A Filosofia da Composição: aprenda a escrever melhor com Edgar Allan Poe

Com a Filosofia da Composição, Edgar Allan Poe deixa bem claro que o planejamento é uma das principais ferramentas para escrever um bom texto.

A Filosofia da Composição

Edgar Allan Poe é conhecido pelas escolhas sombrias na hora de escrever seus poemas e contos, mas pouca gente sabe, pelo menos fora do mundo da escrita, que ele era bem metódico na hora de produzir suas obras. Aliás, Poe fez questão de descrever todo o seu processo no ensaio chamado “A Filosofia da Composição”.

Nele, Poe fez um resumo de seu raciocínio para a criação de um dos seus mais famosos poemas: “O Corvo”. E engana-se quem pensa que o estilo de escrita do Poe não tem nada a ver com o que fazemos na Produção de Conteúdo para Web. Pelo menos, quando se trata de montar um texto, o que ele escreveu em seu manual faz todo o sentido.

Hoje, a gente vai contextualizar esse ensaio de Edgar Allan Poe e mostrar para você como pode ser útil para escrever a sua copy. Aqui, abordaremos:

Vamos lá?

Qual a importância de Edgar Allan Poe para a literatura?

Para entender melhor por que você deveria dar uma atenção para o ensaio de Poe, é importante saber quem ele é para a literatura, especialmente, a inglesa. Edgar Allan Poe conseguiu um lugar entre os grandes escritores, escrevendo basicamente contos e poemas.

Ele ganhou essa grande importância porque renovou o que era conhecido como estilo gótico, sendo o inventor, ou melhor, o pai das histórias de policial (antes mesmo de Sherlock Holmes invadir as casas com seu “elementar, meu caro Watson”).

Qual é o estilo de escrita das obras de Edgar Allan Poe?

Poe viveu durante o século XIX, a era do romantismo, e é óbvio que seu estilo tenha grande influência do gênero da época, porém, com um toque sombrio. Seus temas preferidos são morte, o sobrenatural, o destrutivo, o irracional, o demoníaco, a melancolia, o desespero e o sentimento de perda.

Além disso, apesar de não ser uma característica comum da poesia, Poe prezava por criar obras bem estruturadas com um quê de filosofia, focando bastante no valor estético da literatura. Ele não era muito fã da ideia de que a escrita precisava ser útil, por isso, defendia a arte pela arte.

Porém, quando falarmos da Filosofia da Composição, você verá que isso não significa que ele escrevia por “inspiração”. A lógica e a estrutura eram partes fundamentais para a sua escrita e, para chegar ao efeito desejado, havia um bom planejamento criativo.

O que é “A Filosofia da Composição”?

“A Filosofia da Composição” é um ensaio escrito no ano de 1846 por Edgar Allan Poe. No texto, o escritor teoriza como é possível escrever um bom poema utilizando uma das suas mais famosas obras, o poema “O Corvo”, como exemplo.

É uma obra fundamental para entender como o escritor pensava, mas também para compreender um dos principais elementos para escrever um bom texto de acordo com o escritor — a unidade de efeito.

Por que Poe escreveu “A Filosofia da Composição”?

O ensaio foi publicado na revista Graham’s Magazine e tem uma origem curiosa. O dono, Rex George Graham, era amigo de Poe e também trabalhou para o escritor. Quando Edgar escreveu “O Corvo” e o ofertou para que Rex o imprimisse, ele se recusou, já que não tinha gostado do poema e ainda ofereceu 15 dólares de caridade.

No entanto, como o poema foi um enorme sucesso posteriormente, como retratação e também porque estava arrependido, Graham publicou o ensaio em sua revista.

Ouça, neste audiobook, o poema “O Corvo”, de Edgar Alan Poe.

Quais são os 3 elementos centrais da “Filosofia da Composição”?

Ao ler o ensaio, perceberá que de acordo com Poe, existem alguns elementos principais para a ideia de uma boa obra. Eles são:

  1. Comprimento
  2. Unidade de efeito
  3. Método lógico

Vamos entender mais a seguir!

1. Comprimento

Curiosamente, Poe não era muito fã de obras extensas, apesar de “O Corvo” não ser um poema curto — tem ao todo quase 100 linhas —, ele frisa em seu ensaio a importância de ser breve naquilo que for produzir

Isso não significa que as produções longas são, necessariamente, ruins, já que ele até abre uma exceção para a obra Robinson Crusoé. Mas porque Poe acreditava que, quando a história ou poema era longo, tinha grandes chances de perder o efeito e, aí, a gente vai para o segundo elemento: a unidade de efeito.

2. Unidade de efeito

“Entre os inumeráveis efeitos ou impressões que é capaz de receber o coração, a inteligência ou falando em termos mais gerais, a alma, qual será o único que eu deva eleger no presente caso?” — Edgar Allan Poe, em Filosofia da Composição. 

Em um momento do ensaio, Poe enfatiza o quanto a relação entre causa e efeito é muito importante para uma obra. Ele destaca que escrever com intenção é fundamental para que a produção faça sentido como um todo e também para que ela não saia despercebida. Por isso, é essencial já ter de antemão o que se pretende, além de ser o mais breve possível, para que o efeito possa ser percebido com mais facilidade.

3. Método lógico

É preciso desmistificar a ideia de que a boa escrita, ou melhor, a escrita inspiradora, não tem nenhuma lógica. A concepção de que o escritor senta e, de repente, uma luz vinda do teto ilumina a sua cabeça e o inspira a escrever não é bem-vista por Poe. Ele, inclusive, deixa bem claro o quanto cada parte do processo criativo é bem pensada.

Isso pode ser visto durante as primeiras ideias para construir “O Corvo”. Para gerar o efeito desejado, isto é de beleza, ele chegou à conclusão que uma das facetas que representam o belo em seu estado mais elevado é a tristeza. Veja que para chegar ao tom central do texto, ele procurou usar a lógica.

Quais são os 7 pontos da Filosofia da Composição?

Para entender melhor o que Edgar Allan Poe definia como uma boa obra, resolvemos destrinchar em 7 partes os principais pontos tratados pelo escritor, que são:

  1. Conheça antes o final da história
  2. Seja breve
  3. Conheça o efeito que pretende causar
  4. Defina um tom para o seu texto
  5. Escolha um tema e características para o tom da sua obra
  6. Pense em um clímax para a história
  7. Determine o contexto

Vamos lá?

1. Conheça antes o final da história

Para Poe, era impossível escrever uma boa obra sem que o escritor saiba o final. Isso porque ele acreditava que todos os eventos da história deveriam se basear no que aconteceu no fim, de forma que o que se coloca no texto não seja mero acaso.

Inclusive, Poe destaca que: “um plano qualquer que seja digno desse nome só pode ser traçado visando ao desenlace (resolução do conflito) antes que a pena ataque o papel.”

2. Seja breve

Nos tópicos anteriores, já falamos que um dos três elementos principais do ensaio é o comprimento. Para o escritor, uma obra só consegue atingir o efeito desejado se for curta. Mas vamos aprofundar mais esse pensamento — não é que uma produção não possa ser longa, o que acontece é que em uma obra muito extensa o leitor não lerá de uma vez, logo, o impacto será diluído, ou mesmo, poderá não acontecer.

3. Conheça o efeito que pretende causar

Uma das etapas principais para uma boa obra é ter uma unidade de efeito. Definir antecipadamente qual é o impacto que se quer causar era, portanto, algo muito importante para Poe. Por exemplo, ele acreditava que o papel da poesia é exaltar o belo, a sua expressão máxima era a emoção, então, para causar esse efeito, ele concluiu que utilizar a melancolia em sua obra era a sua expressão mais elevada.

4. Defina um tom para o seu texto

Na definição de Poe, o tom tem uma relação direta com o efeito que se quer produzir na obra, pois ele funciona como o que se quer causar no leitor na prática. Como vimos no tópico anterior, na ideia de Poe, o uso da tristeza era uma forma de expressar o belo. Pensando assim, o tom seria como você fazer isso e quais elementos utilizar. Para ele, o caminho foi pensar na construção das estrofes e na escolha das palavras.

5. Escolha um tema e características para o tom da sua obra

Quem já leu as obras de Poe sabe que a morte é um tema recorrente do autor, ou seja, não importa o tipo de criação, ela tem um foco central. Defini-lo é fundamental para o tom e também para o efeito, já que ajudará a escolher as suas características.

Edgar Allan Poe cita que procurou uma combinação de acontecimentos ou tons, que ajudam a traduzir o tema. Por exemplo, para causar o efeito de melancolia, ele escolheu falar sobre a morte, mas não de uma forma geral. Poe procurou especificar, portanto, o luto de um homem pela sua mulher.

6. Pense em um clímax para a história

Poe utiliza o “nevermore” — “nunca mais”, em português — como uma marcação do poema. Mas mais que isso, ele é uma preparação para o clímax — o momento em que a pergunta chave é feita e com a resposta do Corvo, causa-se o efeito máximo de melancolia.

Porém, o interessante aqui é que ele já sabia qual seria a pergunta, antes mesmo de escrever todo o poema. Tudo o que ele fez anteriormente era com o intuito de levar a esse momento — isto é, ao clímax. Logo, fica claro que o importante era ter esse instante claro. O grande acontecimento que será capaz de tornar real o efeito que se quer causar, além de guiar todo o texto.

7. Determine o contexto

O contexto, na visão de Poe, é uma ferramenta importante para reforçar o clímax. No caso de sua obra, ele chegou a ideia de um amante que acaba de perder a sua mulher amada e lamenta a sua morte dentro de seu quarto. Toda essa ideia foi pensada visando ao efeito. Isto é, para traduzir a tristeza na sua obra, ele escolheu essa situação.

Repare como todos os processos se relacionam com a forma como ele quer impactar o leitor. 

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Como utilizar “A Filosofia da Composição” no copywriting?

Ainda que o maior objetivo do copywriting ou até da produção de conteúdo seja atrair clientes, isso não quer dizer que não sejam práticas que precisam dos fundamentos da escrita. Afinal, a literatura não está muito distante do que fazemos para a Web, é só ver as técnicas de storytelling que, inclusive, utilizam muita a jornada de herói.

Porém, quando se trata de uma obra tão específica como “A Filosofia da Composição”, como podemos tirar proveito? Vamos saber a seguir!

Confira estes materiais sobre o assunto:

Pense no final 

Em um copywriting, obviamente, não temos um final da história, mas temos um objetivo e, nesse ponto, é importante que ele seja bem determinado, pois todos os parágrafos deverão se alinhar para levar o leitor para esse objetivo. 

Cuidado com a extensão

Na nossa realidade, muitas vezes, é necessário fazer textos com 2 mil palavras ou, até mesmo, e-books. Sendo assim, conteúdos longos são inevitáveis, o que podemos fazer? Nesse caso, será necessário a partir do assunto central, pensar em outros sub-assuntos, que poderão trazer uma sucessão de efeitos, mas sem perder o foco no tema central.

Tenha uma unidade de efeito

Quem produz uma copy sabe que uma das suas principais definições é convencer o leitor a fazer uma ação. Portanto, não se dá para produzi-la sem pensar no efeito que ela vai causar. Não se esqueça que não é só preciso ter bem claro como você quer impactar o leitor, mas também, saber como fazer isso. Todos esses critérios precisam estar claros desde a primeira linha.

Defina o tom e o contexto

Na hora de determinar o contexto e tom, Edgar Allan Poe pensou na história de um homem que perdeu sua amada e também em toda uma construção de perguntas e respostas para deixar o clima mais dramático. 

Agora, para nós, uma das ferramentas mais comuns é a escrita persuasiva — uma série de técnicas que influenciam o leitor a acreditar ou decidir sobre algo. Os famosos gatilhos mentais entram nessa, pois ajudam a fortalecer o efeito que queremos causar com a copy. Por exemplo, se queremos provar que um produto é realmente eficaz, podemos utilizar o gatilho de prova social e apresentar números de quantos consumidores já foram impactados.

Ao escrever “A Filosofia da Composição”, Edgar Allan Poe tentou resumir seus fundamentos para produzir um bom texto. Mesmo voltado para a poesia, ainda há muitas dicas que podemos tirar desse ensaio, principalmente, quando pensamos sobre a importância de já saber de antemão o efeito que se quer causar com o seu conteúdo.

Quer continuar aprendendo sobre escrita? Então, saiba agora como produzir textos criativos!

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Thiago Murça

Briefing

Luciana Ribeiro Rodrigues

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