Abrir IPO é um grande passo para uma empresa. A abertura do seu capital na Bolsa de Valores significa que a organização é um sucesso de mercado, mas todo o processo para iniciar a venda de ações tem que ser planejado e cauteloso para não colocar em risco e credibilidade do negócio.
Recentemente, a Uber e a WeWork tornaram as suas ações públicas, vivendo um período bastante turbulento, o que se deve ao fato de terem se precipitado. Os IPOs bem-sucedidos estão relacionados a um bom planejamento que, acima de tudo, inclui paciência para entender qual é o melhor momento para vender as suas ações de forma segura.
Ignorar esses fatores pode sair caro para a empresa, pois implica em consequências negativas para a marca e para executivos e funcionários.
Paciência é indispensável
As empresas que optam pela abertura do capital passam por um rigoroso filtro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), devendo cumprir todas as exigências estabelecidas pelo órgão. Para tanto, é necessário construir um planejamento sólido, que comprove que a organização está pronta para vender as suas ações na Bolsa de Valores e para que esse processo impacte o mínimo possível suas atividades.
Tudo isso requer muita paciência para não se apressar e acabar cometendo erros que comprometem a imagem da companhia. Antes de qualquer coisa, é importante analisar alguns fatores que indicam que a empresa tem condições de abrir IPO, tais como:
- boa gestão do negócio;
- consolidação da marca no mercado;
- administração transparente;
- aceitação perante os consumidores.
Também vale ressaltar que o Mercado de Ações é exigente. Logo, é necessário ter objetivos e um plano de negócios contundentes e claros. Sem falar que a abertura do capital influencia na maneira como o negócio é gerenciado, haja vista que os acionistas têm acesso a informações sigilosas, além de se envolverem na tomada de decisão dependendo do tipo de ação adquirida.
Sendo assim, é fundamental montar um time especializado e preparado para esse processo. É preciso combinar a competência dos colaboradores internos com experiência em capital aberto dos profissionais externos. Isso ajuda a ter um bom relacionamento com os investidores e maior transparência nos processos.
Os IPOs bem-sucedidos de 2019 não foram feitos repentinamente
O ano de 2019 foi excepcional para o mercado de IPO. Diversas empresas populares entraram no mercado público. De acordo com o levantamento da Renaissance Capital — órgão de pesquisa e fundos negociados em bolsas de valores — a abertura de capital de novas empresas gerou US$ 25 bilhões de dólares.
Os IPOs que obtiveram sucesso não conseguiram isso de uma hora para outra. Tratam-se de empresas que estudaram o melhor momento para iniciar a venda de ações e se estruturam para realizar essa transição.
Beyond Meat
A Beyond Meat, startup de carne vegetal, triplicou a sua receita após abrir o capital. Segundo o Business Insider, desde a primeira oferta de ações feita em 02 de maio de 2019, a marca teve uma valorização de 550%.
As ações da empresa seguem subindo no mercado. Essa tendência já era evidente antes mesmo da precificação das ações. No final do mês de abril, a instituição tinha como estimativa alcançar US$ 1,2 bilhão com o IPO. No dia da abertura, esse número praticamente dobrou e a ação que inicialmente era negociada por US$ 25 passou a ser vendida por US$ 46.
Zoom Video Communication
Sediada na Califórnia, nos Estados Unidos, a Zoom Video Communication oferece serviços de conferência remota por meio de computação em nuvem, e no ano passado esteve entre as empresas de tecnologia mais valiosas do mundo. Ela se tornou pública em abril de 2019, emitindo 20 milhões de ações por US$ 36, o que a fez levantar US$ 752 milhões. O seu retorno após o IPO é de 139,8%, conforme informações do Business Insider.
Um dos principais diferenciais da companhia é focar em vendas, marketing, contratação e desenvolvimento de produtos para aumentar os seus negócios. A sua maior concorrente é nada menos do que a Microsoft. Levando isso em consideração, a Zoom está sempre atualizando as suas ferramentas para se manter competitiva.
O que as empresas podem aprender com a Uber e a WeWork
Startups de grande sucesso no mercado, a Uber e a WeWork derraparam ao abrirem o capital, tendo que lidar com várias turbulências.
A primeira tinha uma expectativa elevadíssima antes de ser lançada na Bolsa de Valores, com uma possível valuation de US$ 120 bilhões, mas que na realidade alcançou apenas metade da previsão. Já a segunda foi analisada em detalhes ao solicitar seu IPO, o que apontou que a expansão da empresa não estava de acordo com a expectativa de rentabilidade prevista, isso gerou crises e um prejuízo de US$ 1,9 bilhão.
O fiasco da Uber mostra ansiedade dos investidores com relação à liquidez do negócio. A companhia tem um balanço instável, com muitas perdas registradas a cada mês, necessitando de uma mudança na gestão para que o seu crescimento seja devidamente alinhado com a lucratividade.
No caso da WeWork, há uma série de erros. Isso porque a empresa tinha gastos extremamente elevados, além de enfrentar problemas em decorrência da falta de ética do seu CEO, Adam Neumann. Ele detinha alguns imóveis alugados para a WeWork e pegou uma linha de crédito pessoal na própria organização a juros muito baixos. O dinheiro foi usado na aquisição de mais prédios, que em seguida foram alugados para o negócio.
Empresas que devem solicitar IPO em 2020
Em 2020, novas empresas devem solicitar IPO, com o máximo de cuidado para não errar da mesma forma que as companhias citadas anteriormente. A Renaissance diz que a Private Company Watchlist (PCW) tem 243 companhias que podem se tornar públicas este ano, além de outras 60 que contrataram bancos ou entraram em sigilo com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.
Airbnb
A startup que se transformou em uma plataforma global de reservas de viagens é um dos negócios mais esperados a abrir capital neste ano. Entre seus diferenciais está buscar uma listagem direta, o que quer dizer que não vai arrecadar dinheiro.
Nesse cenário, a Airbnb deve seguir os caminhos do Spotify e do Slack. Se essa estratégia tiver êxito, poderá estimular uma tendência que tem reformulado o setor com o Wall Street. O venture capital é de US$ 3,1 bilhões.
Wish
Discretamente, a Wish se converteu em uma enorme plataforma de e-commerce, vendendo objetos sem marca e com descontos para compradores de barganha. É um sucesso estrondoso e faz frente à Amazon, que inclusive já fez ofertas para comprá-la. O venture capital é de US$ 1,6 bilhão.
Credit Karma
Essa startup financeira oferece relatórios de crédito online gratuitos e ferramentas para gestão financeira. O negócio vem sendo objeto de especulações sobre IPO há alguns anos, mas só evidenciou o interesse nesse processo em 2018. Uma grande colocação privada terminou atrasando esses planos. O venture capital é de US$ 869 milhões.
De forma geral, os IPOs bem-sucedidos estão alicerçados em um planejamento aprofundado, que compreende desde os aspectos internos até os fatores externos que podem impactar a venda de ações da empresa. Somente com paciência, ética, transparência e uma boa gestão é possível alavancar a valorização da marca no mercado.
Nesse sentido, aprender com o caso WeWork é essencial para as empresas que vão solicitar IPO em breve.
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