A linguagem elegante, divertida e moderna de Machado de Assis sempre foi motivo de orgulho para nós, brasileiros. Mesmo quem nunca o autor, provavelmente, já escutou seu nome alguma vez na vida — ou leu um texto de alguém que foi influenciado pelo Estilo Machadiano.
Então, o que faz a obra machadiana ser tão reconhecida? Poderíamos, quem sabe, extrair do autor algumas lições para a produção de conteúdo para web? Pois sabia que vamos destrinchar, justamente, essas dúvidas neste artigo.
Aqui você vai encontrar respostas para os seguintes pontos:
- O que Machado de Assis fez de importante?
- Quais foram as principais obras de Machado de Assis?
- Qual é o legado de Machado de Assis?
- O que é o Estilo Machadiano?
- Como se inspirar no Estilo Machadiano? 5 lições para o seu texto!
Continue a leitura e aproveite as dicas!
O que Machado de Assis fez de importante?
Machado de Assis (1839-1908) foi o principal nome do Realismo brasileiro, apesar de seus primeiros livros se inserirem na tradição do Romantismo. Ele também foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras e um dos intelectuais que fundou a instituição.
Machado escreveu contos, crônicas, poemas e romances, deixando a sua contribuição para as artes brasileiras em diferentes gêneros literários. Os livros de Machado de Assis são lidos até hoje em dia por pessoas de diferentes idades e níveis de instrução.
As pesquisas acadêmicas na área de literatura e Ciências Humanas em geral também dedicam ampla atenção aos livros de Machado de Assis, permitindo que as reflexões sobre o legado do autor renovem- se com o passar das gerações.
Quais foram as principais obras de Machado de Assis?
O Bruxo do Cosme Velho, como também era chamado Machado de Assis, tem uma obra literária ampla. Alguns de seus livros, inclusive, não foram publicados ou não receberam edições posteriores à sua morte.
A lista das principais obras de Machado é composta majoritariamente pelos romances realistas e românticos do autor, com exceção de “Mão do Galo” (1893), um livro de contos:
- “Dom Casmurro” (1899);
- “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881);
- “Quincas Borba” (1891);
- “Helena” (1876);
- “O Alienista” (1882);
- “Esaú e Jacó” (1904);
- “Missa do Galo” (1893);
- “A Cartomante” (1884);
- “A Mão e a Luva” (1874);
- “Memorial de Aires” (1908).
“Dom Casmurro” (1899), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) e “Quincas Borba” (1891) são a tríade do realismo brasileiro, romances marcados principalmente pela ironia e pelo pessimismo. São os responsáveis pelo que ficou conhecido como o “Estilo Machadiano”.
Qual é o legado de Machado de Assis?
O legado de Machado de Assis está relacionado ao seu estilo de escrita, à sua trajetória biográfica e, mais recentemente, à sua repercussão fora do Brasil.
Em rankings nacionais e internacionais sobre os melhores escritores brasileiros, o nome de Machado de Assis está quase sempre em primeiro lugar. Uma das razões pelas quais isso acontece é porque o legado da obra de Machado tem se renovado com o tempo.
Em primeiro lugar, há estudos que demonstram que o Estilo Machadiano é fruto da tentativa de Machado em retratar um Brasil do século 19 que unia, ao mesmo tempo, um sistema escravocrata com as ideias iluministas de liberdade.
Sua escrita elegante, engraçada e polissêmica pode ser interpretada à luz da tentativa de uma realidade tão contraditória e particular como a brasileira.
Outro legado de Machado de Assis tem a ver com sua trajetória biográfica. Machado foi um homem negro, gago, epilético e de família humilde, nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro. Apesar das barreiras, tornou-se um dos maiores escritores brasileiros.
Se já não bastasse tudo isso para admirarmos Machado de Assis, vemos que o autor têm levantado altos voos na literatura mundial, sendo visto como um escritor sul-americano que realizou inovações literárias muito antes de grandes autores europeus do século 20.
Em três dias de lançamento, a edição norte-americana de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em inglês, foi esgotada na Amazon e em livrarias dos Estados Unidos. O nome de Machado se insere aos poucos no cânone da literatura mundial.
O que é o Estilo Machadiano?
As principais características de Machado de Assis são:
- diálogos diretos com o leitor;
- uso do humor como um recurso estilístico;
- digressões longas;
- linguagem coloquial;
- frases curtas e incisivas;
- perfeição gramatical;
- intertextualidade com outros textos.
Continue a leitura para entender como você pode levar algumas dessas características do estilo machadiano para o copywriting e outras modalidades de escrita.
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Como se inspirar no Estilo Machadiano? 3 lições para o seu texto!
É uma tarefa difícil extrair apenas 3 lições de um autor enciclopédico como Machado de Assis. Na lista que separamos abaixo, tomamos cuidado para não cairmos em generalizações e simplificações da obra do Bruxo.
Muitas vezes, trazemos referências externas para demonstrar que as nossas dicas são apenas a ponta de um grande iceberg.
Dito isso, as três lições se baseiam em aspectos gerais do Estilo Machadiano. Aproveite as dicas e busque entender como elas podem se adaptar à sua maneira de escrever.
1. Preze pela simplicidade
O Estilo Machadiano é marcado por frases simples. Longe de apresentar um excesso de termos complexos, a obra machadiana se aproxima da maneira como as pessoas falavam.
É o que diz o professor de literatura comparada João Cezar de Castro Rocha, em entrevista publicada no Instituto Claro:
Em termos de estilo, podemos dizer que foi um autor coloquial. Usava uma estrutura de frase minimalista, com sujeito, verbo e predicado.
Na língua portuguesa, as frases normalmente seguem a ordem SVC: sujeito + verbo + complemento. Essa “fórmula” é de grande auxílio para expor ideias com coesão e coerência.
A ordem SVC também ajuda a evitar o fenômeno do paralelismo, que acontece quando as frases estão gramaticalmente corretas, mas ainda apresentam algum nível de incoerência.
Na produção de conteúdo par web, escrever materiais como blogposts e e-books com frases na ordem SVC ajuda a tornar as ideias legíveis para um público amplo. A fórmula, nesse caso, torna-se uma peça estratégica para ser usada com as técnicas de redação para SEO.
2. Vá à padaria, não à loja
A maioria dos romances e contos de Machado de Assis está inserida em uma tradição literária conhecida pelo perfeccionismo e pela concisão da linguagem: o realismo.
O escritor francês Gustave Flaubert, que, com certeza, estava nas leituras de Machado de Assis, tem uma frase que resume o forte apelo à concisão do realismo: “le mot juste“, que podemos traduzir para o português como a palavra exata.
O desafio dos escritores, para Flaubert, é encontrar a palavra exata capaz de descrever o mundo, as emoções e sensações da maneira como são de verdade. Machado, como um autor realista, levou essa lição a sério. Nas suas próprias palavras:
“Tenha a coragem de cortar. Caso algumas lindas frases não acrescentem nada de novo ao que você está tentando dizer, corte-as sem perdão!”
Então, siga Machado e Flaubert e escolha as palavras mais precisas. Não tenha medo de deixar no texto apenas aquilo que mais importa para o leitor. Não hesite em pesquisar o termo que melhor descreve o que você está querendo dizer.
Veja, por exemplo, a palavra “loja”. Uma loja pode ser um supermercado, uma padaria ou qualquer outro estabelecimento comercial. Em vez de usar esse termo, prefira a precisão. Vá ao supermercado, não à loja. Vá à padaria, não à loja.
3. Utilize a ironia a favor do seu texto
A ironia é uma forma de expressão caracterizada por dizer o contrário daquilo que se que dizer. É o uso de palavras para expressar significados que geralmente elas não tinham.
Nos romances de Machado de Assis, a ironia é um elemento permanente. Machado encontrou na ironia a linguagem para retratar uma sociedade cheia de contradições.
Seus personagens são, na maioria dos seus romances, membros da alta sociedade brasileira que são retratados sem nenhum escrúpulo.
A ironia machadiana, ao mesmo tempo que nos faz rir, nos ensina e nos faz pensar sobre os problemas da sociedade. Esse humor refinado se tornou um dos aspectos do Estilo Machadiano que mais merece atenção de todos nós que gostamos de escrever.
Usar a ironia demonstra uma maturidade no ato da escrita. Ela indica que o escritor foi além do básico para deixar a leitura mais leve e agradável.
Se você quer um exemplo na prática de ironia e humor refinado, fica como sugestão a leitura de “O Guia do Marketeiro das Galáxias“.
Nesse guia, publicado no blog da Rock Content, André Mousinho utiliza o vocabulário e a estrutura do livro de ficção científica “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams, para escrever sobre Inbound Marketing.
É um bom exemplo de ironia. Enquanto Machado surpreendeu com um livro de memórias que narra as memórias de um defunto em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, André Mousinho utilizou a ficção científica para escrever um artigo sobre Inbound Marketing.
Chegamos ao final do nosso artigo sobre o Estilo Machadiano e as lições que o Machado de Assis pode nos dar sobre escrever e conquistar os leitores. Além de ser uma oportunidade de se divertir com o maior escritor brasileiro, ler Machado é uma chance de aprender.
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