A desbancarização do Brasil

Desbancarização abre portas para iniciativas financeiras que olham para os cidadãos sem contas em bancos

O processo de desbancarização do Brasil

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O comportamento financeiro do brasileiro não é homogêneo: há quem opte por bancos tradicionais, outros por empresas digitais e, ainda, quem escolha administrar o próprio dinheiro de forma independente, sem qualquer conta bancária: os desbancarizados.

Apesar de o cartão de crédito ser amplamente difundido no país, segundo levantamento do Banco Central 96% da população brasileira diz utilizar o dinheiro em espécie para fazer pagamentos, embora também usem outros meios, e 60% preferem propriamente o papel-moeda para fazer suas transações.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva revela a existência no Brasil de 45 milhões de desbancarizados, ou seja, os brasileiros que não movimentam a conta bancária há mais de seis meses ou que optaram por não ter conta em banco.

Seja por falta de proximidade com os produtos das instituições financeiras ou por opção pessoal, os desbancarizados movimentam anualmente no país mais de R$ 800 bilhões — dinheiro que não está aplicado em banco nenhum.

É preciso entender as oportunidades e iniciativas, sobretudo das fintechs e da transformação digital bancária, para quem é adepto à desbancarização no Brasil. 

Sem contas em bancos, população procura outras iniciativas financeiras

A desbancarização é um fenômeno que já ocorre na Europa e EUA e começa a entrar no Brasil de forma crescente. Trata-se do abandono do sistema bancário tradicional, principalmente pelas tarifas altas, crédito restrito, burocracia e baixos rendimentos. Acontece também pela falta de confiança em grandes instituições.

Muitos são ex-bancarizados que não tiveram boas experiências como clientes de bancos e não acham que o dinheiro deles estava bem guardado. Outros são trabalhadores autônomos que preferem receber em dinheiro vivo. 

Esses últimos são acostumados a negociar descontos, comprar fiado e, quando necessário, usar cartão de crédito de amigos e parentes, pois veem os bancos como um local inacessível.

Segundo a pesquisa do Instituto Locomotiva, os desbancarizados representam 29% do total da população brasileira. Grande parte deles (69%) possui acesso à internet, 39% tem de 16 a 24 anos e 19% de 25 a 34 anos. A maioria se encontra no Nordeste, seguido em números pelo Sudeste.

Esses dados se unem aos indícios da mudança no comportamento dos consumidores de serviços bancários. Uma pesquisa da FEBRABAN mostra a preferência dos clientes pelos canais digitais, confirmado pela nova era das comunidades online. Segundo o levantamento, em apenas três anos o volume de transações bancárias via smartphones quadruplicou.

Assim, trata-se de uma expressiva fatia da população brasileira que não tem fidelidade a nenhuma instituição bancária, mas que não deve ficar desamparada, abrindo espaço para as alternativas que atendam essa demanda e que ofereçam serviços digitais mais práticos, rentáveis e com taxas mais atrativas. 

Desbancarização no Brasil abre portas para startups

De olho nesse público desbancarizado, vários bancos digitais — as fintechs, empresas de tecnologia financeira — têm conquistado clientes e mais espaço no mercado.

Por não pedirem comprovante de renda e oferecerem taxas mais acessíveis, os bancos digitais têm sido preferência de parte da população. Com isso, mesmo sem conta formal em um banco, as pessoas agora podem ter acesso às ferramentas para fazer pagamentos, transferências e investimentos. 

Um outro formato que atende à desbancarização são cartões pré-pagos, pois não é preciso ter conta bancária para utilizá-los. Com eles, é possível realizar compras em lojas físicas e virtuais, saques e até mesmo quitar a assinatura de serviços online — como a Netflix, por exemplo. 

Assim, surgem produtos e serviços que não estão preocupados em atingir o contingente de 69 milhões de clientes bancarizados, mas atender à outra fatia da população ao criar soluções digitais que atraem aqueles que se mantém fora dos bancos, como os exemplos a seguir.

A expansão do PicPay e MercadoPago 

O PicPay é uma fintech brasileira com mais de 12 milhões de usuários que conquista principalmente pela sua praticidade.

O aplicativo permite pagar boletos, transferir dinheiro, fazer recargas de bilhete de transporte e utilizar saldo em mais de 1,4 milhão de estabelecimentos, inclusive com compras presencialmente por meio do QR Code.

Recentemente, a marca anunciou a novidade de que se prepara para liberar saques de graça no Banco24Horas — agora concorrendo diretamente com outras fintechs, como o Nubank. 

No entanto, o objetivo principal é mirar os sem-conta bancária. Para isso, anuncia não somente em veículos tradicionais e online, mas também patrocina eventos dentro de comunidades para se aproximar do público desbancarizado — aqueles que esperam 1 hora na fila da lotérica sob o sol e precisam de novas soluções. 

Entre os diferenciais do PicPay está o rendimento do dinheiro que o usuário coloca em sua carteira, seja depositando ou recebendo valores, e que pode render até 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). 

O desafio é mostrar a essa fatia da população que o dinheiro pode render mais do que se ficar guardado em casa, deixando claro que para isso os desbancarizados não precisam se “bancarizar”. 

Nesse mesmo cenário está o MercadoPago, divisão de pagamentos do Mercado Livre, que obteve crescimento de 94,5% em 2019

Ele também recebe e envia dinheiro, paga contas e faz pagamentos online e presencialmente com QR Code. A plataforma ficou popular por oferecer cashback (dinheiro de volta) e sistema de cupons promocionais para algumas transações, como pagamento de combustível em postos da Shell.

No entanto, seu público-alvo são os 8 milhões de microempreendedores do Brasil por meio da associação com o marketplace Mercado Livre. Dessa forma, a empresa consegue montar um modelo de crédito sob medida com base nas informações sobre as transações dos vendedores.

No segundo trimestre de 2019, o volume total transacionado pelo Mercado Pago na América Latina foi de 6,5 bilhões de dólares. Já são 4,5 milhões de pagantes ativos na carteira digital na região.

Itaú também entendeu essa demanda e criou o iti

Com o aumento da concorrência e a queda da procura pelos serviços tradicionais, as instituições bancárias estão buscando por novos nichos, incluindo os desbancarizados que anteriormente eram vistos, é claro, como pouco atraentes.

Os cinco maiores bancos do país (exceto a Caixa Econômica) lançaram uma carteira digital nos últimos meses. Enquanto o Bradesco criou o Next, o Itaú aposta no iti desde outubro deste ano.

Os recursos são transferências gratuitas em DOC ou TED para qualquer banco (limitado a R$ 1.000) e pagamento de contas com cartões de crédito e débito. Para usar o iti em lojas físicas, basta realizar o pagamento escaneando o QR code indicado pelo lojista, porém o serviço só está disponível em maquininhas da Rede, que pertence ao Itaú, o que limita o alcance do serviço.

Em geral, as contas digitais têm pacotes de serviços com tarifas mais atraentes, mas com menos produtos que o pacote tradicional. A maior vantagem dos bancos na corrida pelos desbancarizados é que essas fintechs já nascem grandes com a estrutura do serviço tradicional por trás.

Desbancarização não acontece apenas no Brasil

Os Estados Unidos e alguns países da Europa começaram o processo de desbancarização há décadas, à medida que a população teve mais poder de compra.

Segundo a consultoria britânica Oliver Wyman, entre os americanos investidores, 96% não escolhem os bancos para depositar suas economias. Na Inglaterra, o número de desbancarizados alcança os 90%.

Contudo, diferentemente do cenário brasileiro, a causa principal são investidores que optam por corretoras ou fintechs online que oferecem acesso a mais oportunidades de investimento, mais facilidade e custos menores.

Assim, criam oportunidades de independência e liberdade na administração dos próprios investimentos por meio de soluções fora dos produtos financeiros oferecidos pelos bancos. 

Acredita-se que o investidor que acessa uma plataforma aberta dificilmente vai querer voltar a ter acesso apenas aos investimentos do seu banco, e acaba utilizando ele apenas para suas movimentações do dia a dia — como acontece lá fora. 

No Brasil, o Banco Central tem incentivado a competição entre instituições tradicionais e novatas para derrubar as taxas, melhorar os serviços e aumentar a inclusão. A competição e inovação é benéfica ao consumidor, que pode escolher em qual se adéqua mais.

Aqui, há os desbancarizados que guardam as notas no bolso e que têm cofrinho em casa porque confiam muito mais em si do que nas diversas soluções financeiras que existem. 

Dessa maneira, alternativas para desbancarização não atuam somente com investidores que preferem a liberdade de investir, mas com pessoas que lidam informalmente com o dinheiro e não querem depender dos bancos — mas que também podem administrar suas finanças de forma mais inteligente, acessível e organizada. 

O movimento de inovação no sistema financeiro é saudável porque derruba o custo dos serviços para o consumidor final e oferece opções que se adequem a todos os públicos. 

Além disso, ao compreender essa realidade, as corporações podem se adaptar e ajudar mais os seus funcionários no que se refere a receber seus salários de novas formas, com segurança e facilidade. 

Os bancos tradicionais estão aprendendo com as fintechs, e vice-versa, em um contexto que há demanda de diferentes serviços. Assim o comportamento do consumidor, em constante atualização, pode continuar sendo respeitado. Veja a seguir como os bancos tradicionais podem competir com as fintechs.

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