Se você tem o costume de escrever com frequência — seja redações, artigos teóricos, ficção ou para a web —, você bem sabe que essa é uma atividade que requer muito trabalho, afinal, organizar nosso pensamento de modo que ele fique claro não é nada simples, ainda mais se pensarmos que escrevemos para outras pessoas lerem.
Para ajudar nessa comunicação, é interessante usar alguns recursos, como as chamadas figuras de linguagem, que são estratégias para controlar o efeito de interpretação do texto.
No post de hoje, daremos ênfase a um tipo específico de figura de linguagem, explicando o que é símile, quando e como usá-la. Vamos lá?
Definição de Símile
Como a própria definição da palavra diz, símile é aquilo que é parecido. O substantivo masculino símile é definido como o que se semelha, é análogo ou semelhante. Ou seja, ela se refere à comparação de dois objetos distintos, mas que possuem características comuns que os aproxima, por semelhança.
A símile enquanto figura de linguagem
No âmbito da linguagem, a símile é considerada a figura de comparação explícita — uma vez que existem outros tipos que comparam também, como a metáfora e a analogia, por exemplo.
Contudo, a símile se apresenta como um recurso mais objetivo, e, para isso, o que a caracteriza e a difere das outras é o uso de conectivos para ressaltar a comparação que está sendo feita.
Conectivos de comparação
Para estabelecer esta relação de comparação, a símile pode ser estabelecida por meio da utilização de alguns conectivos. Veja alguns deles:
Como, quanto, parecia, tal qual, feito, assim como, que nem, igual a
Confira os exemplos desses conectivos sendo usados em frases:
- Os cabelos eram escuros como uma noite sem estrelas.
- Pele tão branca quanto a neve.
- A moça parada, parecia uma estátua.
- A menina era delicada tal qual uma flor.
- De alegria, a criança pulava feito um coelho.
- Ele era bom assim como um santo.
- Meu coração batia forte que nem um tambor.
- A população sofria igual a uma criança que perde um brinquedo.
Uso da símile
As comparações explícitas podem ajudar a explicar melhor o seu argumento, de modo que ele passa a fazer parte do contexto e da realidade do leitor. Nesse ponto, conhecer bem para quem se escreve o texto é importante, de modo que a comparação tenha o seu objetivo alcançado. Dessa maneira, a comparação ajuda a dar clareza ao seu ponto de vista, aumentando a compreensão do que você quer dizer.
Pensando em uma situação prática: você escrever “Ler ensina como uma escola” o sentido de ensinar será reforçado, criando mais efeito do que se estiver escrito apenas “Ler ensina” — assim como será mais claro do que “Ler é uma escola”, que funciona como metáfora. Nesse caso, a comparação é subjetiva, ou seja, o leitor pode entender algo que quem escreveu não teve a intenção (suponhamos que, se o leitor não gosta da escola, ele pode interpretar que ler é uma coisa ruim).
Uma vez que a símile é mais objetiva, já que a comparação é explícita, ela é mais indicada para textos da web do que a metáfora, por exemplo, que é mais subjetiva. Essa objetividade da símile ajuda a deixar o tom do texto mais sério, além de auxiliar no papel de convencer o leitor daquilo que você que dizer.
Confira as 15 Figuras de Linguagem mais comuns e aprenda a usá-las!
Quando usar as figuras de linguagem?
O principal desafio, com relação à símile e outras figuras de linguagem, é detectar o momento mais apropriado para utilizá-las na construção de um texto.
É que, por se tratarem de recursos que aumentam a expressividade das suas composições, as figuras de linguagem devem aparecer em momentos específicos, nos quais possam cumprir bem essa função.
Para que o uso adequado das figuras de linguagem possa acontecer é imprescindível que você conheça bem todas elas. Catacrese, metáfora, comparação, metonímia, onomatopeia, sinestesia, antítese, paradoxo, eufemismo, hipérbole, ironia, personificação, aliteração, anacoluto, anáfora, elipse, pleonasmo, polissíndeto, zeugma e silepse são as mais populares.
Elas se dividem entre figuras de pensamento (como a antítese), figuras de palavras (como a metáfora) e figuras de construção (como o pleonasmo).
Exemplos de figuras de linguagem
A partir do momento em que você consegue identificar bem cada uma delas, saberá quando recorrer a ela para melhorar o entendimento da ideia que deseja transmitir. No início pode parecer complicado, mas em pouco tempo você se acostumará a fazer isso. A lista abaixo pode ajudá-lo com os seus significados:
- catacrese: é usar uma palavra no sentido figurado, especialmente quando não há um termo para se referir a alguma coisa;
- metáfora: estabelece relação de semelhança sem o emprego de um comparativo, dando a entender um significado diferente do habitual para uma determinada palavra;
- comparação: tem o mesmo efeito da metáfora, mas sempre emprega palavras como “parecia, tal ou qual”. Por isso, a relação de semelhança que define fica mais explícita;
- metonímia: substituição de uma palavra por outra;
- onomatopeia: imitação de uma determinada sonoridade;
- perífrase: uso de uma expressão comum para identificar algo ou alguém;
- sinestesia: mistura de diferentes sensações;
- antítese: sobreposição de palavras com sentidos opostos;
- paradoxo: inclusão de duas ideias contraditórias em um período ou parágrafo;
- eufemismo: suavizar uma atitude escolhendo palavras atípicas para caracterizá-la;
- hipérbole: exagero;
- ironia: períodos que deixam subentendidos o contrário do que se escreveu;
- personificação: atribuir características humanas a objetos;
- aliteração: explorar repetitivamente uma determinada sonoridade;
- anacoluto: alterar a ordem das palavras em uma frase propositadamente;
- anáfora: repetir intencionalmente uma expressão para reforçá-la;
- elipse: omitir um termo que já pode ser aferido contextualmente;
- pleonasmo: repetir uma ideia de maneira redundante;
- polissíndeto: repetir a conjunção ao longo de uma oração;
- zeugma: omitir um termo que já foi referenciado; e
- silepse: concordar com um termo oculto e não o objeto da frase.
Situações em que a símile funciona bem
A símile, como todas as figuras de linguagem supracitadas, funciona melhor em alguns contextos do que nos outros. Aqui você verá exemplos dessas situações:
1. Para caracterizar um personagem
Na escrita, muitas vezes precisamos recorrer a construções frasais capazes de caracterizar o sujeito de quem estamos falando. Por causa disso você verá, com frequência, o uso da símile. É que essa figura de linguagem torna a comparação mais direta do que a que encontramos nos períodos com comparação simples.
Então, se o eu-lírico sente a necessidade de mostrar para o leitor que é muito diferente do personagem que descreve ele tende a recorrer à símile. Como no exemplo abaixo:
- Eu sempre tive muito capricho com as minhas coisas, o que fazia com que mamãe não tivesse que se preocupar. Meu quarto estava arrumado, minhas roupas dobradas e tudo em seu devido lugar. Já meu irmão sempre foi que nem um porco. Era impossível saber sequer onde estava sua cama em meio a tanto lixo. Mas essas diferenças equilibravam nossa relação.
2. Na descrição de atributos
A símile também funciona muito bem quando precisamos descrever um atributo e, ao mesmo tempo, referenciar algo. Por isso, ela pode ser encontrada em frases como:
- Seus olhos eram bolinhas de gude.
3. Para construir uma narrativa
O autor pode usar a símile repetidamente para frisar os acontecimentos pelos quais passa o sujeito. Isso funciona mais ou menos assim:
- “E flutuou no ar como se fosse um pássaro” (Chico Buarque)
- “E se acabou no chão feito um pacote flácido.” (Chico Buarque)
4. Na hora de reforçar um argumento
A símile também funciona se você precisa reforçar um argumento com uma representação visual. O autor Lô Borges faz isso na canção “Como o machado”:
- “Espero algo mais e aprendi/A ser como o machado/Que despreza o perfume do sândalo”
5. Para comparar metaforicamente
A diferença entre uma comparação metafórica e uma comparação tradicional é que a primeira compara entre dois elementos de universos diferentes. Essa é também uma das definições que damos a símile. Então sempre que você vir frases como:
- Gabriel é forte como um touro.
Pode assumir que trata-se desse tipo de comparação metafórica.
Exemplos de uso da símile
Para terminar, vamos lhe mostrar outros exemplos de uso da símile. Eles o ajudarão a se familiarizar com o conceito e aplicá-lo em seus próprios textos.
- “A Via Láctea se desenrolava como um jorro de lágrimas ardentes.” (Olavo Bilac)
- “Meu coração tombou na vida tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)
- “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo…”. (Caetano Veloso)
- “Te ver e não te querer (…)/ É como mergulhar no rio e não se molhar / É como não morrer de frio no gelo polar.” (Te Ver – Samuel Rosa, Chico Amaral e Lelo Zanetti)
- “Para a florista, as flores são como beijos, são como filhas, são como fadas disfarçadas.” (Roseana Murray).
Como você pode ver, a símile é uma das figuras de linguagem favoritas do poetas, cantores e autores. É graças ao seu poder de transmitir ideias com clareza, utilizando do recurso da comparação, que ela ganhou este espaço. E, por isso mesmo, que ela pode vir a calhar na hora de escrever para a web.
Agora que você entendeu o que é símile e suas vantagens no texto, que tal conhecer mais sobre as outras figuras de linguagem que citamos lá em cima? Bons estudos e lembre-se de fazer o uso consciente das figuras de linguagem daqui pra frente!
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