Linguagem Neutra de gênero: o que é e como aplicar

Linguagem neutra de gêneros

Você já parou para pensar na importância de adotar uma linguagem mais inclusiva em seus textos? O respeito à pluralidade das pessoas e possibilidades que podem ser exploradas por um indivíduo são uma preocupação cada vez maior em todo o mundo, independente do setor.

Seja o assunto cor da pele, classe social ou gênero, é preciso entender que existem muitas diferenças e que elas devem ser abraçadas pela sociedade. No entanto, isso nem sempre acontece. Pelo contrário: muitas vezes as diferenças são desprezadas e tendemos a aceitar o que é entendido como belo ou padrão.

Isso também acontece quando o assunto é linguagem. Sem perceber, podemos excluir outras pessoas, seja pela forma como falamos quanto pela forma que escrevemos. E atenção: isso não é “frescura”. É algo cada vez mais importante e respeitoso no mundo plural em que vivemos.

É nesse contexto que surge a concepção sobre linguagem neutra de gênero. Mas o que é isso e como colocar em prática? É o que abordaremos neste texto.

Continue a leitura e descubra tudo sobre o assunto!

O que é uma linguagem neutra de gênero?

A linguagem neutra de gênero busca se livrar do binarismo imposto pelos gêneros tradicionalmente aceitos pela sociedade (masculino e feminino), visando uma comunicação mais inclusiva, respeitosa e abrangente.

Ela leva em conta as diversas possibilidades de gênero com as quais as pessoas podem se identificar.

Por que usar a linguagem neutra de gênero?

A linguagem não pode ser um instrumento de poder. Não podemos entender uma pessoa como melhor ou pior que a outra porque ela lê mais ou escreve melhor. Da mesma forma, ao escrever ou falar, não podemos excluir outras pessoas e nem fazer suposições que nem sempre são confirmadas.

A língua portuguesa, assim como outras várias línguas, é tradicionalmente excludente na questão de gênero.

Ao escrever ou falar sem conhecer o interlocutor, naturalmente generalizamos e usamos o masculino: “o leitor” ou “o espectador” são exemplos. O mesmo acontece quando é preciso usar o plural para um número grande de pessoas, mesmo se houver apenas um homem e várias mulheres.

No entanto, esse não é único problema quando o assunto é gênero. Na verdade, este é o menor dos problemas.

Simplesmente flexionar os adjetivos e substantivos para os gêneros masculino e feminino não é suficiente, pois existem muitas pessoas que não se identificam com nenhum desses dois gêneros.

Não há um consenso acerca de um número preciso de identidades de gênero possíveis, mas estudiosos percebem dezenas de identificações, embora nem todas sejam oficialmente reconhecidas. Pensando nisso, nada mais óbvio do que a necessidade de livrar-se do binarismo na hora da escrita, certo?

Usando uma linguagem neutra, é possível contemplar todas as pessoas por meio da escrita, promovendo inclusão e respeito.

Mas afinal, como escrever usando uma linguagem neutra de gênero?

Bom, a resposta é que não existem diretrizes definitivas. Apesar disso, estamos aqui para mostrar possibilidades, o que pode ser feito, o que deve ser evitado e o que não pode ser feito de forma alguma.

Vamos lá?

Não use “X” e nem “@”

Muitas pessoas usam “X” ou “@”, pois acreditam que esses caracteres abarcam um grande espectro de variedades e que, por não serem definidores de nenhum gênero, abraçam todos. Embora a intenção seja boa, na prática o emprego desses caracteres não é positivo.

Em primeiro lugar, o uso desses caracteres também exclui. Pessoas com dislexia têm maior dificuldade (ou até mesmo encontram impedimento) para ler, enquanto leitores para pessoas cegas não conseguem “entender e traduzir” o que está escrito.

Em segundo lugar, não é possível pronunciar verbalmente esses caracteres. Assim, mesmo que a pessoa consiga ler, ela não conseguirá transpor para a fala aquele som. O emprego desses artigos, portanto, é extremamente limitado e perde a função em contextos mais amplos, não significando uma real mudança na linguagem.

Por fim, mas não menos importante: o “X” ou “@” não geram identificação. Eles deixam as coisas indefinidas no lugar de usar os recursos já possíveis na linguagem para promover mudanças reais e provocar a reflexão das pessoas em geral ao usar a língua.

Assim, esses dois caracteres não devem ser empregados. No lugar, prefira uma das opções que mostraremos a seguir!

É preciso adotar a neutralidade de gênero em tudo?

Antes de começar, é importante esclarecer um ponto: não é preciso que tudo seja colocado de forma neutra. É claro que uma linguagem neutra de gênero deve ser sempre almejada, mas muitas vezes estamos nos referindo a objetos, lugares, animais etc.

O que sempre deve ser o objetivo é adotar uma linguagem neutra de gênero para as pessoas.

Isso não significa que você pode priorizar o uso sem gênero para todo o texto, quer dizer apenas que seu foco deve estar em gerar inclusão para qualquer um que o leia.

A seguir mostraremos dicas práticas de como fazer isso.

Adotando uma linguagem neutra de gênero

1. Evite artigos e pronomes de gênero para substantivos uniformes

Muitas vezes usamos “a”, “o” e suas variações sem necessidade. O mesmo acontece com pronomes como “nosso” e “nossa”. Sem perceber, acabamos já definindo o gênero sobre o qual estamos nos referindo.

Assim, uma boa ideia é sempre evitá-los nos casos em que isso é possível, como quando utilizamos substantivos uniformes (aqueles que podem ser usados independente do gênero). Observe:

  • “Os colegas ajudaram João a escrever o texto.”/ “Colegas ajudaram João a escrever o texto.”
  • “As testemunhas afirmaram ter visto toda a cena.”/ “Testemunhas afirmaram ter visto toda a cena.”
  • “Eu encontrei a Letícia no parque.”/ “Eu encontrei Letícia no parque.”

2. Use artigo ou pronome indefinidos quando possível

Nos casos em que você julgar necessário usar artigos ou pronomes, que tal optar pelos neutros? Assim, em casos possíveis, você continua adotando uma linguagem neutra de gênero. Veja dois exemplos:

  • “Estou com saudades da Marina.”/ “Estou com saudades de Marina.”
  • “Algumas tarefas são de responsabilidade dos líderes.”/ “Algumas tarefas são de responsabilidade de líderes.”

3. Substitua adjetivos por alternativas neutras

Muitas vezes usamos elementos em nosso texto tão naturalizados que nem reparamos que eles são substituíveis. Eu acabei de fazer isso, aliás. Observe a diferença:

  • “Usamos elementos que podem ser substituídos.”
  • “Usamos elementos que são substituíveis.”

Isso pode ser feito por meio de diversas substituições. Quase sempre o adjetivo pode ser substituído por um outro adjetivo indefinido, substantivos ou objetos. Veja alguns exemplos:

  • “O leitor sente-se incluído com o uso de uma linguagem neutra de gênero.”/ “As pessoas que leem o texto sentem-se incluídas com o uso de uma linguagem neutra de gênero.”
  • “Curiosos pararam para olhar o acidente de carro.”/ “A curiosidade levou várias pessoas a pararem para olhar o acidente de carro.”

4. Substitua sujeitos por “pessoas que”

Algumas substituições são especialmente úteis e essa é uma das principais: você pode substituir o sujeito por “pessoas que fazem algo”, por exemplo.

Brincadeiras à parte, essa dica é valiosa. Lembra-se de que mencionamos que sempre direcionamos os plurais ou fazemos generalizações baseadas no masculino? Então, essa é uma forma muito fácil de contornar isso. Quer ver?

  • “Os cozinheiros desenvolvem muito o paladar e olfato.”/ “Pessoas que cozinham desenvolvem muito o paladar e olfato.”
  • “As secretárias estão sempre ocupadas com ligações e agendamentos.”/ “Pessoas que trabalham na secretaria de consultórios estão sempre ocupadas com ligações e agendamentos.”

5. Use o nome do agrupamento em vez de sujeitos no plural

Essa é uma dica para contornar o mesmo problema do tópico anterior: a generalização que tende ao masculino.

Quando se referir a um grupo de pessoas, prefira usar o nome daquele agrupamento. Veja:

  • “Os alunos organizaram um ciclo de palestras na universidade.”/ “O corpo discente organizou um ciclo de palestras na universidade.”
  • “Os chefes precisam entender a importância de serem líderes.”/ “A chefia precisa entender a importância da liderança.”

Uma linguagem neutra de gênero é praticável e vem da força hábito. O que é ensinado tradicionalmente é a língua portuguesa padrão, mas a língua está em constante mutação, juntamente com a sociedade. É preciso prestar atenção e acompanhar essas mudanças, especialmente para quem trabalha com escrita.

Caminhar na direção de formas mais inclusivas de se comunicar é um dever de quem quer conviver bem em sociedade. Também é papel das pessoas envolvidas no processo, como profissionais de comunicação e lideranças empresariais, entender o impacto de uma linguagem inclusiva.

E, é claro, tudo isso faz parte de um processo que será repleto de dúvidas, tropeços e tentativas até encontrar algo que funcione para a sua escrita e para a comunicação adotada por uma empresa.

Afinal, a única forma de acertar é praticando! E, nesse processo, é essencial envolver pessoas diversas, de forma a observar quais as reações delas e os impactos que uma escrita inclusiva tem em suas vidas.

No fim das contas, a função da linguagem é uma só: conectar pessoas para gerar entendimentos comuns em suas pluralidades. O principal elemento da escrita são os seres humanos!

Pensando nisso, não deixe de concluir este post sem conferir o guia que elaboramos para uma escrita humanizada. Leia agora mesmo!

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