Uma das melhores formas de aprender mais sobre storytelling e escrita é lendo, relendo e desconstruindo suas obras preferidas, prestando atenção não apenas na história, mas na estrutura narrativa e nas técnicas utilizadas.
Foi o que acabei fazendo — não intencionalmente — com a bibliografia do Chuck Palahniuk pelos últimos 7 anos, desde que li Clube da Luta.
Nesta pilha, ainda faltam algumas obras, como Monstros Invisíveis — que está emprestado — e algumas outras que tenho apenas a versão digital.
Entre essas versões digitais, está o livro que foi a principal inspiração para este texto. Já imaginou se o seu escritor preferido resolvesse se dedicar a desconstruir suas próprias obras para ensinar como escrever melhor?
Foi exatamente o que o Chuck fez no ebook 36 ensaios de escrita.
No início da sua carreira, ele aprendeu muito em workshops de escrita e, por isso, se dedica em fazer o mesmo ao promover vários eventos desse tipo. Entre 2004 e 2006, ele decidiu fazer um workshop em escala ainda maior via email.
Todo mês, era enviada uma lição específica sobre como escrever melhor para todos os assinantes de sua newsletter e, ao final, nasceu o livro digital que reúne todos os tópicos abordados.
Após ler cada uma das 36 lições e grande parte de sua bibliografia, além de escutar várias entrevistas e podcasts sobre o autor, separei apenas o que aprendi de mais diferenciado com ele. Lições e dicas inovadoras a ponto de mudar minha forma de escrever e enxergar as narrativas. E que poderão mudar a sua também.
Sem mais delongas e respeitando a primeira regra do Clube da Luta sem precisar relembrar a segunda, a partir de agora, falaremos do que o Chuck Palahniuk tem para ensinar de melhor para escritores, redatores e storytellers.
1. Estabelecendo autoridade
Autoridade é um dos pontos mais importantes em um conteúdo.
A partir do momento que você consegue estabelecê-la em um texto, o leitor passa a confiar e acreditar em você. E você pode levá-lo a qualquer lugar que deseja com a sua escrita.
Existem, basicamente, duas maneiras de se fazer isso: apostar na honestidade e na franqueza, ou demonstrar conhecimento. Como o autor define: coração vs mente.
Na primeira forma, você descarta o papel de herói e revela algo que faz você assumir a função de tolo: uma fraqueza, uma falha ou uma paixão, por exemplo.
Com esta vulnerabilidade, o leitor se torna emocionalmente envolvido e, ao mesmo tempo, se desarma, pois fica claro que a história contada não será sobre você se vangloriando de conquistas.
O segundo método exige que você prove ao seu interlocutor que seu trabalho e sua pesquisa foram bem feitos o bastante para que você esteja apto a falar sobre o assunto. Ele não engata uma conexão emocional e deve focar em ser convincente.
2. Saia da sua zona de conforto ao escrever
O principal ponto e desafio em escrever é guiar você próprio a locais em que jamais iria voluntariamente. Somente assim é que você será capaz de fazer o mesmo com o seu leitor.
Apenas saindo de sua zona de conforto, você conseguirá produzir um conteúdo que fuja do overload de informações em que vivemos e que seja capaz de impactar o seu leitor de maneira única e inesquecível.
3. Não fale, mostre. E transmita sensações
Uma coisa é engajar o leitor mentalmente e fazê-lo imaginar ou considerar algo. Alcançar um engajamento emocional a ponto de fazê-lo se imaginar na história é outro nível.
E não se alcança isso com palavras abstratas descrevendo dor ou prazer. É preciso transmitir isso com detalhes que sejam capazes de recriar a situação na mente do interlocutor,
Um bom contador de história consegue chamar sua atenção. Um melhor é capaz de colocar você em seu lugar. Mas um excelente consegue fazer você sentir cada pedregulho, percalço e obstáculo pelo caminho, enquanto mantém você esperançoso pela redenção ao final do trajeto.
Chuck ainda nos apresenta a seguinte frase:
“Quando uma pessoa comum fica doente, ela toma remédios. Quando um escritor fica doente, ele toma notas.”
Portanto, a próxima vez que tiver uma dor de cabeça, por exemplo, faça o teste de registrar as sensações em um inventário. Quando você precisar descrevê-la em um texto, a descrição será real a ponto de transmiti-la para o leitor.
4. Escreva como as pessoas falam
Existem basicamente três formas de comunicação:
- descritiva: “o livro foi escrito de forma que a dor do personagem transmitisse uma identificação com leitor”;
- instrutiva: “escreva de forma a despertar a identificação do seu leitor a partir da dor do personagem”;
- expressiva: “ouch!”
Qual das três você deve utilizar? Todas, pois é assim que as pessoas conversam no dia a dia.
É claro que deve haver um bom senso e moderação, principalmente no uso da linguagem expressiva, ou você acabará transformando seus textos em histórias em quadrinhos.
Também vale a pena evitar escrever apenas na linguagem instrutiva, ou seu conteúdo ganhará um tom autoritário.
5. Escondendo uma arma
Entre todas as técnicas, essa foi a técnica que mais modificou a forma como interpreto novas histórias.
É um método extremamente sutil e eficaz que envolve soltar uma frase ou informação de maneira despretensiosa, mas que terá enorme impacto no desenvolvimento e pode ser uma pista de um plot twist. Eu sei disso porque Tyler sabe disso.
Isso é esconder uma arma: você apresenta algo, que é esquecido e depois volta para contribuir com a resolução.
Em enredos e tramas longas, fica mais fácil trabalhar com esse artifício. Mas também é possível utilizá-lo, como um aviso disfarçado, em artigos mais curtos que contenham alguma surpresa ou quebra de expectativa.
Exemplos:
• O mito da produtividade e o hack que mudou minha vida
• Tenha cuidado com o que você ‘curte’. As fake news são apenas o começo do problema
6. Submergindo o “eu”
É comum que conteúdos narrados na primeira pessoa, ou de cunho mais pessoal, sejam recheados do pronome “eu”.
Intencional ou não, além de ficar cansativo e repetitivo, a sensação transmitida é de que o texto foi escrito com o propósito de satisfazer o ego do escritor e permitir que ele possa se gabar e ostentar suas conquistas.
Essa sensação é uma das maneiras mais eficazes de deixar seu leitor na defensiva, ou até mesmo de incentivá-lo a abandonar seu conteúdo sem sequer passar da introdução.
Para evitar que isso aconteça, corte os “eus” ao revisar. Use o sujeito oculto sempre que possível, ou refaça a frase para trocar por “meu”, “minha”, “mim” e você verá que fica muito mais sutil.
Ao contar sua história, afaste o máximo possível a câmera de você. Afinal, storytelling não é sobre você, mas sobre seu interlocutor e como ele se identifica com seu conteúdo.
7. Coloque sua mente para trabalhar a seu favor
Enquanto estamos acordados ou mesmo sonhando, todos temos o que algumas culturas chamam de “Macaco Mental”, que fica batucando e tagarelando enquanto tenta encontrar sentido em cada evento que presenciamos.
Aquela voz que revive, remói e até reencena nossos momentos vividos.
Ao aceitar a existência dessa voz, é possível utilizá-la a seu favor para praticar e se tornar um contador de histórias melhor ao ser mais observador e presente. Além de ser capaz de transmitir sensações específicas ao seu leitor de maneira mais eficaz e criar identificações imediatas.
Dessa forma, em vez de deixar que o “Macaco Mental” perturbe ou desconcentre você, force-o a fazer algo produtivo e que pode ser explorado em novas histórias e conteúdos.
O que você achou dessas dicas? Conhece algum outro autor tão inspirador quanto o Chuck? É só dizer nos comentários!
E se quiser seguir aprendendo sobre a arte do storytelling, confira nosso minicurso gratuito sobre como conquistar sua audiência com histórias.