Aspirantes ou colegas velhos de guerra desta gig economy de que faço parte, temos verdades da vida de freelancer que não são nada secretas e precisamos aceitar, ou melhor, aprender com elas.
Entrar para a vida de freelancer é como mudar de escola na infância. Você chega tímido na sala, não tem amigos para conversar, ainda não aprendeu os macetes para conquistar o coração do professor e nem imagina como é o nível de dificuldade das provas.
Tudo o que você faz é: sobreviver.
Nos dias seguintes, começa a identificar os grupos mais comuns. Aqueles que só tiram nota 10, a galera do fundão que não quer nada com a dureza, o povo que gosta de super-heróis e cursos de astronomia, os ricos e famosos e por aí vai.
Com o tempo, você vai se soltando, entra para uma dessas galeras e já dá bom dia para o fessô com uma piadinha sem graça para ele dar aquela aliviada na sua barra por causa da tarefa incompleta.
Você, literalmente, faz parte daquilo ali. Na verdade, aquilo tudo só é como é porque você está ali, fazendo diferença.
É, meus amigos, é bem assim que acontece na vida de freelancer, e se você não viveu essa troca de colégio quando era adolescente, com certeza já encarou alguns desses fatos durante seu ingresso na gig economy.
Quer ver só? Então, cola neste post que tu brilha, ou, pelo menos, reconhece algumas verdades e descobre como lidar com elas.
1. As definições de redação foram redefinidas com sucesso
Esse papo todo sobre escola faz lembrar um dos primeiros choques que temos ao começar a escrever para a web: as definições e os padrões de um texto nota 10 não são como aqueles que sua professora de redação ensinou.
Claro, o uso correto dos tempos verbais, ortografia e gramática continua, mas todo o resto muda substancialmente. Vamos lá, confere para mim:
- tamanho de parágrafo? Mais curto e objetivo, por favor;
- o clássico “início, meio e fim”? Não te pertence mais. Agora é introdução, chamada para leitura, intertítulos, conclusão e call to action (CTA);
- quantidade de palavras? Agora é preciso contar;
- social posts? Não é de passar no cabelo, é de inserir nas redes sociais para aguçar o interesse pela leitura;
- ah, sim. Mencionei que seu texto agora é lido por várias pessoas, e não somente por sua professora de português? Pois é, ele é uma estratégia de marketing de conteúdo.
E tem mais, muito mais coisas que diferenciam uma redação tradicional dos posts, como sua otimização para os mecanismos de busca, por exemplo.
2. Vai demorar para você pegar no tranco
Claro que existem histórias lindas de pessoas que começaram a ser freelancers e uma chuva encantada de oportunidades caiu sobre elas, mas, no geral, o começo é devagar mesmo, afinal de contas, ninguém conhece seu trabalho e forma de se relacionar profissionalmente.
Além do mais, esse início mais lento é uma oportunidade para que você dedique mais tempo aos seus textos, seja colocando seus novos conhecimentos de SEO em prática, seja na digitação mesmo. Demora a pegar no tranco.
O que fazer? Respeite seu tempo, não se cobre para escrever não sei quantas mil palavras por dia. Faça networking também — com outros freelancers, analistas (no caso da Rock Content) e clientes externos.
3. Você vai encontrar uma pauta ruim pelo caminho
Quando você começa a pegar gosto pela coisa, vai ganhando experiência e pensamento crítico. Deixa de ser uma Glória Pires comentando o Oscar e adquire o poder de opinar — e, no nosso caso, de identificar uma pauta ruim.
Ela estará confusa, com referências ruins e um CTA que não tem nada a ver com os objetivos do cliente.
Aí, vai bater aquela dúvida: fazer ou não fazer, eis a questão.
Não sei você, mas na maioria das vezes eu gosto mais de vestir as “sandálias da solução” em vez de aplicar o famoso golpe ninja “evitar a fadiga”.
Ou seja, procuro o analista de planejamento para verificar se é possível dar melhores orientações, procuro algumas referências e pergunto se elas podem ser utilizadas no lugar das outras e por aí vai.
Ok, mas e se não tiver tempo hábil para isso? Bom, tudo se resolve com comunicação, né, bebê? Um recadinho educado e profissional informando quais medidas você tomou para dar prosseguimento ao caso é essencial, assim como se colocar à disposição para quaisquer dúvidas.
4. Você vai receber uma avaliação ruim e fora da sua média
Receber avaliações ruins não é legal para a maioria dos freelancers, ficamos #xatiados mesmo. Mas se tem uma verdade verdadeira é que elas vão aparecer de vez em quando na sua vida. E está tudo bem, afinal de contas, ninguém é infalível, não é mesmo?
Se seu cliente oferece feedbacks construtivos, observe bem suas dicas e diretrizes. Se foi mais ríspido, a melhor moeda é a gentileza, pois ele perceberá que existe um espécime humano do outro lado, vai ser uma descoberta incrível na vida dele!
Mas, se o desaforo for recorrente e mesmo com a intervenção dos intermediários (a.k.a. analistas da Rock dos nossos corações) a situação continuar, escolha sua paz de espírito e elimine essa fonte de estresse.
5. Você vai ter pesadelos de falta de jobs
A gig economy também é conhecida como economia por demanda, ou seja, funciona no esquema “quem tem, tem”. Só que, às vezes, parece que está acabando. Faz sentido?
Você já deve ter feito aquele apelo básico “manda jobs” para alguém, certo? Mas aí vai a pergunta de um trilhão de jobs: você sabe que não tem uma relação de trabalho formal, né? Em outras palavras, você sabe que precisa procurar e merecer ganhar mais jobs?
Em um tópico anterior eu citei justamente a lendária “sandália da solução”, lembra? Isso se chama cultivar sua autoridade e demonstrar que é parceiro e focado na satisfação do cliente.
Então, existem diversas maneiras de ganhar mais projetos e oportunidades: fazer mais candidaturas e networking, ter um desempenho fora da curva em um projeto, buscar clientes externos etc.
Enfim, não dá para ser passivo na vida de freela. Espante os pesadelos e busque as oportunidades que quer ter.
6. A expressão “nunca foi só um jogo” vai fazer sentido na sua vida
Os amantes do futebol ficam irritadíssimos quando alguém diz que aquilo é “só um jogo”. Nós, freelancers, também.
Não é só escrever um texto seguindo uma cartilha para otimização do conteúdo. Nós temos bloqueios criativos, ou seja, não é só um monte de palavras. Tem emoção ali, tem preocupação com a experiência de leitura.
Então, orgulhe-se disso.
7. Você vai sentir borboletas no estômago quando receber um elogio ou progredir
Se as avaliações injustas abalam nossa autoestima e acabam com nosso humor no dia (ou pelo menos por alguns minutos), os elogios, por menores que sejam, parecem desfile de escola de samba no seu coração.
É muito bom ouvir um cliente dizer que o seu texto foi o melhor que ele já leu ou o revisor parabenizar dizendo que não encontrou nenhum erro sequer.
Surfe nessa onda, fique feliz mesmo! E mais, tome gosto por esse sentimento e busque por ele em todos os seus jobs.
Mil amigos passarão no concurso público ao seu lado, dez mil serão promovidos nas multinacionais, mas você será convidado para um superprojeto de redação, pauta ou revisão e nada daquilo importará! (Exagerei, produção?)
8. Você vai vacilar
Ah, sim, isso também vai acontecer. Um pequeno escorregão com um prazo de entrega, um item que esqueceu de colocar no texto. Poxa vida, não somos máquinas de performance perfeita, né? E está tudo bem.
Por experiência própria, o que posso sugerir é: perdoe-se rapidamente e tome providências na mesma velocidade.
Se tem outra virtude no mercado de trabalho que todos admiram e poucos demonstram é a humildade. Em um mundo onde todos querem mostrar que são os melhores, como admitir um erro, não é mesmo?
Seja diferente, admita e demonstre capacidade para corrigir. Isso sim é diferenciado. Ter capacidade de enxergar uma solução ou ação preventiva para futuras ocorrências.
10. Você vai questionar se essa vida é mesmo para você
Muita gente entra na vida de freela por acaso, por não conseguir uma oportunidade de emprego, por ter sido demitido ou por qualquer outra situação da vida profissional. E aí, pensa: “vou ficar aqui até arrumar alguma coisa”.
Para começar, isso aqui não é “alguma coisa”, é “muita coisa”, mano! É o mercado que mais cresce no planeta inteiro e estamos na Forbes!
Ok, nossos amigos freelancers gringos estão na Forbes, mas eles são 57 milhões de trabalhadores por lá!
Então, acredite, se você caiu aqui de paraquedas, tirou a sorte grande! Pode trabalhar de qualquer lugar, pode ser MEI e tem milhares de maneiras gratuitas de melhorar seu currículo assim, sendo freela.
Recentemente, a Imersão Freelancer trouxe um panorama superbacana sobre a profissão. Além disso, aqui no blog da Comunidade também tem um quiz para você descobrir se rola um match com a vida na gig economy. Recomendo.
11. Você vai querer chamar todo mundo para ser freelancer
Imagina a cena: você entra no restaurante, em plena segunda-feira, usando chinelos e roupa descontraída. Um executivo está sozinho em uma mesa, cortando as folhas de alface que ele não está nem um pouco a fim de comer.
Então, você pega uma sobremesa, senta-se à mesa da frente e ele diz para você “Boa tarde!”.
Imediatamente, sem nem pestanejar, você solta: “quer ser freelancer?”.
Opa, mas espera aí, nem nos conhecemos e você já vai soltando essa?
É assim que somos: um povo que quer espalhar sua alegria, seu pote de ouro no fim do arco-íris.
Isso vai se repetir com seu primo que não passou no ENEM pela quinta vez, com a tia da lanchonete que não quer mais levar essa vida e por aí vai.
Memes com vacilos de português vão finalmente fazer sentido para você, você se sentirá descoladinho, vai fazer compras calculando os valores em palavras e vai viver as verdades da vida de freelancer achando graça de todas elas.
E, assim como na escola, em alguns dias você vai amar e ficar ansios@ para chegar a hora de encontrar sua galera e atividades, e em outros fingir uma gripe para faltar na aula será uma solução viável, quase necessária. Mas eu garanto: você terá mais momentos altos do que baixos e, com dedicação, encontrará um mundo de possibilidades.