GeoCities: saiba como funcionava o principal servidor de sites dos anos 90

O GeoCities foi o precursor das comunidades digitais, que conhecemos hoje como as redes sociais, e foi fundamental para introduzir o conceito da internet aos usuários da década de 1990.

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Muitos usuários mais antigos da internet vão se lembrar de que o GeoCities foi um serviço de hospedagem com sites feios, criados a partir de planos de fundo texturizados e com tantos elementos personalizados — gifs piscantes, imagens compactadas e paletas de cores vivas — que era difícil se sentir confortável e ter uma experiência de navegação satisfatória.

Mas o GeoCities foi um dos precursores do que hoje conhecemos como a internet, pois o serviço introduziu a criação de sites e a navegação web em um contexto em que os usuários não tinham nem conhecimento do que a própria internet realmente era — ou se tornaria. Hoje, a onipresença da internet, a alta conectividade e o advento da digitalização total passa muito, muito longe do que os usuários poderiam sonhar.

Neste artigo contamos essa história. O GeoCities surgiu como um serviço de hospedagem, entretanto, havia a pretensão de que os usuários pudessem se situar — e isso foi imprescindível para que pudéssemos compreender e expandir o conceito da World Wide Web como fazemos atualmente. Veja agora:

Como a internet funcionava nos anos 1990?

O ano é 1994, e a internet havia se tornado pública apenas em 1991. Para entendermos como ocorreu o crescimento vertiginoso do conceito do GeoCities, precisamos enxergar como a conexão acontecia naquela época. A década de 1990 foi o início da disseminação de computadores pessoais. Anteriormente, uma exclusividade de grandes empresas, universidades e multimilionários.

Os modems funcionavam em dial-up, ou seja, a conexão acontecia por meio de chamadas realizadas em redes telefônicas, e muitos de nós precisávamos aguardar até a meia-noite para pagar apenas por um pulso de ligação local para se conectar à internet.

Além disso, a maioria dos usuários da web se contentava em consumir, não em criar — já que a criação de conteúdo exigia conhecimento de HTML, uma linguagem de codificação conhecida e falada por apenas um número limitado de pessoas. Os usuários mais ambiciosos navegavam em grupos de discussão da Usenet ou acessavam URLs de algumas páginas em ascensão.

O principal navegador era o Netscape Navigator, e apenas a AOL — portal e provedor de serviços online mais famoso nos EUA e a UOL — o serviço similar no Brasil — conseguiam levar os usuários para a web. Entretanto, mesmo sendo um serviço muito exclusivo, imagine que você viveu nessa época e conseguiu comprar um laptop caríssimo para se situar no mundo e participar desse “novo contexto digital”.

Mas o conceito de internet é muito difuso e você pensa: “Por que eu preciso estar aqui?”. Acessar a internet não era tão funcional quanto hoje, então, por qual motivo um usuário sem pretensão alguma se conectaria? Ainda existiam enciclopédias para fazer pesquisas e os telefones, para contar uma novidade ao amigo sem precisar digitar longos textos em um email…

Nesse contexto, John Perry Barlow foi um dos primeiros pensadores que se arriscou a conceituar a internet e a ausência de fisicalidade. Ele afirmou, em sua “Declaração da Independência do Ciberespaço”, publicada em 1996:

“Governos do Mundo Industrial, seus gigantes cansados ​​de carne e aço, Eu venho do Ciberespaço, a nova casa do pensamento. Em nome do futuro, peço aos que estão no passado que nos deixem em paz. O nosso mundo está em toda parte e em lugar nenhum, mas não é onde os corpos vivem. Nossos “eus” virtuais são imunes à soberania dos governos, mesmo enquanto continuamos a consentir com o seu domínio sobre nossos corpos.”

Barlow antecipou o que seria a onipresença da internet, mas ele não imaginava que, até que isso pudesse entrar na mente das pessoas, um longo caminho teria que ser percorrido.

Como surgiu o GeoCities?

Em 1994, David Bohnett estava em um avião quando leu na revista PC Mag sobre a web e imediatamente percebeu que poderia evoluir junto com esse conceito de globalização do acesso. Então, chamou John Rezner para que fundassem juntos uma empresa chamada Beverly Hills Internet, um serviço de hospedagem extremamente simples, para pequenas empresas locais e com capacidade de armazenamento de 15 MB gratuitos.

Depois de configurar alguns servidores, os dois começaram a enviar emails para conhecidos para que eles pudessem utilizar a hospedagem, um serviço promissor na época, mas algo que já estava sendo proposto por outras empresas. Isso, veja bem, não era uma ideia inédita. A grande sacada da dupla, o que se tornou notável para a época, foi o modo como esse serviço foi operacionalizado.

O GeoCities era uma “cidade virtual” e, em vez de simplesmente dar às pessoas algum espaço na web no rack de um servidor, Bohnett e Rezner decidiram dividir o serviço gratuito em diferentes “bairros”. Os usuários escolhiam de qual cidade e bairro gostariam de participar, conforme suas preferências pessoais ou sobre o que gostariam de discutir.

Originalmente, o serviço consistia em 5 cidades segmentadas de acordo com os tipos de conteúdo — e que receberam o nome de seus homônimos geográficos. Por exemplo, o Vale do Silício abrigava conteúdo focado em tecnologia, enquanto Hollywood era destinado aos fãs de filmes e celebridades, e Beverly Hills era reservado para moda e compras.

Obviamente, os cinco bairros criados com o serviço cresceram para 29, juntamente com o volume de usuários. Em 1998, o GeoCities havia inscrito 2 milhões de membros, que usavam os 15 MB de espaço de armazenamento para escrever sobre qualquer coisa que achassem pertinente, adicionar fotos ou compartilhar pequenos arquivos de música MIDI em mais de 38 milhões de páginas.

Ao contrário da tecno-utopia de Barlow, o GeoCities obteve esse sucesso estrondoso porque criou uma sensação de presença física nos bits e bytes da internet, antes que os mecanismos de pesquisa fossem uma parte totalmente integrada da experiência digital. Enquanto a AOL e a Netscape ajudaram os primeiros usuários a encontrar seu caminho na web, o GeoCities deu a eles um lar, assim como o Facebook e as redes sociais o são hoje, para a nossa geração.

Em 1995, Bohnett escreveu:

“Você pode navegar na internet por meio de utilitários de acesso ou serviços online, mas viverá nas GeoCities da BHI”.

Como o GeoCities funcionava?

O sistema do GeoCities funcionava como uma grande vizinhança (neighborhoods, em inglês) onde os usuários consumiam conteúdo, contavam as conquistas e suas realizações, como num blog atualmente. Os “homesteaders”, como os usuários eram denominados nessa comunidade virtual, eram vinculados a outras páginas com conteúdo semelhante ao do seu site — e isso deu uma noção de ciberespaço a todas as pessoas que não tinham ideia do que a internet era ou poderia se tornar.

Quando um novo usuário se inscrevia no GeoCities, era encaminhado a uma página com um mapa “global” em 2D, para que ele pudesse escolher em qual vizinhança basearia sua conta. Dentro daquela vizinhança, havia várias páginas de outros usuários. Participar de um bairro significava se tornar parte de uma comunidade. O usuário poderia facilmente navegar em um diretório de outros sites que “viviam” na porta ao lado.

Cada página era rotulada com um URL que incluía um endereço dentro de cada bairro. Em vez de “curtir”, os usuários tinham um contador de páginas em que podiam verificar quantas pessoas haviam passado para ver seu conteúdo. Além disso, eles ficavam entusiasmadíssimos em receber email de outros moradores de qualquer outra parte do mundo.

Como aconteceu a extinção de um dos precursores da internet?

Nos seus 15 anos de funcionamento, o GeoCities acumulou uma lista impressionante de realizações. Tornou-se o quinto site mais visitado do mundo, tinha 38 milhões de usuários cadastrados, 19 milhões de visitantes únicos por mês (ficou atrás apenas do Yahoo! e da AOL) e teve um IPO (oferta pública inicial) de $ 100 em seus dias de maior sucesso.

Mas o serviço tão famoso também precisava ser monetizado, e a empresa de hospedagem passou a comercializar anúncios, exibidos insistentemente durante a navegação. Além disso, uma marca d’água do GeoCities aparecia na parte inferior da página, assim como links para outros sites com assuntos similares. Todas essas mudanças diminuíram o tempo de carregamento das páginas e frustraram alguns usuários mais antigos.

Em 1999, o Yahoo! adquiriu o GeoCities em uma transação de US$ 3,6 bilhões. Entretanto, enquanto a empresa tentava integrar a comunidade, o MySpace foi lançado e, diferentemente do que ocorria com o GeoCities, em que era preciso esperar até que os visitantes descobrissem uma página, com as redes sociais bastava estabelecer as conexões com outros usuários.

O Yahoo! manteve o GeoCities ativo até 26 de outubro de 2009, quando foi anunciada a exclusão de todas as contas e, com elas, todas as páginas criadas até então.

Entretanto, como o GeoCities foi um passo importante para a cultura digital e embasou a expressão dos primeiros usuários nos primórdios da World Wide Web, uma equipe foi reunida para fazer o download de todo o conteúdo, salvo em arquivo Torrent de 650 GB que está disponível para download em sites de alguns aficionados pela história da internet.

Como atualmente o mundo digital praticamente se fundiu com nossas vidas físicas, simplesmente não seria funcional criar uma distinção ou fazer um paralelo entre esses dois ambientes, como foi extremamente necessário algumas décadas atrás para que as pessoas pudessem se situar.

Esse foi o legado do GeoCities, que abriu as portas do mundo digital para milhões de pessoas e introduziu a expressão digital. Agora que você sabe como a web funcionava nos seus primórdios, pode entender como o serviço de hospedagem funciona nos dias atuais!

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