de um marketing verde, com produtos que, se forem rastreados, não poderiam ser chamados de eco ou sustentáveis”, comenta.
Ou seja, ainda fala-se muito e pouco se faz para conter os impactos ambientais gerados nas diversas produções.
Parte deste pensamento coincide com o que a ativista Greta Thunberg colocava em seu discurso aos grandes líderes mundiais no United Nations Climate Action Summit em setembro deste ano. “Vocês ainda se aproximam de nós, jovens, para ter esperança. Como ousam?”, questionava, enquanto denunciava a falta de ações concretas dos diversos países.
Individualmente, a forma mais simples do consumidor vencer o Greenwashing e valorizar o esforço das marcas que se engajam é dar preferência para aquele processo que for mais transparente, em qualquer segmento.
Para isso, Patrícia aconselha “Antes de comprar, pesquise a vida pregressa da marca, procure certificações sérias (e não selos inventados pela própria marca) e questione os discursos”.
Para as marcas, Silvia Salles dá a dica de como se adequar à tendência eco-friendly: “mais importante que dizer, é fazer, de fato. E mais importante que fazer de fato, é ser. Ser, fazer e dizer: nesta ordem“.
Para ela, marcas que se dizem eco-friendly e não são, se expõem a um risco grande. “Eventualmente, quando aquilo que dizem se provar ser uma mentira, essas marcas estarão expostas e com a reputação fragilizada”, adverte. Discurso sem prática não se sustenta com o consumidor que questiona.
Consumir como um ato político
O consumidor consciente é também um cidadão consciente. Para a especialista em sustentabilidade, Julia Padovezi, as pessoas que se engajam num consumo mais sustentável estão criando hábitos de vida diferentes, como aprender a levar seus próprios potes e sacolas para os mercados a fim de consumirem menos embalagens plásticas.
“O consumo consciente é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária que pretende garantir a sustentabilidade da vida no planeta”, comenta.
Segundo ela, apesar de muita gente experimentar mudanças no modo de vida, a busca pela excessiva comodidade pode ainda ser vista como uma das grandes vilãs na hora de colocar em prática um consumo mais consciente.
No entanto, a dualidade comodidade/sustentabilidade também pode ser um argumento para a criatividade de empreendedores que querem unir o útil ao agradável pelo meio ambiente e movimentar um negócio.
A exemplo disso, Bruna Miranda, fundadora da Review, uma plataforma de discussão sobre consumo e estilo de vida, está na produção do quarto Guia Slow Living: uma revista e bula que, além de discutir os processos e as necessárias mudanças no cotidiano, visa aproximar o contato entre consumidores e marcas grandes e pequenas que oferecem produtos de acordo com seus valores de vida.
Uma comodidade na busca para quem já vem se adaptando na forma de consumir.
E ela não é a única! Ideias que unem a vontade de consumir diferente com o oferecimento de serviços sustentáveis é o que pode ser visto também em aplicativos e serviços que estão pipocando no universo da economia colaborativa.
Iniciativas que são hoje focadas em conectar pessoas que precisam de um produto emprestado ou compartilhado (como uma furadeira, uma roupa de gala, um ferro de passar) e não pretendem comprar já estão consolidando empresas e uma forma diferente de circular bens.
“A economia colaborativa possibilita que se adquira menos e compartilhe mais. É a venda de serviços e experiências ao invés de produtos”, explica Julia Padovezi, “Por isso, é uma economia que deve ser estimulada, porque diminui a produção, a extração, o descarte”, aconselha.
Quando o “ter” não é mais o foco central do consumo, e sim a experiência de compartilhar ou aproveitar algo que já existe, o consumidor passa a mostrar para o mercado o cultivo de novos valores. Com seu poder de compra, esse ator do século XXI tem provado que consumir é também um ato político.
O futuro do consumo consciente
Em resumo, o consumo consciente não parece ser um movimento passageiro. Além da evidente necessidade de mudança na forma de lidar com os recursos do planeta, as iniciativas sustentáveis vêm sendo confirmadas, inclusive, na forma de leis.
Leis que atingem por bem ou por mal a quase totalidade dos consumidores e uma grande parcela da indústria, como é o caso da abolição de canudinhos de plástico em algumas cidades do Brasil, a obrigatoriedade da logística reversa em diversos países do mundo, o estímulo ao reparo dos objetos (em vez de comprar um novo) na Escandinávia, assim como a proibição do teste em animais para produção cosmética e a assinatura de pactos mundiais para produções mais éticas.
A marca que não se comprometer verdadeiramente com as causas sociais e ambientais da atualidade, arriscará seu nome e sua reputação, além de ficar para trás na fila da inovação e preferência do cliente.
Para o consumidor, as vantagens virão com mais transparência, mais opções de serviços e experiências e uma comunicação direta para responder suas dúvidas. A mudança não será uma escolha, a maneira de fazê-la que sim.
Por isso o conceito de Triple Bottom Line, embora não recente, está mais atual do que nunca. Você conhece? Entenda um pouco mais sobre como unir planeta, pessoas e lucro no nosso texto.
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